Em outros, um raio de sol refletindo poeira é sinal de que a casa precisa de limpeza. Afeto em lugares públicos é inconveniente ou inoportuno. Luzinhas de Natal são feitas para enfeitar dezembro, fora deste contexto destoam dos ambientes. Quem canta no chuveiro não respeita o resto dos moradores. Bolos que desabam são feitos por quem não sabe cozinhar.
Toda moeda tem duas faces, eu sei. Toda história tem seu revés.
Não existe o certo ou o errado, também sei. Mas suspeito que anda faltando poesia no mundo.
Pior que isso, anda faltando alegria.
Respeito as escolhas que incluem outros substantivos que não a alegria: a reticência, a quietude, o desinteresse, a circunspeção e a indiferença.
Respeito sim, respeito até as ausências.
Mas comigo não funciona. Não posso permitir que alegrias escapem.
Já estive em lugares muito escuros e sei que elas são faróis.
Minha alegria é conquistada, encho a boca para dizer.
Levo a sério. Fruto de uma insistência amorosa, da minha paixão pela vida e de um descaso imensa pela rigidez.
Uma benção que aprendi no susto. E que não se ensina.
Meu patrimônio.
Tem horas que, claro, sinto um desabar, uma desistência e confesso: flerto com o cansaço.
Mas nunca, nunca me relaciono com a ausência de alegrias.
Não quero.
Posso até decepcionar quem acha que alegria em demasia é esconderijo de dor, ou quem espera por olhares mais contidos e gestos mais “maduros”, eu sei.
Não ligo. Seguirei sentindo alegrias. Sem mágoa alguma por quem não o faz.
Só um lamento.
E uma torcida secreta para que, quem sabe um dia, por sorte ou descuido, sejam surpreendidos por um abraço apertado, inesperado e emocionado. Alegria é assim, não tem orgulho, é disponível.
Basta querer servir-se.