domingo, 31 de março de 2013

sexo... ou chocolate ?

O chocolate sobre a cama restabelece o vinculo e propõe pequenos pecados. Desembrulho lentamente um por um. Tiro delicadamente o alumínio que os envolve. Cuido para que não derretam ao toque demorado dos meus dedos.

Hesito, mas coloco na tua boca um pedacinho de cada vez... Sei que este é o instante em que te desestabilizo, sei que assim faço acordar consciências adormecidas, é quando sinto exalar dos teus poros tantos desejos, tantos mistérios.
Você já nem sabe disfarçar, 
tua boca produz um dilúvio interno.
E o que era esse apetite escondido, fica agora ali, esparramado, declarado, sobre o colchão...

Lambo teus lábios adoçados, e minha voz adota um viés quente e sedutor...
Faço isso só pra te dizer que agora eu sei.
Sei o sabor do teu sabor.

sábado, 30 de março de 2013

dos rapsodos...

Dizem que uma grande história começa sempre com um bom silêncio... e os rapsodos sabem usá-lo... mais até do que as próprias palavras.
Eles, antes de tudo, escutam e acolhem. 
Todo rapsodo põe a mão em concha no ouvido, assim, virada para trás, é como fazem para escutar o que a história tem para lhes dizer.

São tecelões que conhecem o murmúrio secular, desenrolam o novelo mágico das tradições e fiam diante dos ouvintes extasiados suas palavras de luz. São bordadores de sentimentos que acendem na gente caminhos sagrados.
Bordam os pontos e os nós com a linha da imaginação, e, como nos tapetes persas, em suas histórias sempre há um pequeno erro, um minúsculo defeito, pois a beleza do ‘contar’ se esconde justamente nas frestas desse mundo imperfeito.

O contador é um costureiro que tece mandalas com luzinhas de Natal. Engendra palavras tão naturais que é como se falasse da infância da gente, mesmo que fale de tempos remotos e desconhecidos. E, se lhe faltar verdade, pouco importa, não lhe falta beleza. E, neste caso, a beleza tem mais direitos do que a verdade, assim como o Ilíada é mais importante que a Guerra de Troia, e Helena é mais do que um nome, é um imortal sinônimo de beleza. São histórias que se tornaram mais importantes do que o fato em si.

Uma boa história é livre de margens, é feita de camadas superpostas, sucessivas... densas de encantamento. É menos literal, mais intuitiva. Flui, acontece. Voa por esse universo quase onírico, levando as palavras por onde elas bem entendem...


sábado, 23 de março de 2013

menino para sempre...


A vida não mente.
É a gente que nunca se acostuma com isso.
Em cada pequeno instante, a lição é a mesma, repetida : há que se aprender a ‘desgarrar’.
Mas hoje não.
Hoje sinto uma falta robusta e esmagadoramente real,
uma fisgada de dor, uma saudade de pedra.
Hoje não há saídas, não há respostas.

Há só o teu sorriso imenso, que, por sorte ou privilégio, não parte nunca da minha retina.
Então retomo o fôlego, e lembro que viver é isso, um hiato no tempo.
Existir não. Existir é outra coisa.
E você sabe disso.

Eu diria em teu ouvido :
- A morte é inexplicável.
Você certamente responderia :
- A vida também.

em memória de Alessandro Fabrício Nicolau, que nos deixou ontem...

quinta-feira, 21 de março de 2013

fragmento e imensidão...

Ainda custo a entender a eternidade do mar.
Não sei se é porque nele vejo o presente e o passado comungando tão solidamente, ou se é simplesmente pela fantasia com que o cubro.
Só sei que diante dele, que é fragmento e imensidão, lembro-me sempre de quem sou... não do que se pode ver, mas do que é mais duradouro, muito mais honesto, do que é ancestral.

Ali, com os pés perdidos na espuma do mar, reconheço que não existem certezas, afinal, ninguém pode ser inteiramente fragmento, nem totalmente imensidão.
Abandono-me.
E Deus se faz presente.
Na concha, no céu, naquele mar muito antigo...

Pode ser só uma maneira de enxergar, 
mas diante do mar, 
vivo sempre meu milagre particular.

sexta-feira, 15 de março de 2013

falta tanta coisa...

'...não me constranjo em sentir-me alegre, 
de amar a vida assim,
por mais que ela nos minta...'
Mario de Andrade

Falta lentidão.
Falta estarmos atentos às pequenas alegrias.
Falta aquele fragmento de tempo febril em que meus olhos te devoram.

Falto eu na tua pele.
Falta coragem de desapegar do cais.
Falta concentração pra perceber cada pontinho dourado que existe num sorriso.

Falta gente que não desiste de gente.
Falta existência.
Falta amplidão.
Falta tanta coisa.

Mas sobram possibilidades.
E é por isso que amo a vida, porque todos os dias tudo pode ser diferente. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

das sutilezas...

No fundo o que eu desejo é tão simples, é ter coragem pra me dar.
Acho até que nem preciso das emblemáticas pétalas na cama, dos fogos de artifício, ou dos vinhos caros.
Preciso é da leveza profana de um lugar comum. Bem comum.
E de envolvimento.
Porque sei que sei me dar, mas anda tão difícil...

Ando tão desconfiada, tão arredia...
É que não me passam despercebidas certas sutilezas :
gosto da inteligência... não da esperteza,
aceito os enganos, não a falsidade,
entendo quem está longe, não quem está distante.

No fundo o que eu desejo é tão simples, 
mas a simplicidade (que exige tanto), por si só, 
já é bem complicada !