domingo, 20 de janeiro de 2019

O pai...

O pai na água, no colo dos filhos que não esperam nada, só oferecem, toca meu coração. Não sei sua história, mas posso ver o amor transbordar naquele mar, posso sentir as palavras sendo dissolvidas entre os braços dos filhos. Não precisam ser ditas. Ali não há cárceres, não há tempo e não há idade. Ali ninguém precisa de memória. O amor está. É verbo presente. Transformado em gesto.

Não que eu não soubesse que o amor não segue hierarquias, mas ver a cena é sentir o benefício imediato da delicadeza.
É entender a grandeza das conexões afetivas e saber que existem coisas que sempre farão nossas almas voltarem para o lugar.
Tão bonito ver como o amor se voluntaria. Se apresenta sem se apegar à dor. Faz irrelevantes quaisquer limitações. É feito de permanências, e está sempre além de qualquer entendimento.
Como um oceano que nos invade sem ferir nossos espaços, como uma permissão divina para a existência e para a alegria.

Acho lindo ver o pai sendo acolhido como filho.
E torço para que o amor seja sempre só isso. Essa falta de esforço, essa espontaneidade sem rebuscamentos, uma fluidez sem construção prévia. Torço para que continue sendo só misterioso, imprevisível e inteiro.
E para que a gente nunca desista dele.
Mesmo quando, de vez em quando, as coisas se tornarem duras demais ou quando tudo parece querer nos levar ao cansaço e à desistência.

É que às vezes o amor cumpre sua finalidade com tanta gratuidade que corre o risco da gente nem ver.
Torço para que permaneçamos atentos. E abertos.
Afinal, o amor, embora disponível, precisa ser reconhecido. Assim como a percepção da felicidade.
São habilidades que exigem perseverança.

Solange Maia