quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

intimidade no banheiro...

Você fazia a barba debaixo do meu olhar... é que eu não podia deixar passar aquele instante.
Suas mãos firmes caminhavam pelo rosto que eu sabia de cor.
A espuma tão densa, a lâmina tão tênue...

Envolta por aquela atmosfera branca, senti uma intimidade que há tanto não me lembrava.
Um cheiro bom e o atrito na tua pele que me desfazia em fumaça... era um estado de quase graça.

Parava o instante só se fosse para deslizar a língua
por tua nuca...
Ali, no banheiro, você era o meu lugar no mundo...
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

das eternidades...

A gente nem bem termina um beijo e já está pensando na próxima cena.
Nem bem faz amor e já se prepara prá dormir.
Tempo. Tempo. Tempo.
Não quero mais.

Saudades de beijos intermináveis, daquela contemplação preguiçosa do ser amado, de mãos que deslizam pelo corpo do outro sem pressa alguma.
Saudades de um sexo gostoso e bem feito, e que,
mesmo que aconteça num lapso de tempo,
que esse lapso se confunda com uma eternidade...
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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

de quando o tempo merece ser parado...

Sim, já tive vontade de parar o relógio.
De perpetuar o instante. Congelar a cena.

Pararia naquela manhã de dezembro, em que, pela primeira vez, vi os olhos da minha filha. Aos 16 anos, quando dei meu primeiro beijo, no menino mais bonito do colégio. Ao descer do taxi na Champs Elysees, naquela gloriosa tarde gris. Quando, às margens do Rio Prata, num Reveillon, ouvi as palavras mais doces da minha vida. Pararia naquele engarrafamento em que ele abriu a porta do carro, aumentou o som e me tirou para dançar. Ao receber meu primeiro salário, junto a um bilhete (que guardo até hoje) escrito por meu pai. Ao sentir a pele arrepiar, quando coloquei os olhos e os pés nas águas turquesas daquele cenote em Yucatán. Pararia enquanto deslizava longas horas pelas marquises do Ibirapuera andando de patins.
E ao fazer 40 anos. Ou quando desembarquei em Minneapolis. Ao ouvir minha Avó cantar Ne Me Quitte Pas. Ao ganhar da minha mãe a roupinha que usei assim que nasci. Ou quando o Brasil foi Penta, e o Rivaldo ergueu a taça. Tantos momentos bons...

Hoje à tarde, deitada na espreguiçadeira da piscina, de olhos fechados, ouvindo a vozinha da minha filha ao fundo, e tendo minha irmã ao meu lado, parava todos os relógios do mundo.
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

de quando viro mel...

Você, com sua delicadeza extremada, vai me desconstruindo, tirando de mim as camadas ácidas, me esvaziando das verdades que nem existem, me fazendo ser mel. E nem vê a desordem que há em mim, ou, talvez nem se importe...

Só sei que volto a ficar parecida comigo, que ando as voltas com imensos e sinceros sorrisos.
Viro minha definição mais próxima da verdade.

E é exatamente por isso que te amo.
Você me SIMPLIFICA.

Então, por favor, não se desfaça de mim...
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sábado, 24 de dezembro de 2011

da duração das coisas...

Ele durava pouco.
E a noite era imensa.
A menina tão linda, tão safa, tão dele, e mesmo assim ele não sabia ficar.
Mas ela insistia.
E via nele coisas que estranhamente ninguém mais reparava.
Via seus olhos de luz.

Mas ele não acreditava mais, então nem percebia.
E ali, ao seu lado, a menina esteve sempre só.
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

de quando eu nada sei...

Talvez eu só veja um pouco.
Talvez só o que você me deixe ver...
E o que eu acho que é tanto, talvez seja só um espelho do meu coração.
Se for pensar, talvez eu nada saiba.

E, de repente, nada saber parece mesmo a melhor maneira de não nos desfazermos dessa história.
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domingo, 18 de dezembro de 2011

dessa saudade imensa que me fez voltar...

