domingo, 31 de janeiro de 2010

Vou me despindo...

Não faço parte das estatísticas. Estou sempre um pouco fora do que se conta por aí. Também, nunca quis essa vida embalada para presente, preferi a versão da verdade, a mais palatável, a que só se conhece vivendo, se expondo, e sentindo.

E não me venham com soluções sob medida, não acredito nessas matemáticas. Pra mim a vida é curvilínea, plural, interminável.

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Geniosa. Intensa. Clara. Nunca escondi meus sonhos, nem os mais atrevidos, porque sou dona de uma ousadia que me põe em pé toda manhã, desde menina.

Choro e recomeço, sempre que preciso. Ainda acredito na redenção pelas lágrimas, porque gente para mim só é de verdade se sabe verter.

Gosto dos que não recuam, dos que se emocionam, dos que tem vocação para viver com a alma inteira.

Sou forte. Mas sei ser toda abrigo, sei cuidar, amar e ouvir.

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Crescer, para mim, é ir me despindo,

e hoje minha nudez são as palavras.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Rendição

Prefiro os amores afetuosos.

Desses que faltam o ar, que acumulam, que seguram com as duas mãos, para nada faltar.


Porque para me sentir povoada de alguém, preciso do encantamento.

E se não quiseres me alcançar com todo o tato, assim, me segurando firme, como se fosse só o que restasse, prefiro então, permanecer faminta.

Se for me tocar, toque-me, mas faça como quem manuseia as contas de um japamala
, com suas mãos em devoção, percorrendo-me quantas vezes desejar, fazendo da minha pele o rosário por onde deslizam teus arrojos.

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Porque sou mulher, e me ganhar é muito mais fácil do que imagina.

Sinto-me absolutamente rendida diante de um carinho bom.


domingo, 24 de janeiro de 2010

e agora sinto falta

Um dia escolhi esse amor sereno,

de terrenos planos e passos seguros.

Por aqui os dias passam tranqüilos,

sem febres ou paixões, ímpetos ou exaltações.


De felicidades delicadas e pés no chão.

Uma história sem grandes sobressaltos,

que vale em cada abraço e em cada fruto.

Cumplicidade de longa data e de muita construção.


Mas a paz, que reina nesse lado do amor,

desenha seus caprichos entre espaços e silêncios,

e : sim, sou mulher de febres.

Tenho tudo isso,

e agora sinto falta dos meus vulcões.

domingo, 17 de janeiro de 2010

do que não tenho...

Gosto do que não tenho.

Bastam-me os velhos linhos,

Copos de todas as cores,

E os mesmos amores.

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Gosto do que não sou.

Porque já fui muitas mulheres

Mas hoje sou só brisa leve, aquarela, e mansidão.

Ando tão desacelerada.

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Gosto dos lugares que não conheço.

De ruelas entortadas e semi luzes,

Onde sei que vamos ser, dia desses,

De almas entrelaçadas e mãos dadas.

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Gosto do que me falta.

Principalmente disso.

Porque é dessa sede que nunca passa,

Que nasce em mim o desejo ardente de procurar.

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Gosto porque são os meus nãos que me dão a exata medida do que sou.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Transitoriedade

De vez em quando preciso sair de onde estou.

Preciso mudar o compasso, os ares, a paisagem.

Porque sair do eixo me faz criativa,

Me dá a perspectiva do desconhecido, a medida de outras verdades.

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O silêncio tem sido confortável.

Põe-me a tatear importâncias que deixei escapar no tempo.

E não tenho hora. Sou o momento, duro quanto quero.

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Quando estou assim, retirante de mim, percebo minha transitoriedade.

Quero estender o agora, ampliar o que for possível, hiperdimensionar o tempo.

Nesses dias acredito tanto em liberdade...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ausência

Hoje olho prá trás e já não sei mais se era aquilo mesmo, ademais, ninguém disse que seria fácil.
Mas sempre achei que tinha deixado um amor pronto prá nós,
desses que teriam sido construídos devagarzinho,
que multiplicariam, que fariam da cama a mesa.

Se ao menos pudéssemos voltar atrás, ao que éramos.
Porque nem sei, mas acho que um dia já fomos metades.
E lamento muito por termos perdido o bom vento,
Por termos sido arrastados pela ventania fria que não soubemos deter.

Perdoe-me, é que às vezes acordo com tanta saudade,
que pediria até prá você voltar a sonhar.
Vamos, conte-me tudo outra vez, tua vida inteira, desde o começo.

Vale tentar... pela vontade que tínhamos de mudar o mundo,
e pelo saldo, sempre positivo, que resta de nós.

É... não sei se devo.
Já esqueci outras histórias antes.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

para estreitar minhas margens...

De vez em quando penso no rio que me atravessa.

Penso, sobretudo quando quero estreitar minhas margens,

Por que de um lado faz sombra, e o que vejo são cautelas e pudores,

E do outro queimo em regozijos e excessos.


Mas gosto de mim quando se fundem minhas águas,

quando inundo, quando transbordo.

Gosto quando aglutino, e posso então transitar com intimidade entre meus sentires.

Por que o que me divide: subtrai.

E quero estar inteira...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Nasce um livro...

Primeira página pronta.
Finalmente quebro meus silêncios, declaro meus medos, rompo minhas represas.
Como um presente bom, dado pelo avesso, para você, ou para mim.
Por que não quero mais esse nó na garganta,
Não quero mais esses desertos...

As primeiras palavras surgem dessa vertente inevitável que é o amor.
E escrevo pela rendição de todos os amores interrompidos, por todas as palavras não ditas, pelos parênteses, pelo que deixamos perdido no tempo, nas frestas, nas ausências.
Escrevo por esse intervalo de duração efêmera,
Que de tão volátil foi preciso senti-lo, para não perdê-lo.

Por que quero que fique guardado além dos meus pensamentos.
Quero que deixe de ser só saudades...
E que você me leia.
Escrevo então, para ser alcançada.