sábado, 16 de junho de 2018

do que potencializa a vida...

Gosto de escrever a noite quando as palavras são só vultos e não podem ser maiores que os gestos.
Foram tantas conversas boas, tantas histórias, tanta partilha, mas ando numa fase que é o não dito que alcança minha alma, que conversa comigo: o macarrão quente perfumando a mesa, o arroz tão branco, posto nas duas extremidades, comunicando que a todos serve, a casa coloridinha de ternura, os olhares, as pausas, as risadas e todas aquelas temperaturas... 
Falamos da vida, das nossas experiências, de como as coisas nos tocam. Fomos das profundezas ao riso em segundos, voltamos ao fundo e à superfície outras tantas vezes. 
A velocidade interna e a externa, por vezes, entrava em descompasso e a gente se desequilibrava, mas não caia. Naquela tarde tudo era amparado pelos afetos, pelo colo vindo em forma de riso, por outras conversas que se sobrepunham e por um acolhimento que se precisa tanto, mas que, de tão escasso, a gente se esquece.
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Com eles acontece de não nos protegermos. De nada. A gente fica tão legítimo que as emoções não permanecem retidas em nenhum filtro da razão ou da lógica. Tudo flui: leve, engraçado, honesto, humano.
Aprendo, acolho e guardo.
E a semana vai me devolvendo, devagarzinho, cada coisa aprendida, com novas cores e novos sentires. Em câmera lenta recebo esse presente silencioso que vai me tornando um ser humano melhor. Agradeço.
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Penso que tardes assim deviam ser embrulhadas em laços de fita e oferecidas de presente a tanta gente que anda perdendo a esperança nas pessoas, deviam virar música num coral de crianças que sensibiliza adultos com tanta facilidade, deviam fazer parte de biografias de gente que a gente admira e que consegue ser feliz nas simplicidades. Tardes assim vão nos devolvendo a fé.
A vida pode ser dolorida em muitas circunstâncias, eu sei, mas nego-me, veementemente, a viver com o coração amortecido.
Aprendi ontem que o universo sempre diz sim. Seja qual for o nosso pensamento. Nada nos é negado, e, por isso mesmo, devemos estar atentos ao nosso desejar.
Mais um motivo para querer repetir dias assim. 
São eles que salvam o mundo. 
É o amor que sempre, sempre, sempre potencializa a vida.
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Solange Maia

domingo, 3 de junho de 2018

da minha herança...

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A água quente corre pelas minhas costas me fazendo um bem danado.
Tento só sentir. Um rio vertical se forma, paralelo à minha vontade.
É lindo ver como qualquer correnteza faz com que as águas nunca sejam as mesmas.
Assim como nenhum ser vivo é o mesmo que em dias anteriores.
Eu não sou a mesma de antes.
Esses flagelos que ainda ontem não eram meus, confirmam isso.
Asperezas revogam sem piedade algumas crenças que me faziam bem.
Mas milagrosamente ainda acho muitas coisas bonitas. Até aquelas que ninguém entende.
Ainda acho muitos motivos para sorrir. Até onde ninguém acha que é possível.

E sigo. Mesmo que algumas vezes aos tropeços.
Acreditando mais do que nunca nos afagos e nas ternuras.
Só assim acho a vida possível.
Só assim topo continuar na estrada.
Não abandono a fé, e rezo.
Peço a Deus por preservação.
Peço que me proteja da apatia e da indiferença.
Em mim, sentimentos assim causam absoluta estranheza.
Peço por meus amores: que sejam resguardados.

Herdei quase nada de terrestre, embora me sinta muito afortunada.
Minha herança é medida em coragens e em alegrias.
Meus prazeres são tão intensos quanto minhas lágrimas: de tão inteiros não se sustentam nas pálpebras.
Então sinto e verto, sem filtros.

A água ainda correndo por minhas costas me faz lembrar da lendária rosa de Jericó: a flor da ressurreição.
Ela murcha, para depois, na água, tornar a florescer.
Fico me sentindo um pouco a rosa: é que sei nascer de novo.
Quantas vezes forem necessárias.