terça-feira, 31 de março de 2009

Flor da Lua

Fotografei-a às 23:45h deste último domingo...A tarde caiu e eu sentada na sacada na expectativa de uma flor que estava prestes a nascer.
Como faço sempre.
Por que ela é assim, só se abre uma vez por ano.
Mas vale a pena esperar...
Algumas esperas sempre valem.

São pouco mais de 30 minutos entre seu início e fim, mas há uma eternidade escondida nesse intervalo.
E há seus mistérios... a enorme flor branca só se abre tarde da noite, sua beleza só dura o necessário para que tenhamos certeza dos milagres desta vida, e seu perfume seduz e modifica tudo a sua volta.

Assistir esse espetáculo, tão breve, mas paradoxalmente tão intenso, só confirma nossa temporariedade e nossa finitude.

É por isso que sorvo a vida por inteiro.
Quero cada momento, por menor que ele possa parecer.
Porque são nesses pequenos intervalos que faço minha vida valer !



Ganhei a Flor da Lua antes mesmo dos meus 20 anos... foi presente de uma amiga da faculdade. Diz a lenda que na noite em que nascem, devemos tirar uma folha da planta e dar para alguém especial. Seu nome científico é Wittii, ou Selenicereus Grandiflorus, são raras e provenientes da Amazônia.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Maria Chiquinha

Engraçado... acho que cresci.
E olha que a gente nem percebe.
Quando será que parei de usar maria-chiquinhas para começar a fazê-las no cabelo da minha pequena ?
Não vivo mais no singular.

Cresci mas ainda quero a vida cheia de bexigas e de brigadeiros.
Quero manter a esperança que me foi dada lá na infância.

Aprendi a acreditar em pessoas que fazem o bem, em tranqüilidade interior, em proteção de pai e mãe, em materialização de pensamentos bons, em diálogo.

Aprendi que ter um filho é a melhor coisa do mundo, que não existe idade, que tomar café na cozinha muitas vezes pode ser melhor que um gole de Romanée Conti, que abraços não têm preço, que a verdade é libertadora, e que homens bons, apesar de raros ainda existem.

Aprendi que dá para crescer sem perder essas pequenas crenças que tem um efeito mágico na construção de nossas vidas.

Cresci sim, mas hoje me deu vontade de usar maria-chiquinhas !

quarta-feira, 25 de março de 2009

Quero estar despreparada...

Convicções fechadas podem ser um grande fardo em nossas vidas.
Certezas absolutas normalmente são limitadores furtando nosso desejo de ir além.

Hoje quero mesmo é mudar de opinião.
Gosto quando removo velhos conceitos, quando experimento o novo.
Quero arriscar, considerar outras idéias possíveis, mudar o ângulo.

Vou rasgar o texto, improvisar, agir instintivamente, considerar alternativas.
Porque desta maneira torno-me tão mais real... tão mais verdadeira.
E só posso me sentir intima à você, se conheceres minhas dúvidas.

Só me aproximo se me souber assim.
Cansei de verdades plenas.
Minha compreensão é fluida.

Prá você quero estar despreparada.
Descalça... de cara lavada.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Isso sim é riqueza...

Quando vou para o trabalho, passo muito próximo de Paraisópolis, a 2° maior favela de São Paulo.

Semana passada, fazendo o mesmo caminho de todos os dias, vi um caminhão estacionado bem em frente aquelas casas humildes, arrecadando doações para ajudar as vítimas das chuvas e das enchentes.
Metade já cheio.
E pasmem... tinha uma enorme fila de pessoas, muito simples, doando cada qual o que podia.


Vi um senhor, descalço, suado, usando roupas velhas, entregando um saco de feijão, outro com um garrafão de água, um saco de arroz, um lençol usado... que lindo !

Talvez se este mesmo caminhão parasse duas quadras acima, numa rua nobre do bairro do Morumbi, ninguém saísse de casa para ser solidário com um desconhecido !


É... nessas horas me dá o maior orgulho de ser brasileira !

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ando tão Outono...

Outono que estou, tenho percebido que o tempo é o do recolher.
Há um princípio de frio, e apesar das manhãs fantásticas e das cores quentes espalhadas por todas as folhas, algo em mim suplica por um longo e térmico abraço.

Sinto o outono na pele... seus ocres, sua chuva miudinha e as elipses de vento fazendo as folhas voar.
Outono do desprender, do desguarnecer.
É essa nudez escancarada que me deixa frágil, que me faz vulnerável.

São as incertezas do outono, que nem bem faz calor, nem tão pouco frio, que me fazem caminhar contrariamente a minha certeza de querer estar solta, livre, independente, é esse outono inconstante que me põe de joelhos a implorar por abrigo...

Ando tão outono que parte de mim excede em matizes, exibe folhas castanhas, cobres, cheiro de geléia e de biscoito de nata, mas a outra parte, a que tem certeza do desprover, a que precede o germinar... essa parte hesita, teme e me faz sentir sob o jugo do inverno, me faz querer ser cuidada, ser protegida...




