segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

feliz natal

Que a gente não perca a fé, nem o ritmo.
Que saibamos demorar o olhar nas coisas e nas pessoas, e que, por isso,  possamos perceber a lindeza que há por trás do óbvio.
Que possamos viver esse curto-circuito lindo chamado desejo, e que fique claro que o amor melhora a gente...
Que tenhamos coragem para dizer ‘sim’, e para reconhecer que é essa pequena palavra que determina a nossa vida.

Desejo a todos um Natal terno e doce...
e que Deus nos permita continuar essa lindeza que é o viver !


sábado, 10 de novembro de 2012

de quando ergo a beira da saia...

Sou menina de novo assim que teus olhos pousam em mim. É que eles vão me devolvendo, pouco a pouco, tudo que eu já nem lembrava. E é justo nesse minuto que antecede o toque, enquanto estou presa nesse olhar tão cheio de promessas, é aí que não me reconheço.

A mulher dentro de mim deseja um beijo úmido que escorregue da nuca aos seios, mas a menina que mora naquele instante só sabe erguer a beira da saia, lenta e timidamente...
mas logo você me beija.

Fico tão menina que, em vez de sinos, ouço música:

  ...não somos mais que um punhado de mar
uma piada de Deus, um capricho do sol no jardim do céu...
deixe que o beijo dure...  

É.
Faz isso.
Deixe que o beijo dure.


(trouxe do novo blog para cá... não sei partir do "Eucaliptos"...)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

de uma alegria tola...

Tateio o escuro buscando na solidão das tuas mãos alguma coisa que não seja só um ponto de interrogação. Experimento uma lentidão que quase me machuca, que quase me assusta. Nessas horas só o que sei fazer é apertar os olhos bem forte para não ver o medo.

Decido ignorar tuas dúvidas. Pouso a boca rente aos teus lábios, fico tão próxima que sinto o sal fininho do beijo arranhando a nossa pele. Ouço um gemido baixo, quase inaudível, que faz a pele arrepiar. E se lá fora o mundo mente, aqui dentro sua respiração acelerada não o faz. Tuas mãos vieram se aninhar entre as minhas pernas, e agora sei que me deseja.

Sinto uma alegria tola cuja grandeza adjetivo nenhum pode conter.


(trouxe do novo blog para cá... não sei partir do "Eucaliptos"...)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

e se eu não souber brincar de beijo ?

Gosto de verdades ditas.
Sou prática em determinadas questões: 
ou você quer ou não quer.
Raquel de Queiroz


Tínhamos atravessado a noite atrás de palavras que pudessem justificar o beijo que queríamos dar, assim como se não soubéssemos que o desejo não cabe no verbo.
Buscar a lógica do bem querer nos deixou exaustos, 
e nosso beijo nasceu desse cansaço bonito.
E, naquela hora, o que era medo se misturou à canção.
Vi escapar um sorriso do canto da tua boca, e quase todos os sonhos couberam ali.

Mas a manhã que se insinuava, a despeito do instante, trouxe de volta a razão... e o seu discurso, que tinha se desmanchado em beijo, voltou a ser só palavra.
O dia endureceu o afeto e me senti estupidamente indefesa.
Acho então que não sei brincar de beijo.

Não se vier vazio de todo o resto.


(trouxe do novo blog para cá... não sei partir do "Eucaliptos"...)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

quando o amor é uma hipótese...

Ele era objetivo e prático, permanecia quase o dia todo nesse estado inalterado da razão. Espartano em cada gesto que calculava antecipadamente. Dizia que gostava das verdades escancaradas, até mesmo daquelas que nunca deveriam ser ditas (ou pensadas). Cheio de certezas.

Até que ela apareceu.
E sorriu para ele... desvendando, sem pudores e sem pecados, os caminhos sinuosos que ele nem lembrava.
Alongou os braços lentamente, até tocá-lo. Delicadamente.

Ele se sentiu disparado de um canhão sem rumo.
Fragilizado em sua imperturbabilidade.
Só lhe restou então, uma certeza : a da dúvida.
E o amor era uma das hipóteses.


