sexta-feira, 31 de julho de 2009

Intuição

Não abro mão do que insinua, do subentendido, do não dito.
Observo. Percebo. Sinto.
Sou intuitiva.
De faro bom e percepções aguçadas.

E minha intuição mora nas entrelinhas.
Não é linear.
É sutil, tal qual pedra bruta, sem lapidação, no garimpo dos nossos instintos.
Sei, sem saber o porquê deste saber.
Assim como sei que ao menor sinal da lógica, perde-se a mágica.

Por que para intuir é preciso desaprender.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Amor para dentro...

Conversando com uma amiga hoje à tarde, pensei em porque será que as pessoas falam tão pouco do amor que sentem.
Ela tem duas filhas e alguma dificuldade neste relacionamento. As meninas, um pouco mais mal humoradas do que deveriam, e ela, um pouco mais autoritária do que precisaria.
Entendo as três.
Metade de mim é mãe, mas a outra metade é filha.

Depois de meia hora ouvindo perguntei :
- Você já disse a elas que as ama ?
Ao que minha amiga respondeu :
- Ãh ? Como assim ? Não preciso falar, elas já sabem.

E só porque já sabem não merecem ouvir de novo ?
O que há com as pessoas ?

Esse amor para dentro tem sempre um ar recuado, sempre pálido, enfraquecido.
Porque amor adivinhado tem mesmo um quê de dor, de desamparo, de dúvida.
E pouca validade.
.
O amor falado é mais corajoso, e tão mais real...

A gente deveria validar o amor sempre que possível.
A gente deveria validar o amor...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Poucas Certezas

Tenho tido poucas certezas.
É essa vida, que anda me surpreendendo bastante.
E estrangulando muitas das minhas verdades.
Agora, quando acho que sei, duvido.

É... talvez eu nunca saiba.
Ou, saiba apenas, assim com Jean Gabin, que nunca saberei.


domingo, 26 de julho de 2009

Arroz de Jasmim

Hoje eu queria apenas as camélias do quintal da minha avó, que tem o perfume da minha infância e daquele tempo bom em que a gente gastava o dia só com risos e sonhos.

Mas se não desse, estenderia uma manta florida sobre um campo de lavanda e deitaria ao sol, torcendo por nuvens brancas como açúcar de confeiteiro.

Se ainda assim não fosse possível, iria atrás do arroz de jasmim do
Carlota, porque seus lindos grãos translúcidos sempre me fazem acreditar que posso comer estrelas.

E ter estrelas na barriga me lembra você.

sábado, 25 de julho de 2009

Era desse combustível que eu falava...

Prá você Bia, minha mana... conforme intuí anos atrás....
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Vi vocês pela janela.
Assim como finalmente vi a alegria em seus olhos.
Vi nos dele também.
Era como se finalmente tivesse chegado o tempo, era o encontro entre tantos desencontros.

Até o céu, de umidade fina, transformou-se. Ficou sem nuvens.
Era desse combustível que eu falava.
Dessa combustão.
Desse querer sereno, dessa falta de pressa, dessa força que perpetua o agora só de se olhar.

Finalmente uma euforiazinha simples, com cheiro de talco, e (re)nasce você.
De respirar suave desta vez, de guarda baixa, de gestos mansos.
Porque é disso que é feito o amor...

E por que nele você cabe inteirinha.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nosso melhor pedaço...

Em diferentes dimensões há um grito de protesto abafado dentro do peito de cada um de nós.

Um desejo crônico de transformar o mundo num lugar mais justo, de entregar o melhor da gente ao que quer que seja, de manter preservados nossos direitos fundamentais.

E, de vez em quando, esse grito insiste em sair do peito.

Como hoje cedo, quando, ao acabar de ler o livro autobiográfico de Zarah Ghahramani (inacreditavelmente nascida em nosso tempo, em 1981, presa e brutalmente torturada por ter se envolvido, quase sem saber, no movimento político e estudantil do Irã), andei pensando na Zarah que há em todos nós, naquele pedaço da gente que acredita que pode mudar o mundo, na porção indignada com a política e com o poder, em nossa rebeldia saudável, na vontade de ser livre...

