segunda-feira, 29 de março de 2010

das poesias que não são para serem lidas...


Finalmente rendo-me às imagens.

Quase posso ouví-las.

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Olho demoradamente para o que consegui "congelar"...

Lá estão os versos, as pausas, uma vírgula, uma rima.

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Porque tudo que me faz pulsar é poesia...

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obs.: com a câmera em punho nasceu meu primeiro poema visual... uau !

sábado, 27 de março de 2010

só você sabe me deixar nua...

Gosto quando percebo que você me quer.

Seus pequenos gestos vão me despindo no decorrer do dia.

Vou me entregando a você mesmo antes de nos encontrarmos.

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Já chego entregue, mas te provoco.

Faço cara de quem nada quer.

E aí você me pede. Suplica. Implora.

E faço cena, danço, digo não...

Até que fito teus olhos, e me desmancho.

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Começo então, a me despir prá você.

Devagar.

Esquecendo os limites da timidez e o medo dos julgamentos.

Tiro tudo.

E te sinto percorrendo os meus caminhos.

Porque é assim que posso ver as tuas certezas,

e você as margens da minha nudez.

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Quando me dispo assim,

amanheço de alma curada e de joelhos esfolados.

quarta-feira, 24 de março de 2010

a despeito dos revezes do tempo...

O dia estava no fim, mas em Paris parece que a gente nunca cansa.

Já há algumas horas no Louvre, e naquele instante na entrada do Sully, me deparo com ela : Vitória da Samotrácia.

No alto da escadaria de Darú, o lugar perfeito, pois sempre achei que ela estivesse mesmo prestes a alçar vôo.

Uma mulher alada, molhada, destruída pelos revezes do tempo, que fora fragmentada em 118 pedaços, mas estava ali, incrivelmente forte, cheia de fôlego e “vida”. Uma figura que habitava meus pensamentos desde sempre.

Fora remontada no próprio museu, mas sua cabeça parece ter se perdido para sempre.

Uma ironia.

Afinal, ela poderia ter qualquer cabeça...

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Em toda mulher há um tanto que cala.

Há também uma fragilidade e um adeus.

Mas são dos sonhos estilhaçados,

e dos avessos,

que surgem fôlego e coragem.

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Porque numa mulher,

qualquer dor legítima :

impulsiona.

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Porque numa mulher,

qualquer pouca fé:
salva.

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Porque parecer frágil,

não significa necessariamente,

ser frágil.

sábado, 20 de março de 2010

fora do foco

O dono da escola onde estou fazendo um curso de fotografia me contou, num bate papo despretensioso, que conheceu uma mulher que tinha tido uma infância muito difícil, e que guardava até certo rancor pelos tempos vividos, até que num dia triste ela perdeu a mãe.

Entre suas coisas encontrou uma velha caixa.

Abriu. Era um punhado de fotografias, amareladas pelo tempo.

Qual não foi sua surpresa ao ver ali, em suas mãos, ela mesma, uma menininha sorridente em vários momentos incríveis de sua infância... tinha um colo de pai, um entardecer na praia, um bolo de aniversário, um cachorrinho numa manhã de Natal, um abraço envolvente de sua mãe, família reunida à mesa...

Como num milagre nunca imaginado suas memórias foram clareando, sua alma foi ficando mais leve, um sorriso imenso foi tomando conta do seu rosto e da sua vida.

Ela nunca mais foi a mesma.

Tudo passou a ter novo sentido.

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É... nesta semana aprendi bastante sobre filtros, luzes, ângulos, objetivas, mas a grande lição não estava ali.

A grande lição estava fora do foco.

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Sempre soube que fotografias eram poesias.

E sempre disse que aprender, aprendo mesmo é com as pessoas...

quarta-feira, 17 de março de 2010

vertigem azul (à meia luz)

Gosto da meia luz.

As sombras sempre me fascinaram.

Quando assim, confundo o meu com o teu, os amores com os desejos, a chama com os beijos.


Quero só o tanto de claridade que me permita ver o pôr do sol nas pedras mansas.

Porque quando é assim, a gente vira só um contorno, e tudo parece tão mais real.

Sem os detalhes é que vejo mais.

Só assim enxergo-lhe inteiro.

Só assim sinto. Até o talo.


Então não posso imaginar a felicidade sem estas sombras.

Hora consistentes, e noutras absolutamente voláteis.

À meia luz o começo e o fim se fundem, como numa vertigem azul.

E, embora nem sempre definidos, são absolutamente deslumbrantes.


Como o amor, que só se aprende no abandono dos limites.

Na fronteira do outro.

segunda-feira, 15 de março de 2010

sapatos vermelhos

........... eu, com 6 anos

Essa mulher que me tornei me parece tantas vezes desconhecida.

Sei daquela Solange, daqueles tempos, das alegrias que me cabiam.

A de hoje ainda me espanta.

Mulher que inventei pra sobreviver em meio a esta tristeza suave que vivo tentando calibrar.

Porque já andei na corda bamba dos meus medos, já chorei as dores de um mundo inteiro, perdi alguns amores, a inocência, e um tanto de tempo.

Reconstruí tudo. Ou quase tudo.