Hoje começa o outono... 20 de março.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Meu Mantra...

Tenho esse "quadrinho", do tamanho de um postal,
pendurado bem aqui na minha frente.
É como um mantra, sabe ?
Hoje quero emprestá-lo...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Tesouros Especiais

Entrava em cada uma daquelas pequenas lojas para ver as figurinhas de barro, os tapetes trançados, os passarinhos de madeira, e os pequenos oratórios.
Entre tantas coisas uma pedra chamou minha atenção.
Cabia na palma da minha mão e estava deliciosamente gelada, a mesma temperatura da pedra mágica da minha infância.

Mas aquela era outra pedra, e aquele outro tempo.

Um artista local tinha desenhado uma carinha sorridente nela. Uma cara oval e simpática. Lembrei imediatamente da minha mãe e de uma história linda.

Aconteceu quando eu tinha 10 anos.
Mamãe me deu um presente especial, e disse que um dia eu entenderia seu real valor : a pedra mágica. Linda, toda pintadinha a mão.
A pedra dos 10 anos.
A que manteria minha espontaneidade de criança para sempre.
Uma pedra para ser usada na alma.

Tenho-a guardada entre meus tesouros especiais.

Um toque me trouxe de volta àquela pequena loja. Minhas mãos apertavam a pedrinha sorridente :

- Vou levar !

Dei de presente à minha mãe.
No instante em que a toquei soube que também era uma pedra mágica.
A pedra da carinha risonha.
A que permite que a gente sempre encontre um motivo para sorrir.
A que nos lembra que por mais cinzentos que alguns dias possam parecer, haverá sempre um bom motivo para comemorarmos... mesmo que seja o fato de que em algum lugar por aí há um homem que faz pedras sorridentes para as pessoas, e uma mulher que fez pedras mágicas para suas filhas, que um dia elas farão pedras mágicas para seus filhos também, e quem sabe, daqui uns tantos anos a gente finalmente possa encontrar almas de 10 anos, sorridentes, em todas as esquinas...

domingo, 15 de março de 2009

OUVIDOS SÓ PARA QUEM QUER OUVIR

Três jovens sobem as escadarias do metrô, irreverentes, usando jeans e camisetas coloridas, dreadlock nos cabelos, carregando lindas caixas de violino. Andam na direção da Rua Galvão Bueno, em pleno bairro da Liberdade, numa tarde quente de verão.
Param.
Abrem as caixas, tiram os instrumentos.
De repente uma nota.
Duas.
Uma pausa.
E o Bolero de Ravel.
Assim, no asfalto seco, começam a tocar divinamente para as pessoas que passam apressadas, ocupadas demais para prestar atenção àquele espetáculo.
Não pude evitar : parei imediatamente.
Com minha filha no colo fiquei ali, uns quinze minutos, ilhada naquele universo particular, sorvendo cada nota, cada som.

Aquela cena me fez lembrar da história de Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, que certa vez foi ao metrô, por iniciativa do jornal The Washington Post, tocar anonimamente. Quase ninguém o notou. No entanto, poucos dias antes, as pessoas haviam pago mais de mil dólares por ingresso para ver aquele mesmo homem tocando num concerto no Symphony Hall em Boston. O violino que ele tocava no metrô era um raríssimo Stradivarius, avaliado em mais de 3 milhões de dólares.
.
O que será que está acontecendo com a gente ?

Às vezes os maiores tesouros da nossa vida surgem assim, inesperadamente, como os três garotos vertendo suas almas hoje à tarde...

(estou com a foto dos três garotos no meu celular... assim que baixar coloco-a aqui)

sábado, 14 de março de 2009

INTIMIDADE às AVESSAS

Acordei pensando em como devo chamá-los...
Afinal, estamos juntos.
Vocês comigo e eu com vocês.

E nossa relação começa às avessas, a sobremesa é servida antes do jantar.
Primeiro vem a alma, o lado de dentro... nos percebemos pelas escolhas de nossas palavras, por nossas vírgulas, reticências e exclamações !

Nosso estreitamento independe de apresentações formais, e quase sem perceber nos tornamos mais e mais transparentes... vamos nos descobrindo, nos desvendando... e isso nos aproxima.

Não sei a cor de seus olhos, o lugar de onde vieram, o cargo que ocupam, mas pouco importa. Sei mais. Sei o que pulsa, o que insiste em escorregar para a tela, o que revela, o que nos torna frágeis, cúmplices, íntimos.

Aqui ficamos nus.
Somos de verdade.

Estamos entregues, e é bom...



(Deixo um agradecimento carinhoso a todos que por aqui passam.... e só fazem acrescentar, acrescentar, e acrescentar...)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Contramão da Liberdade

Não sei dizer exatamente quando comecei a me desapegar das coisas.
Só sei que cada vez mais quero menos.