É... a despeito de tudo, consegui sorrir ao perceber que tal qual a menina do livro, ainda preservo aquela vontade de sair às ruas calçando sapatilhas cor-de-rosa e distribuindo bandeiras brancas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ausência


Era um sentir pungente.
Atravessava-me por inteiro.

Um coração que se distraiu.
Havia silêncio demais, e um vazio.
Era o deserto que me cabia.

É... ausência é uma falta que fica ali presente.
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.
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

MULHER DE ABRIL

Tenho esse ar de mulher multifacetada sim.
Contemporânea, de alma plural.
E não adianta querer andar em linha reta.
Dentro de mim uma porta leva a outra, que leva a outra e a mais uma.
Acho difícil que me definam.

Há um pouco de mim nos papéis sobre a mesa do escritório, mas há também na mãe que canta para ninar a filha.
Há um pouco de mim no labirinto das tatuagens escondidas, mas há também no meu silêncio e introspecção.
Há um pouco de mim na mulher que escolhe os morangos e as geléias, mas há também na eloquência e convicção das minhas falas.
Em mim, há sempre uma mulher tímida, e outra nua sobre a cama.
Estão todas ali.
Impossível saber qual prevalece.

Sou esse emaranhado, esse coquetel.
Impossível um momento de trégua.
Sou mulher de abril.

Mas só sou para quem me sabe.
Só para quem me sabe...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Esse ar...

De vez em quando parece que saio em viagem.
Como se precisasse partir de mim mesma.

Assim como se eu pudesse sair de cena e planar por cima da minha vida, só observando.
Finjo que não sou a dona daquela história.
Finjo que os temperos são outros, outros os espaços, as falas e o tempo.
Finjo ter tido o que me faltou.
Finjo.
Finjo até solidificar um novo fôlego, um novo ar...

Então eu volto.
Levanto as mãos bem altas, até ficar na ponta dos pés, e inspiro.
Inspiro esse ar cheio de vida, de escolhas e de promessas.

E gosto de mim mais uma vez.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Blindada

EU (e uma da minhas tatoos), hoje a tarde, clicada por mim...
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Demorei um tanto de tempo para entender Deus.
Na verdade, tal qual no amor, percebi que melhor que entendê-lo, seria senti-lo.

Há em cada pequena flor, em cada nova descoberta, no acelerar dentro do peito, na palavra pensada, e até no amor que pede uma pausa, um tanto de Deus.
Há nessa parte de mim que amanhece, a despeito da chegada da noite.
Há no afrouxar desse nó que tantas vezes me sufoca o peito.
Há em cada pequena festa no meu coração, em cada surpresa boa no meio da tarde, em cada palavra suave e bonita prá se guardar pra sempre.

Deus é aquele minutinho que antecede o deleite, aquela canção que nos faz chorar...
É a certeza mesmo diante do improvável, é a serenidade em meio ao caos, é o que me faz querer afagar seu rosto, entregue... absolutamente entregue... porque é puro, porque é verdade, porque é todo amor.

É esse estado bonito de compreensão e calma, que vem da inexorável certeza de que há outro tanto a ser percorrido, e mesmo que não seja agora, será.

Deus é esse pedacinho de mim que ainda me perdoa, que ainda sonha, que ainda espera.

É amuleto.
É sorte.
É pele.

sábado, 11 de julho de 2009

Not Now

Campos do Jordão 2009 - "EU, ao telefone" - clicada por minha mana
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Quase ontem vivi uma dessas tardes que não nos cabem.
Fazia tempo que eu não reparava tanto nos minutos.
Deixei nascer um silêncio perturbador onde antes havia só um sorriso.
Rápido assim.

Precisava parar, mas não sabia.
Não sabia porque achava bonito aquele nosso amor antigo, porque sentia que ele vinha enchendo nossas vidas de cores e de ventos.
Era um amor que vinha com trilha sonora, que cheirava a café com bolo, que nos fazia acreditar em almas gêmeas.
Um amor que prometia finalmente matar nossa fome de abraços.