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Mas quando vejo uma foto assim,

sei de uma menina que mora em mim,

e é minha redenção sabê-la ainda de sapatos vermelhos.

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domingo, 14 de março de 2010

terra e ar

Amanheço cheia de certezas.

Agradeço pela rotina boa, pelos meus, e por esse chão.

Penso até que posso ser a protagonista de um livro bom.


Logo acontece o dia, e vou abandonando minhas convicções, uma a uma.

É quase como um vento, que passa acendendo uma brasa ardente que eu já nem sabia.

O sol é alto e incendeio em minhas vontades.

Posso então, sentir os meus dois mundos.

Ali, a terra.

Lá, o ar.


Entardeço com sonhos na lapela, maiores que um girassol.

E me ponho a enfileirar novos haveres.

Nessa hora o que quero mesmo é lamber-lhe a alma.

Porque se posso supor tudo isso, já não me cabe mais o mesmo chão.


Mas a noite cai.

E sinto um calafrio que me enfraquece.

De sonhos miúdos começo a querer de novo minha rotina.

Então durmo, para que como num carrossel, eu volte aos meus.

Mais uma vez cheia de certezas.

sexta-feira, 12 de março de 2010

funciono assim

Hoje acordei querendo sua ternura.

Quero até aquela timidez (velha conhecida) que precede nosso abraço.

Preciso de afagos, de carícias que percorram lentas os meus caminhos, de mãos inteiras na minha nuca.


Não vivo sem carinhos.

Preciso-os ainda mais se forem deslizantes e englobadores.

E que me protejam.


Te quero tão próximo a mim que me confunda os olhos, e que já nem possa mais definir teus traços.

Pouco importa.

O que quero vai bem além do que os olhos vêem.

É tua mão repousada em mim.

Porque só assim paro um pouco de racionalizar.

Descanso, e então quem sabe, tiro os pés do chão.

Só assim sei me entregar.

Sou de afetos.

quarta-feira, 10 de março de 2010

agendado !

Sonho com o dia que vou dizer : então venha.
Mas não agora.
Agora estou em mim,
organizando a casa, tirando poeiras e sombras, abrindo janelas.

Porque há um tanto de coisas minhas que você não sabe,

e precisaria saber.

Só assim vão ser compreensíveis as vezes que te fugi.

E por que voltei.

E por que ainda tornei a fugir.

Sim, são coisas duras, mas ensaio dizê-las em meio ao amor.

Serão mais facilmente contadas.


E vou então, estar pronta para que você possa vir.


A gente até tenta disfarçar, mas nosso encontro está garantido há muito tempo, por nossas almas, que amam-se antes mesmo de nossos corpos terem se conhecido.

domingo, 7 de março de 2010

as ternuras de sempre

Tenho inventado outras trilhas sonoras.

Não menos minhas, só outras,

para que minha alma nunca deixe de ouvir o amor.

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E entardecendo assim, de azuis indefinidos, só penso em compartilhar esse ar, denso de notas boas e de alegrias velhas.

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Que Le Mot Soit Perle é para ser consumida devagar, em doses suaves, com pouca luz... até que se transforme numa dessas ternuras que nos derretem... para sempre.

Obs.1. Assim como quando ouvi Purple Rain pela primeira vez (1984)...

Obs.2. O Les Nubians é formado pelas irmãs Celia e Helene Faussart, versáteis e exóticas, de grande sensibilidade e pluralismo cultural, praticam a World Music misturando influências africanas e francesas, toques de jazz e R&B, com letras em francês e influências do hip-hop europeu e do novo pop africano.

sexta-feira, 5 de março de 2010

o amor de sempre...

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Dizem que a gente só ama de verdade uma vez na vida.

Uma única vez.

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De tanto ouvir que era assim que funcionava o amor, acreditei.

E agora que só te amo, o que fazer ?

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quinta-feira, 4 de março de 2010

porque também sei viver o agora

Eu diria que ainda tenho aquela calma, que ainda ser ver dias nascendo, água correndo e céu estrelando.

Ainda trago o verão nos olhos, coleciono palavras, e sei rezar.

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Encho os olhos d’água quando vejo um beijo bom, e não sei viver sem um longo abraço.

Ainda mordo os lábios, de nervoso ou de desejo, e sei contar minhas bênçãos. E depois, sei agradecer.

Acredito em boas intenções e ainda consigo rir do que os outros não acham graça.

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Mas alegria é outra coisa.

É segurar a alma com as mãos, abrir as comportas, entregar-se.

É um estado crônico de amor e ganho, é o agora.

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E para não entristecer vou viver.

Já.

Já volto.


quarta-feira, 3 de março de 2010

sub judice

Se você soubesse o que trago no peito,

saberia sorrir mais, e despreocupado, e leve, e todas as manhãs.

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Se te digo que há em mim um amor desses retesados, querendo crescer, é porque é assim que sei te falar de meu desejo interminável.

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Mas não.

O tempo me coloca sempre sob caução,

e como só te quero se for por inteiro, vivo sub judice,

tentando provar que quero sim o dia a dia, o toque, as longas conversas, o supermercado, a meia luz, a luz inteira...

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ah... queria tanto poder te dar mais do que dou.

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Quero a realidade.

Mas confesso : me farto sonhando despudoradamente com a beira de seus lábios.