Foi a conversa no meio da tarde que exigiu da menina muita coragem. Coragem interna, dessas que a gente precisa ter com a gente mesmo.
Porque era sempre a mesma coisa na hora de falar do pai: ficava em silêncio. Não conseguia.
Um silêncio que guardava uma dor antiga, sabíamos.
E não era só pelo vazio físico, nem por aquela imensa ausência emocional, mas porque as pessoas desistem do que dói. E ela ficava aflita com isso.
Teve uma hora em que o distanciamento que era tão secretamente temido passou a ser desejado.
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Lembro-me de uma frase do Marcos Bulhões que dizia que “às vezes matamos o amor, mas em legítima defesa”.
Pois é.
Ela jamais desistiu do amor, era feita de afetos e de doçura. Desistiu foi de mantê-lo onde não era cuidado.
Fez bem.
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A figura do pai ausente acabou sendo a coisa mais presente que ele deixou.
Mas uma coisa é certa: ninguém escapa de olhar para trás e ver as escolhas que fez.
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A menina queria sim ter tido o pai deste desenho, mas tinha um tesouro ainda maior: olhava pra trás e podia sorrir ao ver as escolhas que fez.
Podia dormir em paz.
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