
Tenho certeza que trago no corpo todos os caminhos por mim percorridos.
Vejo as marcas.
E o que me intriga é sentir que parecem passar despercebidas.
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É que às vezes ninguém desconfia das nossas dores...
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e vejo nas paredes as sombras tecendo rendas,
e o fogo com seus caprichos aquecendo o espaço.
Começo a soprar devagarzinho tuas costas,
é ali que incendeio nossos amores.
Uma gota de cera quente cai e copia tuas formas.
Da sua pele sempre nascem esses momentos sinuados
e esse calor que fica decalcado em mim,
queimando minha pele e meus desejos.
Lambo teus contornos, suo, flutuo.
De você nunca quero só metade...
é que quando desse amor, prá mim qualquer tempo sempre é pouco.
Amanhece e vou embora.
Mas deixo-te um tanto de mim.
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- desce...
Saí do carro imaginando o que viria a seguir. Aquela era uma avenida movimentada, e que tipo de coisa afinal teria que acontecer fora do carro e no meio de uma grande avenida ?
Mas ele pouco se importou com minha momentânea confusão. Desceu também. Deixou as portas abertas e pude ouvir o ar sendo tomado por aquela música linda e alta. Confesso que, por alguns instantes, quase me esqueci de onde estava. Mas logo quis saber :
- o quê é isso ?
- shhh... não perca tempo agora tentando entender, apenas venha
..aqui. Não posso esperar. Preciso dançar essa música com você.
..E preciso urgentemente...
Ele disse essas palavras enquanto caminhou até mim. E, sem querer que fosse desperdiçado um segundo sequer, puxou meu corpo junto ao dele. Boquiaberta, e absolutamente encantada, cedi. Minha alma também queria viver aquele momento.
Começamos a dançar. Uma única canção.
Como se não existisse nada ao nosso redor. Ignorando o fato de estarmos em plena rua, expostos, quase ridículos, num final de tarde caótico.
Acho que foi um dos momentos mais bonitos que já vivi.
E, nunca mais dancei assim.
mas as faria de novo, me conheço.
talvez os caminhos pudessem ter sido outros,
talvez menos densos, talvez mais refletidos.
tantos enganos, tantos equívocos.
porque muitas vezes continuei embora devesse ter parado,
porque mantive mágoas transversais na garganta,
e fiz um esforço desumano para tentar a indiferença diante do que me consumia.
não sei se por cansaço ou por desprovimento.
e hoje não sei como ponderar o preço das escolhas.
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é que em mim é sempre muito difícil esquecer o que podia ter sido.
é que fui feita para acreditar.
e, sinceramente, procuro algo que me leve adiante,
e não de volta.
Digo sempre : é atemporal !
Sempre me acolheu, sem julgamentos, apenas abrindo os braços e dizendo : - Venha !
Dela nunca tive bolos de fubá ou casaquinhos de crochê, mas fui alimentada de liberdades e vestida de coragens.
Obrigada Vó...
E isso só faz acender ainda mais a vida que há dentro dela.
que o mundo ainda lhe é estrada,
e que foi de coragens que foram feitos seus caminhos.
Canta a vida em rimas e versos.
Colore os dias com seus pincéis, seus segredos, e seus poemas.
Contemporânea, permanente, e absolutamente feminina.
Quando com ela, sempre pertenço a algum lugar.
Mescla suas falas aos silêncios...
é seu jeito de carregar as lembranças.
Sopram as velas, e só vejo uma menina...
Uma menina de 90 anos !
Hoje cedo ganhei um texto que define a mulher ariana, e, se minha personalidade tem uma explicação astral, ou se é só uma coincidência, não sei... mas que essa aí debaixo sou eu todinha, ah... isso eu garanto !!! ...
Mulher de entusiasmo, de coragem, de energia e de amor.
Intuitiva, mescla lógica a poesia, corpo a espírito, determinação a ousadia.