Acho toda posse temporária.
Não há nada mais triste do que ter que ter.
É muito mais um compromisso com o outro do que com a gente mesmo. É a fragilidade que nos antecede, é a exposição gratuita, a insegurança que não se consegue ocultar.

Não quero mais reter, acumular ou guardar.
Sem descuidos ou distanciamentos, mas acho que guardar é a contramão da liberdade, e quero urgentemente o despojamento dos bons, a autonomia de quem já aprendeu que compartilhar é aumentar, que dar é potencializar.

Afinal, guarda-se somente o que não se têm.
Preciso esvaziar para me sentir cheia.

domingo, 8 de março de 2009

O Preconceito Isola...


O preconceito é fosco.
É a rigidez dos tolos.
É um não pertencer.
Uma renúncia à liberdade.
O preconceito enxerga o mundo de maneira imprecisa, torna o amor inacessível, nos faz intolerantes e equivocados.
É arma que dói, perfura, segrega, maltrata.
O preconceito isola.
É monocromático. Faz perder, entristece, furta.
Quero desaprendê-lo.
Quero ser o avesso de um prisma. Receber um arco-íris de diferenças e processá-las num único feixe de luz, para que esta seja então, a luz a nos iluminar : a filha das cores, da miscigenação, a prova de nossa igualdade e de nossa comunhão.
Quero ser um arco-íris branco, um manifesto de paz.
Porque o preconceito ainda é grande...
mas a gente, a gente pode ser muito maior.

sábado, 7 de março de 2009

Seu tamanho...

O que posso eu, agora, diante de teus olhos sedentos, dizer, que ainda não tenha dito ?
Que o Universo, absoluto como é, lhe ilumine sempre os caminhos ?
Que sua vida seja cheia de bons momentos, de paz, e de muito amor ?
Sim...
Mas tudo isso eu já disse.
Digo, na verdade, todas as noites, quando, antes de dormir a gente conversa.
E conversamos muito.

Procurando algo especial para este momento, lembrei-me de um bom livro.
Negras Raízes.
Omoro e Binta Kinte tiveram um filho : Kunta.
Após o ritual de boas vindas ao novo membro daquela família o pai carregou seu filho até os limites da aldeia e ali o levantou para o céu e disse :

- Eis aí, a única coisa que é maior que você mesmo !

Faço destas, as minhas palavras meu amor.
E que o mundo lhe abençoe, hoje e sempre.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dor adicional

Já sofri por amor. Todos sofremos.
Mas sofremos ainda mais quando a partida se dá assim...
sem que a gente nem perceba...

A estes seres que saem para “comprar cigarros” e nunca mais voltam, o meu pesar e o meu recado :
Não partam em silêncio.
O silêncio é cheio de possibilidades, e tentar entender esta lacuna que se cria é de um sofrer indefinível.
Se ao menos você tivesse sido dito :
- Foi isso.
Teria sido só isso.
Então talvez não houvesse essa dor adicional, esta do não saber... pois há sempre uma explicação qualquer, de tamanho certo e de verdade certa.

Afinal, um adeus deve ser sempre só um adeus.
E assim voltamos a ser livres. Pois só a verdade é capaz de nos libertar e de fazer nascer, a despeito da dor, um grande sorriso pelas lembranças dos tempos idos.

É por isso que digo que é na capacidade que se tem para finalizar as coisas, que diferencio os que querem ser homens, dos que já o são.

terça-feira, 3 de março de 2009

Ainda há SIM gente neste mundo !

Se pudesse enviar uma resposta ao Poema em Linha Reta de Fernando Pessoa...

"Arre, estou farto de semideuses !
Onde é que há gente no mundo ?”

...não seriam necessárias palavras, eu simplesmente o pegaria pelas mãos e pararia bem em frente a estes POSTES lindos.
Postes feitos por gente que acredita que um pequeno gesto pode mudar um dia, gente que procura fazer a diferença, gente com atitude, do bem, gente que acredita em gente.

E ficaríamos ali, por alguns instantes, só contemplando...

Viu, Pessoa ?
Ainda há SIM gente neste mundo !


domingo, 1 de março de 2009

Saudade que ainda posso dar um jeito

Saudade do agora, que vejo escorrer entre meus dedos, que mal acabei de escrever e já virou lembrança.
Mesmo as incertas, de claridades foscas e sombras ligeiras, me aquecem a alma.
Saudade que acentua a solidão que insisto fingir não vejo.
Que é como brasa incandescente e eterna, que surge ao fim de um fumegante rastro, clareando de laranja o que já foi um fogo chamado amor.

Saudade assim não é sentimento abstrato.
Saudade bem sentida é palpável, traz muito mais que os ocres das memórias, pode ser aspirada, é térmica.

E, nessas horas, a gente sente saudade até do que nunca possuiu, de ruelas entortadas, de fogão de lenha, de bonde, de serenatas.

Ah Deus ! Obrigada pela saudade que ainda posso dar um jeito, aquela das pessoas que estão por aí, que ainda fazem parte de minha vida, e que por tanta correria acabo tolamente deixando de abraçar...