(trouxe do novo blog para cá... não sei partir do "Eucaliptos"...)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

das coisas que já nascem bonitas...

Eu repetia muitas vezes que estava feliz por estar sozinha (afinal, há pouco tempo eu duvidava que conseguiria), e mantinha aquela crença de que é preciso viver o ‘luto’, de que há sempre um período sabático a ser percorrido depois de uma separação.
Mas... então como explicar o acaso ?
Como explicar você ?

Tudo tão inesperado...
E aquela eletricidade que percorria meu corpo inteirinho quando você se aproximava ?

Tentava repetir o mantra dos benefícios da solidão, mas só o que me vinha a cabeça era você sentado ali, reduzido à tua significância. Que era tão grande.
Tão grande.


(trouxe do novo blog para cá... não sei partir do "Eucaliptos"...)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

das incandescências...

Faltavam 2 ou 3 quilômetros, mas o trânsito era tanto que eu sabia que ia levar ainda uns 40 minutos. Olhei para os outros motoristas, mas eles não tinham rosto... é que ando tão 
‘so far away’ que só o que eu soube fazer foi prestar atenção na música alta: Ana Carolina cantava assim :

            ♪ ♫ ... vou bater na sua porta de noite
completamente nua... 

Vasculhei a bolsa atrás da moleskine
Precisava me esvaziar das palavras.

Escrevi, escrevi, escrevi... e soube que, a despeito das horas, minhas palavras eram sempre noturnas.
Soube também que, naquele instante, estava abrindo outra janela.
é...


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

- fim do blog -


Termino exatamente como comecei : com Chacal.

“Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar...”


É que um dia a gente tem que ter coragem de desgarrar.
A gente tem que ter coragem de partir.

Já faz algum tempo que não me sinto exatamente ‘em casa’ por aqui. Já faz algum tempo que não me reconheço nessas linhas que foram tão minhas.
Mas tudo foi ganho.
Verti aqui minhas histórias, meus amores, os medos, os sonhos, mas, sobretudo as minhas incandescências...
Por 4 anos.
Mas hoje eu quero mais.
Quero o novo, quero o desconhecido.

Hoje os sapatos pediram para parar.
Hoje os eucaliptos que me interessam 
são só os que eu posso tocar.


Agradeço imensamente a companhia.
Impossível conseguir mensurar o valor de cada um que por aqui passou.
Sou cheia desse amor bonito, e vou com ele por dentro.
Jamais serei a mesma.

Obrigada.
Muito, muito...

Solange Maia

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

não seguro mais essa ideia de ‘no futuro’...


Quero que saiba que ‘não me dar’ me faz desabar por dentro.
E que desabo também todas as vezes que você aparece com aquele jeito doce me convidando prá ser feliz, e depois quando finge estar meio distante, mas sem nunca desviar os olhos de mim. Desabo por todos os encontros possíveis que você inventa, e por saber que me esquivo de todos eles.
Ando tão arrependida por recuar, por chegar sempre atrasada aos teus pensamentos, por pensar demais...

Preciso encontrar um jeito de te falar que só o que eu quero, é que me queiras.
Quero que me dê um desconto, que não desista, que perdoe minhas inseguranças.
Que esqueça todos aqueles medos que te contei.

Preciso te falar que não quero falar mais nada.
Que não seguro mais essa ideia de ‘no futuro’,
que cansei dessa estupidez.
Hoje acordei assim, querendo viver o ‘agora’.
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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

sorte ?


De vez em quando sinto uma alegria prematura, dessas que se anunciam antes mesmo de existir.
E para que ela não escape pela janela dos olhos, deixo-a em mim. Só por um instante. E é nesse momento silencioso e íntimo, que ouço o coração me pedir coragem.
Ontem foi assim.
Sorte ?
Na hora nem percebi, mas naquela mesa, éramos “nós”.
E foi tão fácil...
Torço, então, para que volte aos meus olhos.
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terça-feira, 2 de outubro de 2012

um risco para os inexperientes...