Mas amor bonito não se pensa.
Se sente.
Por que se a gente pensa traz o peso e a renúncia que esse amor bonito pode implicar.
Aí a gente inventa que não aguenta.
A gente age como se precisássemos ser apresentados, como se não estivéssemos ali ao lado esperando há tanto tempo por um beijo que mudaria nossas vidas.

O fato é que não fazemos idéia de como viver esse amor.
Não fazemos idéia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Nasci canhota...

Nasci canhota.
Como se fosse um presságio prá minha maneira indisciplinada de ver as coisas.
Assim como escrevo, enxergo.
Vejo um tanto da vida “às avessas”.
Acho que é meu tempero.

Em mim nada se antecipa, nada se confina.
Nasci canhota.
É esse meu coração que não se doma e que não se cala.
É como estar sempre com uma porção deslocada, sempre com um “quê” de equívoco.

Vivo desimpedidamente.
Tenho uma alma dissidente, errante, mas entregue.

Tive um tempo em que ser canhota virou bandeira.
E revelo-me justamente por essa irreverência meio fora de moda, por essa sede que denota minha metade que antes de ser canhota, é desprovida.
É carente.
É...

Acho que o anjo torto de Drummond para mim também teria dito :
- Vai, Solange, ser "gauche" na vida !

terça-feira, 7 de julho de 2009

Por trás da escuridão...

Quando era pequena costumávamos ir ao Sítio de uma Tia em Ibiúna. Na volta, sempre tarde da noite, lembro que na estradinha de terra papai brincava com a gente apagando os faróis do carro e nos deixando na mais absoluta escuridão.

A princípio um medo, uma insegurança, gritinhos abafados no carro... mas ele logo punha suas mãos em cima das minhas e me tranquilizava dizendo : - Calma filha, é só a noite. Em seguida um silenciar e uma admiração pela imensa força da natureza, e por tudo que é absoluto, me faziam finalmente relaxar. Se olhasse bem podia perceber que as estrelas brilhavam mais, os sons dos bichos e da nossa respiração eram mais altos, o cheiro de mato entrava no peito...

Hoje vejo que aquela brincadeira era coisa séria.
A noite e a escuridão nos proporcionavam um despertar de outros sentidos.

Naquela época eu nem desconfiava que por muitas vezes ainda eu teria aquela sensação, só que quando a gente cresce são outros os tipos de escuridão, mas surgem exatamente como quando meu pai apagava os faróis do carro... assustam, nos tiram da nossa zona de conforto, mas depois que o coração se acalma a gente aprende que no escuro podemos perceber outras formas de luz.

Neste final de semana, na estrada da vida, o carro parou e os faróis apagaram...
E não é que o céu estava lindo ?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Troco por dois...

Liberdade
Lugar
Longe
Luminosidade
Lembranças
Lenha
Lareira
Lua
Lindo
Lágrima
Leve

E esse frio que me faz querer trocar todos esses “L” por apenas dois :

Lábios
Lençóis

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Hoje acordei tão “Pontes de Madison”...

E a doce Francesca estava ali, na banheira, com aquele homem que tanto amava e que não era o seu marido. E ela pensou :
Naquele instante tudo o que eu sabia a meu respeito até então, sumira. Eu agia como alguma outra mulher. Contudo, nunca antes fora tanto eu mesma.
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Hoje acordei tão “Pontes de Madison”...

Logo cedo lembrei de uma frase que diz :
Os velhos sonhos eram bons sonhos.
Não foram realizados, mas foi bom tê-los.

Acordei assim porque tem dias que a gente não quer saber de neurolinguística, de pensamentos positivos, de finais felizes. Tem dias que a gente quer e precisa sentir uma dorzinha assim, uma duvidazinha assado...

Tem dias, que como os personagens de Meryl Streep e Clint Eastwood, neste belo filme, a gente está incrivelmente complexo.
São dias de indecisão.
Penso em amor, mas também penso em renúncia.

São dias que tenho medo de deixar passar esse momento e ficar o resto da vida pensando se fiz ou não as escolhas certas.
Por que tem dias que são mais fortes que uma vida inteira.