Quatro meses de mar agitado.
Quem navega quer sempre acreditar que no olho do furacão há um lugar de sossego. Um cais.
E há.
Encontrei o meu.

Não quero mais ser estrangeira.
Quero voltar aos abraços, aos afetos, às janelas abertas.
É por isso que hoje, na porta do ano novo, o Eucaliptos volta ao ar...

Saudade imensa de cada um...
Vambora... segura aqui na minha mão...
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(Estão todas aqui, as 48 postagens que nasceram enquanto
as janelas do Eucaliptos estavam fechadas...)

sábado, 17 de dezembro de 2011

de quando a gente vê o tempo passar...

Estou mais velha.
Minha pele já não é mais a mesma, nada é tão firme... mas, em contrapartida, acho que fiquei mais macia, menos rígida, meu lado de fora mais parecido com meu lado de dentro. Tenho texturas mais delicadas, embora eu seja hoje tão mais consistente.
Os anos me tornaram mais tolerante, menos pretensiosa, mais feminina...
E... sem aquela velha “sensação de poder” tenho me percebido tão mais a vontade !
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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

lá dentro...

Uma das poucas coisas em mim que não é simples,
é o meu sentimento.
Sinto hiperdimensionadamente.
Nada em minhas emoções é pouco. Nada é quieto.
Vou lá prá dentro, lá no fundo.
Amo, vivo, questiono, tudo demais.
E não faço a menor idéia de como ser diferente !
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

confissão de final de ano...

Esse foi um ano de reinvenções.
Bonito isso, se não doesse tanto.
Larguei um casamento de quase 15 anos. Um amor que, na verdade, acabou muito antes de acabar.
E tive que reaprender a vida.
Não que a gente não reaprenda todos os dias, mas foi preciso uma coragem quase épica. Só quem passa por isso sabe.
Enfrentei o vento frio dos julgamentos, a estrada árida do novo, as renúncias à “segurança”, e o fantasma da solidão.
Um penhasco pessoal.

Mas o ano está acabando e já posso sentir os ganhos:
Tenho tornado fáceis as coisas difíceis.
Tenho tido manhãs mansas, sorrisos largos, sonhos novos.
E tem gente fazendo festa dentro de mim.

É. Esse foi um ano de reinvenções.
O balanço ? Faria tudo de novo.
Um conselho ? “Aponta prá fé e rema”, como na canção...

Que venha 2012.
Estou pronta !
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

das impressões digitais...

Escrever tem sido como modelar o barro.
Mexo aqui, mexo acolá, amasso mais um pouco,
até que minhas impressões digitais estejam lá,
mas não são elas que eu quero que sejam vistas...


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

diante da dor...

Perder sempre dói.
Mas tenho aprendido que é dentro da gente que encontramos o acalanto para essas horas, na sombra da vegetação interna, é nela que nos agarramos.
Se por dentro formos resumidos, não há onde se amparar.
É por isso que, diante da dor, a gente vê nascer força tão grande em pessoas que pareciam tão frágeis. Porque têm floresta imensa por dentro.
E quando providos assim, perder, de alguma forma,

vira ganhar.
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sábado, 3 de dezembro de 2011

todo meu...

Escureço tudo ao redor. Não quero nenhum fio de luz.
Vou aguçar outros sentidos, vou me acender em você.
Risco círculos e arabescos sobre o teu corpo. Tudo breu. Tudo meu.
Sei onde você está. Acendo uma vela, e nascem caminhos de luz.

São dessas noites em que viro dona do céu.
Brinco com tuas sombras, com tuas horas longas...
Brinco com aquele instante sutil, onde teu corpo recua, onde te falta o ar só porque sabe dos pingos de cera que pendem, sabe que vão cair sobre o teu peito, e que vão ebulir...
E é exatamente o que você quer. Essa hesitação.
Esse momento tênue em que nem pensa.
Esse hiato em que é todo meu.
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