quarta-feira, 30 de novembro de 2011

virei a página...

Mergulhei tanto hoje.
Mas tem uma hora que a gente acorda.
Acorda prá uma realidade que já sabia.
São dias em que o céu sem nuvens fica de um azul tão só, que me assusto.

Dias de verdades dolorosas.
Tudo é música, tudo é tempo. Passa sem passar.
Dias de fins que viram recomeços.
Porque só sei partir assim, depois dessas verdades que
me arrebentam.

Mas... sem despedidas, por favor.
Fui.
.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

do amaciar...

Quero ser macia...
assim como disse minha irmã.
Quero ser colo, ser ninho, ser vento bom...
desses que sopram histórias no meio da noite.
Afinal, embora todos vivam seus exílios pessoais,
(do ter que ter, ter que parecer, ter que impressionar...)
ainda ouso pensar em doçura,
ainda ouso pensar em ser.
E ser branda.
Porque só endurecer não dá.
E é tão injusto...
.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

uma coisa, outra coisa

cuido porque uma coisa é a palavra falada, solta, que voa no ar ao sair da boca,
dissipa-se....
vira lenda.
outra coisa é a palavra escrita, que pesa, vira pedra, perpetua,
eterniza-se...
vira documento.
.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

de tão convexo...

Deito na minha cama branca, sozinha. Quero pensar em você.
Desarrumo os lençóis. Meu corpo pede alguma desordem.
Mal fecho os olhos e já sinto a pele orvalhar. Verto de um desejo lento, de uma vontade imensa de você.
Tiro a roupa sem pensar, não há espaço para mais nada em mim.
Deslizo as mãos brandas, lânguidas, pelos caminhos que serão teus.
Só de pensar na tua voz, altero tudo em mim. Suo, torno a pele escorregadia, carregada de desejos.
O ventre vira música, vibra, ressoa, revebera.
E nem sei mais respirar. Ondulo.
É desse tremor logo abaixo do umbigo que te falo.
Desse amor umedecido que rompe essa represa em mim.
Desse gozo lindo, feito das centelhas do sol.
Do que faz nascer essa alegria libidinosa que mora na minha cama branca, e que desenha serpentes de luz.
Tantas.
É.
Sou côncava diante de ti.
Côncava.
.

domingo, 20 de novembro de 2011

à deriva...

Queria ter te conhecido em outro tempo, talvez quando eu nem percebesse os labirintos do querer.
É que um pedacinho teu, conta uma história inteira.
E essa história tem me esgotado, porque queria ver em você um cais, mas não, você é navio no mar.
À deriva.
E se fico na margem, perco você.
Se me jogo na água, desgarro também.
Cansei de ver tudo afogar.
Queria ter te conhecido antes, quando eu ainda tinha fôlego.

É que tem doído em mim esse tanto de horas longas quando você não vem. E, de qualquer maneira, não quero mais.
.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

das filigranas...

Tenho tomado banho no escuro, deito no chão e acendo velas...
Amo as filigranas que as sombras desenham nas paredes.
O silêncio, ou Keith Jarrett... a fumaça fosca me leva para outro plano.
Fico tênue, sutil, etérea.
Difusa, mas tão viva.
É tudo sentimento. Tudo misturado.
E tantos...

Acaba o banho e me dou conta que volto a ficar parecida comigo...
.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

chão de terra batida

Sei que em Portugal, houve um tempo em que as pessoas faziam suas próprias casas, e, quando acabavam de construí-las, antes de começarem a habitá-la, convidavam os parentes e vizinhos para uma festa. Um baile com muita música e dança.
O propósito dessa festa era que os pés dos dançarinos compactassem bem o chão.
Não canso de pensar na beleza dessa tradição.
Certamente as casas ficavam benfazejamente contagiadas.
Imagine só : uma casa dançada !
.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

das velhas motivações...

A atmosfera é outra.
E para não cair no erro do predomínio da palavra, tenho buscado me abastecer de uma alegria mais vasta.
Viver tem sido um mistério, e quanto mais longe chego, menos sei. Menos tenho noção da realidade.

Já não obedeço minhas velhas motivações.
É tempo de sair lá fora, de experimentar o novo, de buscar a harmonia entre o que sou e o que desejo.
Quero a experiência tátil.
Ando um pouco cansada das teorias.
Quero ações físicas.