Não distinguo ‘hoje’ da ‘semana passada’. Não internamente.
O tempo anda tão veloz que custo a acompanhar, mas gosto. Gosto porque estou mais uma vez num daqueles momentos de renascer, de novo pondo o coração para descansar.
No começo achei que poderia sobreviver dessa imensa paz que sinto por ter virado a página. Mas não.
É preciso muito mais.
E desconfio que ando perdendo alguma coisa.
Por isso encolho os ombros e penso no tempo, voraz. Encorajo-me... é que não consigo evitar a vontade de querer amar de novo.

Agora engulo os dias, me refaço, e não arrisco mais com a palavra "amor".
O amor é para gente séria.
É um risco para os inexperientes.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

de como nasce um pecado...


Enquanto a noite dorme, acendo uma fogueira imensa em teu peito.
São tantos labirintos densos, tantas curvas, tantos vãos.
Minha boca trêmula desaprende as falas e só sabe ser fome.
Onde nossas mãos tocam nascem rios de fogo.
Tantos gestos, tantos caminhos...

Entrego-me ao verão que me consome e satisfaço todos os teus anseios.
Viro um desejo úmido, um entardecer na praia.
Viro boca.
Sou só lábios.

E se amanheces em mim,
aí  então nasce o meu melhor pecado.
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terça-feira, 25 de setembro de 2012

quando o nada é tudo...


Esse é um texto para fazer pensar quem não gosta de definições comuns. E, em minha opinião, é uma bela forma 
de ver as coisas.

Há um oleiro no Jequitinhonha que diz que seu trabalho 
é cobrir o vento... cobrir o nada.
Ele diz que uma peça de barro é isso: uma separação no vazio, e conta que todos os dias ao acordar faz um vaso diferente só para guardar dentro dele o ar fresco da manhã.
Portanto, 
e incrivelmente, 
a utilidade de um vaso está em seu nada.
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

da alegria...


Já percorri o caminho dos prazeres, senti-los todos sabem...
Mas o que quero agora é sentir também a alegria.

E alegria é bicho que mora em outro lugar,
é passarinho que voa entre as horas,
flutua no céu esparramado e fugaz,
e passa.

Alegria talvez seja essa eternidade que a gente sabe 
que dura só um instante.
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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

dessa vontade insatisfeita...


Tem dias em que preciso de mais.
É isso.
Morro de uma vontade insatisfeita de pertencimento.
Eu sei que distância pode ser só uma palavra, ou uma maneira de olhar, mas sabe aquelas horas em que a gente queria o amor ao alcance do abraço ? Ou um punhado dessas certezas que não existem...
Ando cansada da poesia, querendo trocar versos por tuas mãos macias deslizando entre as mechas do meu cabelo.
Queria esticar o gesto.
Queria te alcançar.

Não sei entender, mas ainda me sinto pequena, 
bem pequena...
a despeito dessa gente que me olha com pressa 
e fica me enxergando grande !
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sábado, 8 de setembro de 2012

quando quero me dar a você...

Na fruteira da sala ameixas abrem-se e perfumam o ar.
Não penso em comê-las, não são frutas naquele instante...
Talvez tenha sido nossa conversinha mole,
talvez esse meu desejo de olfato, não sei.
Mas as ameixas eram flechas certeiras que atravessavam o espaço apontando diretamente para os meus instintos mais primitivos. Era eu que pensava em você e exalava aquele perfume tão feminino.
Há uma palavra francesa para isso :
Cassoulette.
Sim, esse cheiro de gente, de calor, de feromônios,
e dessa flor em que me transformo quando quero
me dar a você...
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

prá me sentir 'normalzinha'...

Ela tem na sala a escultura de uma mulher com a cabeça cheia de pregos, e que ainda assim é absolutamente suave...
Ela acha que essa mulher é ela.
E, todos os dias, quando a vê, é como se olhasse no espelho e entendesse que essa dualidade é possível.

Então, só depois de contemplá-la, sabe sair por aí achando que nem tudo está perdido !
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(escultura da paraibana Nenê Cavalcante)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

não conta prá ninguém...


