domingo, 29 de novembro de 2009

nudez púrpura...

No meu corpo nudez é muito mais sentimento do que fato.
E nasce no silêncio que permeia nossos pensamentos.
De dentro para fora, feito flor do cerrado que tinge de púrpura toda aridez ao redor. E dura até esgotarmos todo o desejo.

Nos sobra então o amor e a vontade de querer de novo.Sempre, e mais uma vez...

Porque só te sou nua se me percorre cada palmo,
se esquece teus olhos em cima das minhas cores,
se me faz despovoada, sépia, pra mais tarde poder me preencher.

No meu corpo nudez é muito mais.
E já estive nua sem tirar uma peça de roupa sequer...

Solange Maia

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dessas mulheres prá comer com dez talheres...

Sou dessas mulheres sinuosas, de colo curvilíneo e sorriso enluarado.
Em mim perdem-se e acham-se os sonhos.
De medidas extremas. Tanto no outono quanto na primavera.
Gosto de gostar.
Gosto do prazer, sou tátil, feminina.

Sim, admiro a beleza longilínea e vertical, mas herdei a horizontalidade esteatopígea.
Não caibo em padrões.
Respiro livre, sem a rigidez imposta por aí.
Invisto meu tempo em outros prazeres : dedico-me a ser feliz.

Porque para o amor há sempre uma pessoa de medidas certas.
E, se meus seios cabem em suas mãos,
então sou (só) para você.

É por isso que, como cantou Ana Carolina, prefiro ser destas mulheres prá comer com dez talheres.

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

amor encabulado

Todo mundo já teve um amor não declarado
Desses de flerte delicado
e desejo açucarado.

Mas o meu anda tão desencontrado
Que talvez tivesse sido melhor tê-lo domado
Prá que o meu coração não vivesse apertado
Querendo estar pleno desse amor tão esperado.

E às vezes acho que esse amor encabulado
É só um jeito inconfessado
De pedir teu carinho emprestado
E mais um bocado de sonhos prá viver...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fome de Gente

Tenho tido sede de tantas coisas que ando até me atropelando.
Tantos quereres que todos os dias antes mesmo de acordar já começo a viver.
Tenho andado faminta de gente.
Todos os sorrisos me parecem estradas.
Apatia e indiferença já não me cabem mais.

Ganhar e perder são só o caminho.
Estremeço, desando, retrocedo, desato, e me sinto cada dia mais viva.
Sim, são muitas as minhas dúvidas,
Mas ando indo atrás de algumas respostas.

domingo, 15 de novembro de 2009

Desenhos...

Tenho desenhado um esboço do porvir,
de atmosfera perfeita, e de uma liberdade merecida.
Tenho aguardado o momento prá suavizar esses esforços que tenho feito (constantemente) para me encaixar,

Que de tão fechada em meu mundo,
Tenho mantido herméticos, também, até parte dos meus sonhos.

Mas é um desenho de alicerces frágeis,
Porque nem sei mais se alguma vez será o mesmo.
Nem se eu serei capaz de olhar-te como antes.

Enquanto isso, aqui, observo a mim e aos outros.
As felicidades, os caminhos, as reviravoltas.
E, não posso negar, esse pensamento acorda em mim uma urgência :
É a mim que aguardo.

É a mim...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A MENINA LIMPA

A infância dela foi quase toda naquele quintal.
Seus sonhos eram tão impecavelmente brancos quanto a fileira de roupas estendidas no varal.
Não lhe faltavam provisões.
Sapatos de verniz e vestido de pano caiado, sempre.
Tudo tão limpo...
Mas faltava alguma coisa.

Cheirava a sabão de côco e talco.
De tão alva pele quase não se via o contorno da boca, então nunca se soube se a menina sorria.
De tão branca, e como se para mantê-la assim, nunca lhe deram um abraço.
Cresceu tão limpinha.

Mas um dia acordou com uma enorme begônia brotando secretamente em seus pensamentos,
E antes mesmo de virar mulher já andava de pés descalços, olhar esguio e corpo suado.
Faltou-lhe tanta vida, que a quem quisesse ela se dava.
E assim respirava.
Um ar sujo, mas seu.

domingo, 8 de novembro de 2009

o mundo, como pode ser...

Amyr Klink tem uma casa há um quarteirão do meu escritório, em São Paulo. Vez ou outra vejo-o por ali. Sereno, alto, comum, como, aliás, não deixaria de ser.
Mas, toda vez que o vejo imagino a quantidade de vida que este homem deve ter. Imagino a bagagem interna que ele trás, a herança que suas meninas vão receber...
As histórias, os silêncios, as imagens, tudo nele acresce, tudo ensina.
E, tem uma citação, em especial, que não posso deixar de dividir :

"Hoje entendo bem meu pai.

Um homem precisa viajar.
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv.
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".

É... em minhas orações peço sempre que se conserve em mim, essa sede por aprender... e que cada vez mais eu perceba o mundo como é... ou como pode ser...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ESCASSEZ

Escrevo por todos que investiram muita vida para esquecer velhos amores.
Pelos que fizeram escolhas erradas, e para os quais o tempo passou, cruel e implacável, varrendo do rosto alguns sorrisos e da alma tantos sonhos.
Por quem já esteve em lugares de vazios tão densos, que os confundiram com o alto inverno.
Escrevo por cada coração entregue a quem nem bem valia um olhar.
Pelos que já acreditaram em palavras voláteis, e tornaram-se, portanto, vulneráveis diante dos amores de mão única.
Para os que já foram surpreendidos por gestos curtos e palavras ríspidas, e só o que queriam era serem ouvidos.

Por todos os emocionalmente desabitados.
Porque no desamparo o ser humano sabe-se só.
E há a perigosa convicção do abandono, que por mais sutil que seja, míngua a vida da gente.

Escrevo porque dentro de mim tenho memórias de cada uma dessas dores, e porque dia desses ouvi que TRISTE é qualquer coisa viva, que (em algum momento) não sente como tal.

Escrevo então pra tentar fazer diferente, pra propor dias melhores, pra abolir esse abandono, aceitar novos caminhos...

Escrevo para urgentemente lhe estender as mãos...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Do que dura até hoje...

Quando acordo com um sol desses que inundam a janela e a vida,
Me dá uma saudades de ontem, daqueles dias que passavam leves
Quando os sonhos se acumulavam, querendo tanto virar verdade,
e a vida da gente era feita de sorrisos francos e de passadas largas.
E se assanhavam as tardes, prometendo um amanhã tão lindo
que ficaram em mim alegriazinhas emprestadas que duram até hoje...

domingo, 1 de novembro de 2009

Verde

Sempre quis um verde que me coubesse.
Menta, maçã, esmeralda, broto, lima, hortelã, oliva...
Sonhei com essa fusão, com esse encontro.
E com uma comunhão que ficasse ali, aconchegada no peito, sem tantos rebuscamentos.
Algo entre a calma e a euforia.

Um verde prá gente pintar o mundo com a cor dos eucaliptos que descobri naquelas janelas de ontem (quando saia prá respirar um pouco de vida), e trazer de volta alguma alegria esquecida.

Um verde prá ser o conforto que a gente precisa, que refaça os sonhos, que confesse a festa que se faz quando te sinto, e que germine como grão que quer crescer.
Por que todo verde merece um dia acordar flor...




E por que depois de tanto verde vem o dia de amadurecer.

E de acordar... agora como (um esperado) café...