domingo, 30 de outubro de 2011

dos meus mistérios...

Drummond dizia: “Sejamos pornográficos, docemente pornográficos”.


Gostava de estar ali, deitada rente ao teu corpo, quando há aquele momento mágico, quase imperceptível, que antecede o toque : é o desejo, a eletricidade. É o instante em que só te imagino, onde tomo fôlego, umedeço... depois, depois quero todos os teus “nãos” em mim, porque é neles que tens ritmo, na fluidez das tuas dúvidas, no derreter das tuas renúncias...

É no revés que construo nosso gozo, nessa entrega em que tudo fica desmedidamente vulnerável.
Então me rendo. Sempre fui mesmo uma péssima fugitiva.
É... tenho meus mistérios.
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sábado, 29 de outubro de 2011

ainda vou te amar...

Escorrego as mãos por mim, percorrendo os caminhos que suponho que vá trilhar. Deslizo-as no sentido contrário aos pêlos, é assim que arrepio. E falta-me o ar... falta-me desde o baixo ventre. Experimento meu corpo, toco suavemente a pele, fico mais densa, me liquefaço... Tento imaginar se é assim que caminharias por mim.

Sinto tremer as pernas e fecho os olhos. É como se assim eu pudesse te trazer para perto, mais ainda... para dentro.
Como se eu pudesse sentir a proximidade dos teus olhos, da tua boca, da tua pele.
E quando teu corpo inteiro estivesse em mim, lá dentro veria acender um candeeiro anunciando que amo todas as tuas delicadezas... mas que naquele instante queria mesmo era o peso das tuas mãos em mim. Firme e viril.

É que preciso.
Porque depois do sexo, ainda vou te amar.
Porque depois do sexo, sei que vou te desejar outra vez...
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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

para você, minha Bebela

Quero que saiba sobre o amor, filha.
E saiba não só por ter me ouvido falar. Quero que o perceba, que apure sua alma, que ele esteja em nossas conversas, no nosso silêncio, no entorno, ao redor... no ar que você respira, e nos horizontes que você vê.

Porque quando de verdade, o amor escapa pelos olhos.
E nos dá a chance de um recomeço, sempre, a despeito de nossas escolhas enviesadas.
O amor é assim: aliado da coragem.
Duplica, triplica, e só faz aumentar a vida da gente...
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

do que devia ser perene...

O céu perdia os últimos azuis, e a menina tinha um sonho esperando por ela. Um sonho que queria muito ser sonhado.
Foi dormir com pressa, mas a noite preguiçosa não queria chegar.

Ela tinha descoberto o amor, e precisava aprender como vivê-lo.
Era uma urgência bonita aquela, a de querer sonhar para alcançar.
E, talvez por isso, ela enfim se distraiu... e então aconteceu.
A menina teve uma noite voadora de tolices lindas, como deve ser o amor. Um vento soprando dentro dela, e horas longas nas margens do menino de olhos d’água.

Acordou pensando em quanto tempo poderia durar o agora...
Não sabia.
Mas torcia muito para que fosse parecido com um rio perene...
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domingo, 23 de outubro de 2011

de quando nasce uma alegria...

Um vento do norte desmanchou a pilha de papéis sobre a mesa.
E a menina, sem papéis e sem certezas, sentiu, a despeito da confusão instalada, uma alegria.
Uma alegria mais vasta.
A mesa bagunçada era a certeza do que não era mais fundamental.

No lugar onde antes estavam os papéis, ela pôs um vaso.
Uma única flor. Era ela. Ela florescendo mais uma vez.
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sábado, 22 de outubro de 2011

do que alterna em mim...

Alterno entre o encantamento e o desejo.
É que não sei fazer poesia quando faço amor.
E o que eram linhas lindas falando da tua imensidão, agora são só rabiscos.

Sinto como se teus braços circundassem minhas pernas, e perco o equilíbrio.
Agora o corpo já não me comporta, tonto, entre tantas febres e frios.
O coração bate forte, mergulhado na esperança de dias infinitos de você. E me engana.
Do nada volta a bater manso, como se dissesse o teu nome.

Alterno entre o acolhimento e a lascívia.
É que nas vezes em que passa tuas mãos entre minhas coxas,
derreto o verbo e o que era tão consistente se desfaz.
É... minhas palavras dissolvem diante de ti...
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

prefiro assim...

Às vezes é melhor que as coisas não sejam perfeitas.
Pelo menos assim você sabe que elas são de verdade.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

estou fora de moda...

Acho que perdi o jeito. Estou fora de moda.