Então encolhi os ombros e suspirei.
Contei a ele o meu segredo.
Não era fácil falar assim, tão francamente, mas queria muito seguir adiante, e precisava romper com aquele ciclo carimbado de desconfiança que me habitava, precisava deixar que amanhecesse...

Desde muito nova cuido prá que ser feliz dê certo, 
mas uma coisa é fato : sou a soma das minhas perdas, 
e de tudo o que me falta.
Agora ele já sabe.
Também sou as minhas subtrações.
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domingo, 26 de agosto de 2012

então eu menti...


Sobre a cama uma porção de livros esparramados.
Ele escolhia, e eu lia.

Estranho... era sempre ao lado dele que me lembrava
que saudade é ser metade. E, de repente, senti alguns vazios tão solidamente, que esqueci a voz.
Ele interrompeu o meu silêncio pedindo mais um poema.

Abri um livro qualquer, mas daquela vez não li.
Menti.
Menti uma poesia.
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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

do tamanho do Vale do Paraíba...


Aquela coisa toda me dava vontade de estender a mão e tocá-lo.
Mas não era o momento, havia ainda um Vale imenso nesse intervalo entre a mão e a pele.
É que de vez em quando ele me colocava bem em frente aos seus olhos, para que eu pudesse vê-lo lá dentro, e aí eu esquecia aquele nosso desvelar delicado e ficava pensando só em bobagens. Ficava querendo desabotoar o vestido, trançar as pernas nas dele e não falar mais nada, porque às vezes é assim que converso, é assim explico todos os meus caminhos.
Mas, não.
Agora não.
Com ele quero o Vale inteiro.
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

foi a gota d'água...

A chuva escorria pela vidraça.
Os pingos descobriam seus pares e partiam.
Imersos neles mesmos.

Alguns não.

Alguns pingos eram solitários,
não saíam do lugar.
Para eles, a solidão era a gota d’água.
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

às vezes preciso descansar das palavras...


Às vezes preciso descansar das palavras.
Preciso usar as mãos...
São horas de tocar, de perceber tantas coisas que só o tato é capaz. Preciso dialogar com a pele, esquecer esse abstrato flutuante das letras.
Tenho as mãos soltas, que independem do corpo, que estão vivas, e tem horas que elas se elevam furiosas, noutras são feitas só de afagos.
Em alguns dias elas são cansadas e perdem o desejo, noutras são fome, fogo, flerte, fúria...
Minhas mãos são um delta.
Delas corre minh’alma que quer tanto tocar em outra.
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terça-feira, 14 de agosto de 2012

nunca estou sozinha...


Sou tanta gente.
É que ninguém passa por mim de forma indiferente.
Nunca mais sou a mesma depois de um encontro, seja ele qual for, que dure só um instante, ou uma eternidade.

Viro essas histórias misturadas,
o caminho dos outros fundido aos meus,
esse emaranhado de vida que fica colada à minha pele.
Sou as lições de tanta gente.

Sendo assim, nunca estou sozinha.
Sou Solange,
e sou feita de uma multidão.
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sábado, 11 de agosto de 2012

eu faria tudo que você quisesse...


Tenho tido tantos pensamentos nus...
É que a madrugada possui uma carga semântica de erotismo que é reforçada por aquele estado de quase sono, e é justo nesse instante, quando eu “baixo a guarda”, quando paro de pensar, é aí que escorrem de mim as palavras curvilíneas do desejo.
É quando lembro que o sexo tem a bondade de nos livrar de qualquer preocupação.
Quando quero atravessar o portal que me leva prá dentro do teu corpo, quando fico irrestrita, ilimitada.
São meus pensamentos pornográficos que suscitam os afetos, ou são os afetos que me levam a este desalinho ?
Não sei, só sei que vou me desmanchando, até que reste só a mulher.
E nesse instante sou só fêmea, e confesso : 
faria tudo que você quisesse.
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

não existe explicação...


