segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Incompletude

Um barco a vela, a deriva, merece um porto.
Uma mulher enluarada, a mercê de um afago, merece colo.
Um homem só, sem direção, merece um encontro.
Uma mão em concha, em vigília, merece uma oração.
Folhas secas, que já não servem ao outono, merecem vento.
Lençóis de linho, quase ninho, merecem amantes.

Por que esse desamparo das coisas soltas, essa incompletude, essa urgência dos pares, estão todos em mim.
Como uma angústia leve e cíclica... que não me abatem, mas que me fazem querer ver esses amores todos conjugados.

Por que deveria ser proibida essa imensa falta que você me faz...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Acumulo...

É assim que te espero...
Nua.
E com meu ventre côncavo, enquanto prendo o ar,
num instante único, fugaz, entre um respirar e outro,
como se assim pudesse perpetuar o arrepio que me percorre,
e estender a duração daquele instante de amor.

É assim que te quero...
Ao revés.
Com essa alma que não amansa nunca,
de gestos rápidos e carinhos avessos.
Por que gosto da suas mãos ásperas, das palavras curtas,
e da intempestividade dos seus toques quando em mim.

É assim que te amo...
Entregue.
Com o coração dilatado, cabendo ainda um pouco mais.
Por que com você, aprendi a acumular amor.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Deserto

E madrugada adentro parece que as pessoas
não querem mesmo suas casas.
Querem qualquer coisa menos o deserto da solidão.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vazio

Nossos beijos eram todos alicerçados numa história passageira.
De felicidades rápidas e euforias impermanentes.
E para que não me escapasse nada,
Nenhuma linha ou traço,
Nenhum nó ou viés,
Anotei cada gesto em bilhetes.

E simulei uma intimidade que nem existia.
Ninguém fingiu melhor que eu.
Enquanto você tentava me caber, eu tentava te amar.

E a gente, que até tinha uma história charmosa,
dessas feitas de acasos, encontros e paixões,
não sabia fazer durar mais do que um instante.
Porque é preciso muito esforço pra manter esse tipo de alegria.

É preciso saber dar um riso oco.
E acho que não sei sorrir assim.

sábado, 19 de setembro de 2009

Poesia para os olhos...

Fotografias que tirei em julho, agosto e setembro de 2009

É certo que existe fumaça demais, medo demais, mentira demais.
A intolerância cada vez fechando mais portas e mais janelas.
Há desleais fingindo sorrisos, e a aparência sendo servida como prato principal.

Mas há meus olhos, que insistem em ver as garrafas nas janelas, os besouros de luz, os cogumelos ocres, a folha-flor, os verdes, o sol...
E enquanto estiverem ali, do outro lado das lentes da minha máquina, no meio do caminho (do meu e do seu), haverá poesia.
A que a gente escreve, e a que a gente vê.

Porque, desculpe, mas insisto em ver como a vida é bela !

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um dia a gente descobre que gosta...

De vez em quando o silêncio, o olhar sem graça, um ciúme atroz.
O lugar não ido, o sorriso engolido, um abraço contido.
Toda essa vida roubada só para caber nos moldes de alguém.
Para fazer bonito, para acalmar a fragilidade do outro.

Como se pudéssemos abrir mão da gente mesmo.
Como se assim fossemos merecedores de um afago qualquer,
Que nos alimenta sem nunca saciar,
Que se tem ao lado sem nunca preencher.

Até que um dia se acorda precisando assobiar.
E dá uma vontade louca de atravessar a rua.
A gente quer sair por aí distribuindo sorrisos, fazendo amigos.
E some o medo de perder.

E é exatamente quando a gente arrisca a ser livre.

E descobre que gosta.

domingo, 13 de setembro de 2009

ai, ai, ai, ai, ai....

Engraçado...
As vezes o dia amanhece lindo, mas lá dentro do peito tem uma nuvenzinha fosca, enroscada no coração, fazendo a gente lembrar que dói assim... um amor que vem, outro amor que vai...
ai, ai, ai, ai, ai...

.


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

CONTEMPORÂNEA

Dentro de mim há uma mulher que distribuiria panfletos em praças públicas, e uma que teima em querer fazer bolo de fubá e enfeitar a casa.

Esse acúmulo de desejos, antagônicos às vezes, me tem feito refletir...
Há sempre uma hesitação na trajetória das mulheres.
Queremos sim arregaçar as mangas e construir um novo mundo, mas há também a delicadeza, a feminilidade, e a intuição, que não devem submergir sob terninhos pretos, contratos, e corpos cansados.

Ser mulher é ser plural.
É ter sempre um grito abafado no peito.
Mas, sobretudo, é ter uma enorme vontade de afagar... e de acolher...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Casa Habitada

Ter um livro nas mãos é como tocar em alguém.
É íntimo, é revelador, é criar um laço forte.
Mas alguns são ainda mais especiais.
Especiais pelo caminho que os fizeram chegar às nossas mãos.

Seguro “A Casa das Fadas” como quem segura um tesouro.
Gosto do cheiro, da ansiedade antes de começar a folhear, das cores, da dedicatória.
Mas gosto mesmo é de casa habitada, sobretudo por fadas.

Um livro que fala de vulnerabilidade, de adoção, de abrigos, de família e de crianças.
Tudo isso faz parte da minha vida.
Ler então, foi conhecer um outro lado da mesma moeda.
.
(e com direito a um adicional... esta foi a primeira vez que um amigo blogueiro, sai do virtual, em forma de livro, e coagula-se em minhas mãos).

Assim como o Dudu, personagem central do livro, aprendi a guardar coisas em meu coração.
Hoje cedo coloquei o livro lá.

sábado, 5 de setembro de 2009

SAINDO FORA...

Ele só passou pelos meus olhos.
Como quem quisesse se esquivar.
Trouxe um discurso pronto.
E de tão bonito, quase vazio.

Segurou minhas mãos, e tremia levemente.
Tão previsível, e quase sem fé.
Escolheu as palavras, mas não lhe cabiam na alma
Eram ditas quase apressadas,
para que fitar-me durasse somente um instante.
E para que sustentasse a decisão.

Tudo bem...
Já sei ser tão diferente
E consigo achar bonito até mesmo esse amor que se acabou.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sonhos na Contramão

Gosto dos que sonham.
Otimismo e largos sorrisos sempre acabam me convencendo.
Porque sonhar é bom.
Turbina a alma e estimula a vida.

Mas viver só de sonho é armadilha perigosa.
E como há.
Esquivam-se da realidade andando em areias movediças.
Sustentam belezas temporárias.
E se alimentam de tudo que poderia ser...
Mas que não é.

E, se acordamos frágeis, corremos o risco de andar na contramão desse velho trilho.
Com sonhos estéreis,
Que sem poderem ser reais,
Só nos fazem furtar o amanhã.