Talvez eu comece seguindo o caos. Ou um coelho branco.
De qualquer modo, não me lembro da última vez que foi fácil.
.

domingo, 13 de novembro de 2011

de quando quase te toco...

Sabe, às vezes à noite (no meio da noite mesmo), acordo.
Acordo e estendo a mão para alcançar o celular ali ao lado. Quero ler de novo as tuas palavras, as que ficaram ali, coaguladas.
Como se assim eu te trouxesse para perto de mim, como se pudesse então, sentir tuas mãos na colina do meu coração.
Seguro o celular contra o peito. Me falta o ar.

É. Tua delicadeza parece ainda maior quando estou só.

Fecho os olhos com tuas palavras por dentro.
É erótico. E belo.
Volto a dormir.
.

sábado, 12 de novembro de 2011

quintal secreto...

Cultivo um quintal secreto.
E tenho estado nele mais do que de costume.
É que minha história é contada na superfície do corpo, mas nasce lá nos fundos de casa.
Lá onde tomo banhos demorados, onde estendo a roupa limpa, revolvo a terra. Onde chuvas benfazejas salvam brotos insistentes de fertilidade (e eu nem lembrava !).
Tem caco de telha e tijolos crus... mato e sombras. Eu preciso.

Fora do meu quintal tudo é tão volátil.
Tão efêmero, tão passageiro.
E ando querendo as eternidades.

É que tenho estado mais comovida, e em dias assim, restauro uma confiança quase esquecida...
E já não sei se quero me esconder.
Talvez agora eu queira me mostrar.
.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

...de gente perfeitinha, já deu.

Ontem alguém me perguntou o que eu busco.
Ser feliz - foi o que eu disse.
Mas quero dessas felicidades livres, sem a rigidez dos estereótipos, aquela de sorriso largo, de alma boa, de discurso franco.
Sou avessa às formalidades.

Quero gente de verdade, descomplicada, com aquela normalidade quase esquecida, com medos e imperfeições, mas também com sonhos e arrojos, e que desafiem a matemática das aparências.
Porque de gente perfeitinha, já deu.

E assim como Manoel de Barros, acho que a maior riqueza do homem é sua incompletude...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ensaio Sobre o Amor

Dos meus olhos escorregam lágrimas gordas, choro, mas sem arfar.
O pulmão é calmo, a cabeça também. É o peito que dói.
Dói esse doer tão lindo, esse querer, esse nó, esse embrolho...

Achei que sabia das coisas...
Achei que era tão vivida, que minha vida era tão cheia de histórias...
Mas, e agora ?
E agora que eu descobri que nada sei ?

Paro um instante. Quero rearranjar os pensamentos.
Você está lá, e então não organizo nada. pelo contrário, tudo sai do lugar.
E é tão lindo.
Lindo porque nem ligo para as probabilidades, porque ignoro o oceano, rio do tempo...
Lindo porque já nem sei como eu era antes.
Porque não sei explicar. Nem controlar.

O amor é esse medo.
Essa delícia.
Uma agonia febril, um rio perene, um paradoxo.
E agora acordo desafiando o impossível.

E fico tão vulnerável, como se me despisse no frio...
Sim, tem a beleza do sentir, mas tem também a pele que queima, que sangra, que dói.
Já não me protejo mais.
Não dá. Não sei.

E nem ligo.
Não ligo para mais nada.
É como disse lindamente Miguel E.C., e como fez música Chico Buarque : "é como estar doente de uma folia..."

Afinal, o amor é uma coisa, a vida é outra.

E te amo.
E é tão maior do que eu...
.
(ensaio modestamente escrito depois da leitura do texto “Amor” de Miguel Esteves Cardoso, no Jornal Expresso - Portugal)

sábado, 5 de novembro de 2011

dos instantes...

Logo cedo vi um pai levando a filha de uns 4 anos na escola, a pé, de mãos dadas... só esta cena, isolada, já é cena bonita. Mas havia uma árvore no caminho, com galhos baixos, e o pai fingiu, fazendo caretas, que sua cabeça ficou presa ali, entre os galhos. A menininha riu com o olhar, tímida com a cena, e ficou tentando ajudá-lo a se livrar. Logo estavam gargalhando.

Foi só um instante.
Mas são justo estes, os instantes que fazem a vida valer.

porque tem gente que me faz começar o dia com um sorriso gratuito na cara...

.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

desses dias...

Tenho tido dias diferentes.
Acordo sem saber se quero me esconder,
ou se quero me mostrar.
.