Um dia a gente se pega sentado na calçada da frente de casa com a chave do que seria o nosso futuro nas mãos.
Olha prá ela e já nem sabe o que fazer. Tantos planos, tantos sonhos, e, de repente: mais nada.
Então começa a doer.
Dói pensar no tanto de tempo que a gente investiu acreditando naquela relação e nos doando.
E aí a gente passa dias procurando duas ou três respostas que façam sentido, que nos permitam entender porque arriscamos tanto, porque acreditamos tanto...
Mas não existe explicação.
E no fundo, a gente nem precisa dela.
No fundo, o que a gente quer mesmo é voltar a ser feliz, e geralmente não percebe que a felicidade é justo esse instante em que descobrimos que a despeito de restar ainda um gosto amargo na boca, há um sonho novo esperando por nós.
E sofremos com isso.

- Sofremos é passado ?
- É. É passado e é fodido.

Mas até o passado, passa.
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domingo, 5 de agosto de 2012

o dia seguinte...

...
Você me telefona, diz que está nu, e me distrai de todo o resto. 
Enquanto ouço as tuas palavras tiro a roupa também... e penso em todas as coisas boas que a nudez proporciona.
O outro. É isso que a nudez oferece. Escancaradamente.
E não deve existir coisa melhor.
Escolho uma musiquinha chill out e fecho os olhos. Mordo o lábio inferior e esboço um sorriso só na curva do canto do rosto.
Tua nudez deixa a atmosfera tão flutuante que já nem sei onde você começa e onde termina essa neblina que deixa o meu olhar um tanto tonto. Abro os olhos só prá conferir, e quase posso ver a cama desfeita, numa desordem que desequilibra o único risco do sol sobre os lençóis. Ainda sinto o cheiro de fruta dos gomos da tua boca.
Posso sentir o afago do teu corpo abandonado sobre o meu...
Posso ouvir o gemido, e já nem lembro se era o meu, o teu, ou se era da música que incendiava o ar.
Pouco importa, agora o tato é pouco.
A vontade que tenho é de lamber as tuas mãos, ou qualquer outra ternura que me funda a você.
Meu coração improvisa um suspiro, e posso até fingir que não amanheço atravessada por tua ausência.
É que eu nunca sei existir no dia seguinte.
...
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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

o ciclo da solidão...

Ele era feito para amar e zarpar.
Como as paixões que duram só uma tarde, ou, com sorte, um pouco mais.
Nada lhe bastava, nem tampouco uma possível alegria.
Partia sempre como quem se despede de mais um erro na sua vida cheia de esconderijos.
A alma de cicatrizes lhe punha sempre com pressa. Assim, doía menos. Era feito de janelas e portas, todas trancadas, mas com as chaves expostas. Não sabia se curar dessa indisciplina diante das relações.
Justificava sorrindo, e dizendo que adorava o ciclo da sedução.

Mas faltavam-lhe forças quando queria ser quem realmente era, então fazia esse personagem e fingia indiferença.
Depois morria.

O ciclo era outro.
Era o da solidão.
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terça-feira, 31 de julho de 2012

eu não existo...

Na sala ao lado o casal dança.
Tocam-se em poucos lugares, talvez só as mãos, embora pareça que cada célula deles está ligada.
A escola de dança não existe. Eu não existo. E não existe mais nada ao redor que não eles mesmos.
A pele deliciosamente sincronizada. Nenhum gesto é isolado.

A beleza do instante era, em grande parte,
pelo que não se podia ver.
Havia um jogo acrobático de sedução, um erotismo pulsante.
Nessas horas a palavra não chega, ela é muda.


(fotografia clicada via celular, hoje, às 20h00, na Academia de Dança da Bebela)

domingo, 29 de julho de 2012

de quem salva o mundo...


Tá.
O mundo anda duro, cheio de violência, corrupção, decepções.
Mas às vezes... às vezes têm gente que o salva.

O menino desce do morro prá florir.
Embora ele só calce um pé de chinelo, e,
a despeito da pobreza iminente, e das prováveis privações,
em algum lugar dentro dele é primavera.
E tanta, que naquela hora ele é feito só de hibiscos.

