quarta-feira, 30 de maio de 2012

os homens querem 'pele'...

Quem és ? Perguntei ao desejo, que respondeu :
Lava. Depois pó. Depois nada.
 Hilda Hilst
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É uma característica tão feminina enxergar por trás das formas, que de vez em quando, perdidas nesse encantamento que independe completamente da aparência, somos colocadas mais longe do que gostaríamos dos homens que desejamos.
Eles querem a pele.

Nós também.

Mas para a mulher não há padrões, não há regras.
O homem é desejado por um todo, e química pra nós tem outra dimensão. São as reações de um, em relação às reações do outro, e essa “eletricidade” passa, inevitavelmente, pela ternura.
Não é uma questão só de corpo, é também de cabeça.
A pele é fugaz...
o desejo é volátil...
e mulher gosta mesmo é das eternidades.
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terça-feira, 29 de maio de 2012

são números demais...

Mal nasci e já fui rotulada : fêmea.
Cinquenta e tantos centímetros, três quilos e alguma coisa.
Solange de tal, ariana com ascendente em escorpião.

Depois fui recebendo outros rótulos : filha, aluna, irmã, namorada, estagiária... Até que um dia a gente ganha a chave de casa e passa a ter mais um monte de números que nos identificam : código de endereçamento postal, contribuinte, telefone, título de eleitora... Mais tarde, surgem outros critérios, mas que nos rotulam também : sócia, condutora, mãe, mulher, ex-mulher, amante... E assim vamos sendo segmentados matematicamente... vamos fazendo parte das estatísticas.

Mas o duro é ver que tem quem pense que são através destes números que se contabilizam nossas perdas e nossos ganhos... Nessas horas dá vontade é de ser ninguém !
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sexta-feira, 25 de maio de 2012

quando comer é provocar...


No caminho do escritório passo por um simpático bistrô onde se lê na fachada “cozinha afetiva”.
É uma das minhas paisagens preferidas. Não pelo lugar propriamente dito, porque ainda nunca entrei. Mas pela palavra. Não resisto a essas palavras soltas que nos levam com elas. Passo por ali fantasiando sabores nascidos de uma decisão de amor, imagino-me degustando uma carícia, e ela deslizando boca adentro. Dessas fomes que não se quer matar.
Na cozinha daquele bistrô deve acontecer a realização culinária de um sonho, a fusão do fogo, da cuia, da concha, das facas, da noz, o gengibre, a pimenta...
Tudo para se perder na geografia dos lábios, da língua, para penetrar nas vísceras, e, finalmente na alma.

Lembro de Rubem Alves dizendo que matar a fome é fácil, qualquer angu com feijão faz isso, mas numa cozinha como essa, o objetivo não é matar a fome, é o contrário: pretende-se provocá-la.
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(fotografia clicada hoje cedo - http://www.cafeambrosio.com.br/)

terça-feira, 22 de maio de 2012

do lucro...

Eu me despia interminavelmente, e falava bobagens no seu ouvido. Prá mim não havia culpa no gozo.
Minhas pernas abriam, guardando as tuas entre elas.

Você não. Você propunha sempre um discurso mais acadêmico, um tesão mais nobre, comportado, alguma coisa entre lençóis de linho e Veuve Clicquots.

E desse jeito a gente não se entendia.
Você queria que eu parasse de tentar essa mistura “sexo e amor” (como se fosse fácil), e eu, eu só queria que você soubesse que essa era a única fusão possível, era o combustível... e que é dela que nascem as cortesãs diáfanas, prontas para ser dar ao ser amado, e que gozar pode ser o “lucro” obtido por essa ousadia !


É... porque tem gente que acha que sexo com amor 
é uma tremenda ousadia....
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sábado, 19 de maio de 2012

de quando tudo é só isso...

Com ele não era tanto sobre amor, embora eu o amasse.
Com ele sempre foi sobre a pele, sobre o toque, os beijos,
o desejo.
Com ele foi pelas coincidências, pelos lugares, pela idade.
Ele me pedia que eu imaginasse uma música e dançasse.
Eu dançava.
E ele olhava.
Com ele os silêncios eram íntimos o suficiente
para mostrar-se como nudez.
Mas acho que era só.
Era um amor de “fora”.
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domingo, 13 de maio de 2012

porque ser MÃE pode ser tão amplo...

Mãe é tudo que acolhe, tudo que ampara, tudo que “guarda”...
Mãe é um olhar sobre nós, uma doçura à toa, um afago.
Mãe é mulher, mas pode ser homem. É adulto, mas pode ser criança.
Mãe é o que faz carinho, o que faz denguinho, o que é “quentinho".
Mãe é tudo que cuida, tudo que ouve, tudo que abraça.
Mãe é um instante, é o que descomplica,
é o momento que nunca passa....
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segunda-feira, 7 de maio de 2012

o amor é tão óbvio...

Às vezes a menina dava prá falar de amor.
Era o jeito que tinha prá chegar à vida dele.
Engraçado. Nessas horas ela era tão óbvia.
Quanto mais falava, mais ficava indefesa.
Cada vez mais à deriva.
Ia falando do amor, e perdendo consistência...
Perdia também a convicção.
A menina perdia tudo.
Menos a coragem.

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domingo, 6 de maio de 2012

do que eu acho que é ser lindo...

Dia desses ao conversar com amigos, surgiu uma discussão a respeito de como pessoas inteligentes são sedutoras, e não estávamos falando da inteligência erudita, mas daquela que têm os que não olham nada com desdém.
E comentamos sobre às vezes em que a inteligência fala mais do que a pele.
Ou antes dela.
Falamos dessas pessoas que nos envolvem porque são donas de uma honestidade atordoante, e de uma maneira tão leve e segura de falar da vida, que é como se fossemos sendo abraçados por isso, como se fossemos sendo engolidos pela cabeça, até que, de repente nosso corpo também quisesse servir de banquete.
Gente que é uma mistura de trem bala, prontos para a partida, e de um delicado construtor de catedrais góticas, prontos para a permanência.
Porque pessoas assim crescem diante dos nossos olhos, e já nem nos importamos com esta ou aquela aparência, elas são lindas.
E a gente as quer por perto.
E a gente as quer por dentro.



* (linda fotografia de Abby Ross, fotógrafo cuja beleza favorita não pode ser encontrada nos editoriais de moda. Ele gosta mesmo, assim como eu, da beleza dos “defeitos” e dos paradoxos...)
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terça-feira, 1 de maio de 2012

dói...

Como o leite que azeda esquecido fora da geladeira. Como a saudade de alguém que já morreu. Como um silêncio que não se entende. Como alguém que não sai de cima do muro. Como a noite em que se descobre que Papai Noel não existe. Como uma bala que já saiu da arma. Como tatuagem com o nome de uma velha história. Como uma inocência roubada na adolescência. Como uma lágrima que não sai. Como perder um jogo na prorrogação. Como saber que nunca mais vai se ouvir ao vivo Elis. Como um nó machucando a garganta. Como uma escultura de gelo derretendo ao sol.
Dói.
Amor que não acaba dói.
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