Entendia mais o mundo quando namorar vinha depois daquele período doce chamado conquista. A atmosfera era de encantamento e os lábios tão cheios de beijos. A gente falava macio e se experimentava no outro, com delicadeza... mordíamos os lábios entre a timidez e o desejo... e sabíamos nos derreter no olhar do outro.
É claro que tínhamos mãos sacanas, a pele quente e um mundo inteiro de vertigens. Mas era mais do que só tesão e sexo seguro.

Hoje o mundo aí fora é tão cheio de poses e efeitos. Um encurtamento do prazer, um esforço para “causar”, uma pressa sei lá do quê...
Devo mesmo estar fora de moda.
É que gostava tanto de quando não éramos tão descartáveis...
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domingo, 16 de outubro de 2011

nostalgia...

"Acho que a única razão de sermos tão apegados a memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado."


Sinto saudades de antigamente, daquela menina descalça que queria entender o mundo, do olhar doce que sempre tinha sobre as pessoas, de quando, filosoficamente, confiava na importância de cada um... e tinha tantas certezas. Aquela menina nem sabia o que eram mágoas... Saudades do uniforme xadrez, das aulas de teatro, do primeiro namorado, da casa na praia, da cantina da escola... Saudades de não usar maquiagem, de não saber o preço das coisas, de não fazer nada, e de não sentir culpa.


É que hoje eu queria tanto uma paz, como aquilo que na infância pensei haver conhecido, como aquela que acho que já tive um dia...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

quem é dono de quem...

De vez em quando acho que a vida é que faz as escolhas.
Embora achemos quase sempre que somos nós.
Vivemos a ilusão de que podemos ir por outra estrada, mas não será a “outra estrada” o tal caminho que já era o nosso ?
Não sei...

De qualquer forma gosto do que sei que posso modificar. E, se posso acordar uma pessoa melhor, aumentar meu sorriso, enternecer meu olhar, melhorar minhas ausências, e clarear o que de mim é vago, posso então escolher o que fazer com o que vida me dá.
O que já está de bom tamanho.
O que já me põe na estrada outra vez...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

fantasio, fantasio, fantasio...

Eu te imagino tanto, e com tantos detalhes que já sei de cor os teus caminhos, conheço de ti cada pinta, cada ponto, cada canto.

Acendo velas e vejo as rendas que suas sombras desenham nas paredes do quarto enquanto finjo dormir só para poder te sonhar. Mais.


Tranço minhas pernas nas tuas, nuas, enquanto deslizo as mãos suadas por tuas costas, desenhando espirais. Fico tonta, é tanto...


Lambo, sopro, cheiro...


Quero mais, mas amanhece... e o sol pinta o quarto todo de cores claras. Claro, preciso acordar.


Preciso. Mas não quero...


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

nenhum ruído...

Prendi a respiração e fiquei em silêncio. Nenhum ruído.
Tudo calmo.
Sim, parece que lá dentro as coisas começaram a fazer sentido. E, o melhor, sem que eu precisasse me preparar para isso.

Não houve planejamento, intenção ou esforço.
Aconteceu. Foi simples, adulto, sereno.

E agora minhas manhãs já não são as mesmas. Acordo com uma alegria nova, um friozinho na barriga e um punhado de planos.
O tempo me atravessa, e pela primeira vez sinto-me alcançada. Ouço Vivaldi e tenho urgências, sobretudo uma : ser feliz.
Talvez o amor seja assim.
Porque onde quer que alcance minha visão, vejo a ti.



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

vontade inconformada de você...

É estranho, mas meus olhos não eram famintos.
Nem medrosos, ou tampouco tímidos.
Não que eu não te desejasse, ou que não tivesse receio de que você não me quisesse, ou ainda que eu não corasse enquanto você fitava meus olhos que tudo revelam... Mas é que sempre que te vejo quero mais do que só o instante.
Então vivo com essa vontade inconformada de você.
E em cada curva dessa história tenho a impressão de que vou mais só... embora sinta que só eu sei derreter tua neve...

Acho que é por isso que te espero.
E enquanto esse tempo não chega, sigo caminhando.
Sigo porque todo amor é caminho.
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domingo, 2 de outubro de 2011

do outro lado do rio...

Eu tinha cada gesto calculado. Mentalmente tinha deixado aquela casa uma porção de vezes. Sabia de cor os caminhos que percorreria pela última vez, as coisas que iriam comigo, e até cada canto meu que iria doer.
Porque de vez em quando a gente parte para sempre.
De vez em quando é preciso.

Hoje sou um pouco também do que não tive.
Sou um pouco também do que perdi.

Sinto-me incrivelmente cansada, mas em paz.
As mágoas ?
Deixei do outro lado do rio.
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