sábado, 26 de julho de 2014
tento não amar você...
Vai logo colocando a mão na minha
nuca, segurando do seu jeito másculo o meu cabelo enquanto com a outra mão
fecha a porta que acabei de abrir. Vira minha cabeça de encontro ao
beijo que sua boca me dá antes mesmo de eu falar qualquer coisa. Afasta a alça da minha blusa e
morde meu ombro, saliva. Respira tudo o que imaginava e que
agora tem.
Falta-me voz, falta-me fôlego, e sinto
ainda o mesmo desejo da primeira vez.
Busco o pouco de clareza que resta
quando teu corpo ebule assim, tão perto de mim. É que preciso lembrar que prometi
a mim mesma que seria sempre só o beijo, só o desejo, só o momento. Lambo tua
boca e busco com a mão tudo o que poderia estar contido num instante.
Mas é pouco.
No inicio é sempre o desejo, mas
nunca é só isso.
Três segundos ao seu lado são
suficientes para criar raízes, começo a me apaixonar violenta, profunda e imediatamente.
Finjo que não, e deixo a noite
acontecer.
Deveria ser só bom, mas nasce uma
falta no lugar do beijo.
E só o que enxergo é um provável
buraco, grande e fundo.
Acho que não sei lidar com tão pouca
permanência.
Sou das eternidades, e agora tenho passado meus dias tentando não
me apaixonar. É.
Tento diariamente não amar você.
Solange Maia
sexta-feira, 11 de julho de 2014
para ele, o mesmo mantra de sempre...
Ele não vai embora. Tampouco fica.
Anda cheio de ressentimentos e faz um
esforço danado para entender onde foi que as coisas pararam de acontecer.
E, de tanto tentar entender, tem vivido
virado para trás. Investe seu tempo juntando cacos e fazendo colagens com os
pedaços dessa história que já acabou.
A tristeza tem dessas coisas... faz acreditar
em mentiras bonitas, promessas que nem sempre foram feitas, e nos põe agarrados
a qualquer noticia que alimente nossa esperança. Tudo tão pouco, tudo tão quase
nada.
A tristeza é honesta, você diria, e eu
sei. É fratura exposta.
O perigo é acostumar-se com ela.
Mas o fato é que você nunca está aqui. Não no agora.
Ergue o cálice, mas não faz o brinde.
Oras...
Penso em Sérgio Godinho, que disse com razão, que a vida é feita de pequenos nadas.
Chego perto do seu ouvido e sussurro o
mesmo mantra de sempre :
- Chega de choramingos ! Perfume-se com
um novo cheiro, mergulhe nu, faça uma batida de fruta do mato, fotografe
paisagens, deixe a barba crescer, acredite quando ouvir um elogio, caminhe descalço,
compre discos novos, beije como se tivesse 20 anos, compre uma cueca nova, e
linda, veja um filme bom, escreva um poema num guardanapo, descanse numa rede, dance
pela casa, coma risoto de limão siciliano, faça uma tatuagem...
Cometa pequenos nadas!
Afinal, posso jurar que foi pra isso que Deus
criou o Universo !
Solange Maia
terça-feira, 1 de julho de 2014
o que eu queria tanto te dar...
Um sentimento que sobrevivia sempre a
pequenos abandonos e à espera do momento perfeito.
Mas um desejo maciço teimava em crescer
dentro da gente.
Estava cansada do niilismo inumano da
ausência.
É que às vezes parecia que o amor queria
ser notado.
Dessas noites em que se deve deixar a
cabeça de lado e dar ouvidos só ao coração.
Afinal, não se pode acostumar com a
renúncia.
Abri a porta sabendo que depois daqueles
segundos tímidos meu corpo começaria a falar por mim, por nós, e por todos
aqueles anos permeando o vale quente e silencioso de um possível vir a ser.
Tínhamos os versos, eu sei, mas o melhor
de mim era o que estava escondido por trás deles, e que eu queria tanto te dar. Talvez
por isso a noite tenha sido tão linda, tão de verdade...
Fui. Para que fôssemos.
E fomos.
Esses momentos têm essa generosidade... a
de nos permitir ‘ser’. Momentos que nunca vou me esquecer.
Nosso desejo, finalmente, virou a boca
acolhida no beijo.
Solange Maia
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