Tanta gente pela casa, música
alta, uma luz avermelhada atravessando a névoa fina, as sombras nas paredes,
velas pelo chão, vinho, taças... levou um tempo até que eu o visse. Camiseta
branca, calça preta, cabelo despenteado, e aquele ar sério que sempre destoava
do resto. Ele nunca estava totalmente integrado a lugar algum, sempre um pouco ‘ausente’,
sempre um pouco forasteiro. Mas naquela noite a festa era dele. A casa era
dele. As coisas deviam ser diferentes.
Eu sabia que ele, de alguma
forma, estava me esperando. Então, sem pensar muito puxei suas mãos,
deixando-o sem tempo pra reagir. Ergueu as sobrancelhas e sorriu gostoso.
Fugimos dali.
Na escada para o andar de cima
senti que as mãos dele impunham-se sobre mim, puxavam minha roupa e meu cabelo. Nem bem
subimos e eu já estava presa entre as suas pernas, ali, no chão da sala íntima, sem
porta, sem nada. A respiração dele, na minha nuca, desencadeou um desejo mais
instintivo, menos estudado. Era sempre assim que povoávamos nossas histórias,
com esses desejos fora de lugar.
Os corpos suados, misturados,
mas foi a música bonita que me levou para o colo dele, que então mordeu meu
queixo e depois me beijou. Ficamos assim, com os lábios colados.
Cinco minutos. Dez. Vinte. Mais.
Beijar era mais íntimo do que
todo o resto.
E ele sabe, nunca, nunca resisto
a um beijo.
Tantas pessoas pela casa, e a
gente ali.
Fazendo outra festa.
Solange Maia