Justa, externa sua opinião, onde quer que seja, e em voz alta.
Comoventemente sincera, nada têm de oculto ou complicado.
Jamais indefesa, é dona de notável autoconfiança e de uma vontade férrea de se levantar a cada queda.
Nada mantém a ariana abatida, e nunca admite uma fraqueza.
Otimista incurável, não sucumbe.
Não aceita tons intermediários : nada de morno, nada de gente só boazinha...
Desprendida, sem preconceitos, pronta para jantar com reis ou com mendigos, afinal, ninguém é melhor do que ninguém.
Gosta de oposição e nutre-se dos desafios.
Suas tempestades transformam-se em arco-íris logo depois de cada aborrecimento. E uma ariana enfurecida merece o máximo de distância, pelo menos por um instante.
Pode envolver você com uma paixão ardente num minuto, e ser tão fria quanto um urso polar no minuto seguinte.
Ama tal qual fala: diretamente, mas pode passar melhor sem um homem do que qualquer outra mulher, mesmo desejando sempre aquele herói...
Decide sua vida, vive com independência. E para amar, precisa de alguém que admire sinceramente e muito, muito mesmo.
Não tem medo de intenções apaixonadas, não foge às respostas, mas nada de parceiros fracos e sem atitudes.
Ama um único homem; pelo menos de cada vez.
Orgulhosa, não admite recusa de amor. Fiel, não admite tapeações.
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Quando eu estiver milionária é aqui que vou morar.
Porque quando a gente enriquece de verdade se vê abandonada de tantas ambições, e preenchida de outras tantas e simples riquezas.
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Vou deixar de lado os amores ideais, e querer mesmo é teu corpo decalcado ao meu, numa cama pequena, onde nossos afetos caibam justos, sem espaços para tantos devaneios e rococós.
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Vai haver café cheiroso e cadeirinhas fincadas na terra.
É que às vezes vou querer que toda gente caiba lá no meu quintal, que será todo areia e mar, feito só para receber, e para afagos num entardecer de ventos.
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Serão desses dias de abrir os braços, soltar as rédeas, e mudar as crenças.
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Poucas certezas, e uma promessa :
os pés descalços, sempre no chão,
e a cabeça leve, sempre no céu !
Porque quando entristeço lembro que tenho você,
que a lua está inteira lá fora,
que conosco os afetos não ficam guardados,
e que sempre tem música tocando lá dentro do peito da gente.
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É que de vez em quando vejo morrer algumas alegrias.
Vejo que se torna cada vez mais difícil encontrar alguma coisa que encante a ela como antes. E esse endurecer ainda me choca.
Você é pequena, ainda não vê.
Ou será que não vê porque, diferente de você, só sou fada nas horas vagas. Você, que é fada tempo integral, que tem alma de canela doce e cheiro de capim, só sabe ver o amor...
pode mostrar alegrias que sempre estiveram ali,
algumas delas morando no fundo do peito,
outras dançando nos ventos dos quintais...
Porque acreditar é (vi)ver sob outro prisma,
é a nova perspectiva das velhas crenças,
é permitir que os olhos vejam, no lugar dos galhos secos, uma linda árvore... e no lugar dos frutos, delicados ovos de páscoa !
Hoje estar assim - acreditando - é essencial.
Afinal, nunca se repete o mesmo dia.
desses que ficam grisalhos,
de histórias divididas e afetos desmedidos.
Queria o gosto da constância,
um pouco de rotina e o charme do tempo.
Gosto das marcas, dos vincos e da pele,
que mesmo sem o viço de ontem
é tão mais habitada, tão mais real.
Porque amor se aprende com o tempo,
no limite das renúncias,
no abandono das horas...
Já fui sim menina-caipira.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose.
E eu fazia poesia.
Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos.
Cuido para que não sejam só memórias...
Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta.
Hoje são só deslumbramento...
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.”
- A.Cícero -
E, como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...