terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

sexo e promessas...

A promessa de sexo costuma ser tão excitante quanto o sexo em si.
Não falo da promessa que mora no território dos devaneios, mas da que é quase um prenúncio, daquela que é possível, que nos põe demoradamente no chuveiro, que nos faz perfumar, planejar, ensaiar... da que excita, expande, invade.
Da promessa que pode estar escondida num olhar mais demorado, manhoso, daqueles que acendem um fogo quase quieto, quase imóvel, que hiberna em cada um de nós. Da que pode estar no bilhete colado na geladeira, no bilhete do trem, no ombro a mostra, no que não mostra, na rima, no rumo, na data esperada, no encontro inesperado...
Porque fazer sexo é muito bom, mas o que o antecede também é.
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sábado, 25 de fevereiro de 2012

coisas novas, coisas velhas...

eu, com pouco mais de 1 ano...

Era uma vez, e...  43 anos se passaram.
Como se o meu inicio e o meu meio se conhecessem, e se misturassem. Como o instante que divide a noite do dia, que descubro que não existe, ou o horizonte, que é onde descansam nossos olhos, mas que também não está lá... porque a gente vive e vai descobrindo que tudo que é fim, também é começo em algum outro lugar...

Já houve o tempo em que eu não sabia, achava que as coisas novas apagavam as coisas velhas.
Mas não. Não apagam.
Elas só recobrem.
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

dessas coisas da intimidade...

Já era madrugada, dessas abafadas de verão, quando ela disse a ele um sonoro  ‘obrigada”. Assim, simplesmente, meio fora de contexto.
É que ela sabia que ninguém nunca mais seria como ele.

Ninguém mais saberia escutar seus medos ou se dar a ela por inteiro. Ninguém nunca mais a amaria assim, no sentido empírico de amor, sem preparo nenhum, sem frases feitas ou cenários bonitos. Com ele o amor podia usar vestido de chita e ter os pés descalços, podia ser só boca, só mãos, só sexo, ou tudo isso misturado. Com ele mãos dadas eram sempre com os dedos entrelaçados, num jeito deles, como se assim dessem além das mãos, como se assim pudessem durar.

Ninguém mais sabia dizer a ela, a cada cinco segundos, e sem que perdesse a importância, que a amava.
Porque ele nem sabia, mas a fazia levitar, e assim ela entendia todas as coisas de intimidade.

“Obrigada”, ela disse, e ele não entendeu exatamente o quê ela estava agradecendo, mas olhou prá ela e sorriu.
Assim, simplesmente.
Porque era isso que ele era.
Um imenso sorriso... o melhor sorriso da vida dela.
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

desse enorme desamparo...

Olga Curado conta que seu pai dizia :
- Vá para o mundo que eu estou aqui atrás.
Comento sempre sobre essa fala, não exatamente sobre a história de Olga, porque ela poderia ser a história de Maria, de Pedro, de Miguel, mas sim sobre o poder que tem um carinho desses, sobre a sensação mágica de se ter alguém que nos proteja, sobre a sorte de quem tem esse encorajamento emocional...

Na verdade acho que a sensação proporcionada é mais importante do que a proteção em si.
Porque no fundo a gente sabe que se vira, mas caminhar com essa blindagem faz um bem danado.
É que andamos precisando tanto dessa gente que fica no backstage, desse amor silencioso, desses anjos sem asas.

Comento sempre sobre essa fala porque é o meu jeito tímido de chacoalhar quem não se dá, é minha maneira de hastear uma bandeira, porque sei que no fundo somos todos iguais.
Sei que por trás de cada coragem há sempre uma renúncia,
e quase sempre um enorme desamparo....
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

não estou nem aí...

A cama branca, a tarde quente, a pele bronzeada, o vento no final da tarde, o silêncio bom...
Tudo isso me leva a você, tudo me faz querer te amar.

A cama negra, a noite fria, a pele alva, vento nenhum, o barulhinho lá fora...
Ainda assim sou levada a você, ainda assim quero te amar.

Despia-me bem devagar, te olhando fixamente, sem deixar você me tocar. Pedia que tirasse tua roupa prá mim, e mais nada. Só um presente pro olhar.
Haveria aquela tensão que cresce antes dos desejos, porque sempre quero tua alma, é claro, mas na hora em que minha língua toca o teu lábio, desfaz-se o encanto da alma e começamos uma outra jornada...

Amar tem sido essa falta de importância pelo que me cerca, essa total indiferença ao julgamento dos outros, esse desinteresse por todo o resto.
Amar tem me feito relapsa.
E o pior (ou o melhor?): eu não estou nem aí.
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sábado, 11 de fevereiro de 2012

desse mergulho...

