quinta-feira, 28 de agosto de 2014

devia ser proibido...

E tanta gente presa nessa neve.
Tantas quanto as explicações, que a gente nem pede e vão logo desandando a dar... ‘foi a vida que amargou, foram as feridas do passado, tudo o que nunca cicatrizou, foram as traições, o cotidiano que me endureceu, a matemática sendo sempre maior que as relações...’
Como se fosse tudo uma coisa só.
Como se fossemos todos iguais.

Tem gente que vive nesse perpétuo estado de defesa, a memória convertendo-se num cárcere, a alegria esvaindo pelo ralo da razão. E vive-se assim, eternamente à margem.
Eternamente quase sendo.

A vida pode sim ser violentamente invadida por alguma fatalidade, a realidade de vez em quando pode nos fazer faltar o chão, a alma vai doer, o corpo quase arrebentar, mas devia ser só isso. Só esse instante agudo de dor.
Proibido virar crônico.

Tanta gente sem lembrar que o amor é sol que derrete toda neve. Há que se sair detrás dessa trincheira...
Correr riscos ainda é a maneira mais bonita de amar.
Tenho medo, é fato, mas mostrar o coração tem me dado uma alegria que nem sei...
E acredito.
Ainda acredito.

Solange Maia

sábado, 16 de agosto de 2014

cereja, poeira, cadeira...

Estou no limite do inefável. Não lembro de ter perdido as palavras assim antes. É que nunca contei, mas meus textos só nascem diante de algum vazio. E, hoje não me falta nada.
Estou cheia desse amor bonito que acabamos de viver.
Ademais, minhas palavras já foram tão lidas, e já estão tão gastas...

Pra você quero dar mais do que o verbo, quero dar o que nunca dei, meus olhos cheios desse inverno, minha mansidão, o bom silêncio, e um amor que precisa de cada uma das entidades sensórias, que não dispensa nada. Quero bocas, beijos, mãos. 
Quero a alma, e o mergulho que vem depois. Quero a pele, a fenda, o gozo.

Estou no limite do inefável, amor, mas pela primeira vez o silêncio que se seguiu não foi um vazio.
A despedida não foi um fim.
Amanhã já sei : ainda te quero.

Solange Maia 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

depois que te perdi...

Muito embora eu ande com as retinas enxaguadas pela saudade, agora posso te ver melhor.
Você ficou mais visível depois que te perdi.
É que, às vezes, mesmo com a porta fechada a gente espia pelos vãos e pelas brechas tentando entender o que foi que realmente aconteceu.
Havia amor, eu sei, mas transitamos por fronteiras tão difíceis.
Achávamos que era paixão, pele, desejo... Tudo volátil, imaturo, explosivo e perigoso.
Mas teria se consumido se fosse só isso. E não era.

O amor insistia, pedia passagem e a gente não via.
Agora sei que estava lá.
É que aparecia com formas misteriosas, e eu via em ti alma demais, e sentia medo. Muito medo.
Por achar que sabia lidar melhor com a cabeça, tentei trazer nossa história para o racional. Mas tudo que é do cérebro é tão injusto, que nossa ternura foi ficando dura.
Então fugi.
E agora preciso daquele tipo de cura que só pode vir da solidão.

Sei que vivemos um grande amor,
e que para cada pecado, houve uma virtude,
para cada medo, uma coragem,
só não houve tempo.                              
Eu era agora, e você sempre um pouco mais tarde...

Solange Maia