Diante de quem sabe falar de amor me comovo sempre.
Sempre.
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(fotografia clicada por Bia, minha irmã do meio, que soube ‘salvar’ 
meu olhar naquela tarde... - Rio de Janeiro)
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quarta-feira, 25 de julho de 2012

das princesas pós-modernas...


A menina acordou se sentindo no meio de um conto de fadas, que se não fosse tão ‘pós-moderno’, teria sido escrito pelos irmãos Grimm, que se não ocorresse num país tropical, teria ocorrido às margens do lago Constance, na fronteira entre a Alemanha e a Suíça, que se não tivesse o Vale do Paraíba no meio, teria a Floresta Negra, que se não tivesse começado com as palavras desconstruídas de Manoel de Barros, teria começado com o famoso Era Uma Vez...

É que de vez em quando alguma coisa (inter)rompe a rotina...
desconfio que seja a verdade, e não a fantasia.

A vida mostra que histórias são histórias, lá longe ou aqui perto, e, que o que as torna 'encantadas', não são as fadas, 
são as possibilidades.

É assim que, sem nem esperar, essas coisas acontecem.
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sábado, 21 de julho de 2012

não quero fazer amor...

Hoje eu não quero fazer amor.
Sinto-me estupidamente insegura,
só porque lembrei que tudo é temporário.
Quero apenas dormir com as tuas roupas.
Quero essa intimidade, que mesmo reduzida de significância (por ser um gesto tão comum), é tão grande.
Hoje nada pode ser mais afetuoso.
Acho que assim deixava descansar o coração desse bem querer tão transbordante, até que ele cansasse.
E dormisse.

Solange Maia

quarta-feira, 18 de julho de 2012

da sorte de quem sabe amar...

Estou revendo a minha vida.
Ando assim... querendo por perto só pessoas inteiras,
trocar teorias por atitudes.
Promessas já não me ganham mais.
Cansei de chegar atrasada ao momento seguinte.
Agora quero a sorte de quem sabe amar.

crossing fingers... !
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sábado, 14 de julho de 2012

segredo...

Não sei se as pessoas viam o que eu via.
Mas ele era um homem para escutar, e para acolher.
Além daquele mistério ácido e do olhar enviesado, tinha alguma coisa bonita que o permeava, uma doçura embaixo da pele.
Os outros não sei, mas eu sabia me encontrar com ele.

E, nas horas oníricas que eram nossas, não havia posse,
nem regras, nem nome.
Alguma coisa nele era minha. De mais ninguém.
Talvez fossem as palavras, que como chaves iam nos abrindo, que como chaves iam nos guardando.
Não sei. Só sei que esse segredo me punha um sorriso vasto no rosto.
Porque o que os outros sabiam, era a história dele,
todo o resto, era só meu.
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domingo, 8 de julho de 2012

fazer bobagens...

Onze da noite, três graus.
Beijava tua boca e me atirava prá dentro de você sem te poupar de nada. Assim, como se estivéssemos na primeira cadeira de uma montanha russa...

A gente nem se conhece direito e eu nem sou desses impulsos, mas talvez seja o silêncio amadeirado do chalé, ou o frio da paisagem. Talvez não. Talvez seja minha respiração que faz desenhos de fumaça no ar gelado, e que me faz pensar num monte de bobagens que podíamos fazer juntos...

Meia noite, dois graus.
E já nem sei o que vim fazer nessa ilha que me parece cada vez mais deserta agora que você existe...

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sexta-feira, 6 de julho de 2012

era outra coisa...

E, finalmente, percebi que o que eu sempre pensei que fosse o meu grande amor, talvez não fosse...
O que eu supostamente sentia, talvez tenha sido só um misto de saudade, de nostalgia, orgulho ferido, e, sobretudo de muita teimosia.
Acho agora que nem existe amor mal resolvido, existe só essa frustraçãozinha tola de quem subverte a realidade, transformando uma velha historia num filme bonito.

Foi assim que de repente nem havia mais nada para falar.
Passou.
Virou passado.


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