Cansei das nuvens.
Tenho buscado terra firme, mas diante de ti é como se eu estivesse na iminência de um salto, naquele minimo segundo em que a gente hesita, quando nossos insitntos ainda tentam nos proteger... é que nada sabemos sobre o amor quando saltamos.
Mas saltamos mesmo assim.
Vamos em direção ao ar, ou ao solo, pouco importa...
É o salto que nos chama, é o desgarrar... É desse mergulho que não conseguimos fugir.
Porque foi para isso que nascemos. Para amar.
Amar até perdermos as fronteiras... até não sabermos mais onde terminamos e onde começa o outro.
Amar é a fusão, o ópio, os sinos, os sonhos...
É a correnteza arrebatadora que não sabemos evitar.
É o mundo, é o medo, é o mar...

O amor nos assusta.
Porque diante dele... somos nada.
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

do homem de meia-idade...

O homem maduro sempre me interessou. Diante dele sinto um misto de atração e respeito. Nele há sempre uma terna insegurança recoberta por uma camada incontestável de autoconfiança. E é justo essa ambigüidade que lhe confere tanto encanto. Afinal, não há nada mais sedutor do que a vulnerabilidade bem resolvida.

A vida lhe tornou criterioso e seletivo, então estar ao seu lado é estar no lugar da mulher eleita. E foram tantos os caminhos percorridos que dificilmente seria leviano com o coração dos outros. Ele já esteve lá. Talvez por isso seja sagaz, mas sem se impor. E nele há certo desalinho, o que nos põe mais a vontade, o que o torna ainda mais acolhedor...

É firme, embora saiba perfeitamente ser flexível.
Vazio de frivolidades. E cheio de possibilidades.
Um homem de meia-idade pode ser superabundante,
e pode caber como uma luva na vida de uma mulher... de qualquer idade.
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

quando VIVER é bem mais amplo...

Eu não quero promessas.
Promessas criam expectativas
e expectativas borram maquiagens
e comprimem estômagos - Tati Bernardi

- Você não existe amanhã. Ninguém existe.
É essa a fala firme que ouço dentro de mim quando falo com você. Ouço uma voz que me diz : - Vamos, fale prá ele que o amanhã não existe ! E, quando eu quase falo, só o que me sai da boca são inseguranças disfarçadas de delicadezas.

Não falo por que mesmo que esse amanhã realmente nunca exista, mesmo assim você vai estar comigo. Vai estar porque mora nas minhas linhas, porque não foram poucas às vezes que escrevi sobre você. Escrevi da nossa ternura, dos nossos sonhos. Escrevi palavras quentes, que levaram outros homens a um estado de desejo, mas que sempre foram tuas, só tuas. Escrevi coisas profundas, que falavam de tudo que comungamos, mas também falei da dor, com palavras pungentes, que sangraram tanto a tua falta como a tua fantasia.

Você vai estar sempre comigo, a palavra escrita tem esse poder. E, embora pareça triste, de alguma forma, isso também é bonito...

Ah, e um último recado : nunca vou escrever o teu nome, mas você vai se saber ali, porque todas aquelas palavras têm o seu DNA. Todas foram suas um dia, e contaram as histórias de nós dois.

Mas, se você não existe amanhã, que tal VIVER o agora ?
Por que VIVER É BEM MAIS AMPLO, e tenho achado que de vez em quando as palavras magoam meu corpo todo.
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sábado, 4 de fevereiro de 2012

depois do sexo...

Depois do sexo, com os corpos exaustos, se ainda houver espaço para um último toque, um carinho, um olhar mais demorado, pausado no tempo e pousado no outro... então é prá valer. Não é só sexo.
Também é amor...
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ela era ao contrário...

A menina era uma ilha ao contrário.
Água límpida, serena e cristalina, cercada de terra por todo lado. Nela os dias amanheciam cheios do reflexo infinito do céu.
Era fluida, espontânea, natural. Opunha-se à rigidez do entorno, tomando a forma do lugar que a continha, mas não perdia em instante algum sua propriedade. Era com delicadeza que impunha e delimitava onde ela terminava, e onde a rocha começava.
Entardecia como se estivesse fechando um ciclo, reverenciava cada pedra, cada encosta que a cercava... e agradecia. Agradecia porque sabia ser amiga do tempo, porque o que a tornava ainda mais água era saber-se líquida a despeito de tanta solidez.
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

de quando a geografia não importa...

ELE morava do outro lado do mundo. ELA nem ligava.
ELE dizia que quando falava com ela beijava as palavras para que chegassem assim, cheias de ternura ao seu ouvido. ELA guardava um sorriso secreto, e tinha vontade de escorregar pelo ar envolvida por aquela alegria nova.

ELE era uma doçura boa. ELA era uma delicadeza leve. ELE se desfazia de tanto bem querer. ELA se refazia nesse receber. ELE se achava nela. ELA se perdia nele.

E, juntos, embora geograficamente distantes, aprenderam que alguns laços são impossíveis de explicar.
E de se desfazer...
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