domingo, 28 de abril de 2013
eu podia ser mais magra...
Eu podia ser mais magra, ter uma boca maior, e muito menos rugas. Mas tenho cuidado mais da minha musculatura emocional do que da outra.
E ando bem cansada dessa gente que se gaba só disso.
Gosto quando vejo em alguém que uma camada se levanta. Depois outra. E mais uma. Cada qual mais bonita, mais misteriosa.
Gosto do corpo possível, da fragrância que vem da alma, do prazer das simplicidades.
Bonito é ser a gente.
É a comunhão do visível e do invisível.
Bonito é isso,
e a liberdade de viver assim é boa demais para se renunciar.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
é... só tinha de ser com você...
Uma vez, há muito tempo atrás, estive do outro lado do mundo. E de lá, pude ver uma estrela brilhando bem forte no céu. Há 11.000 milhas tinha alguém fazendo a mesma coisa, ao mesmo tempo.
E lembro que, comungando aquele céu, nos sentimos absurdamente perto um do outro...
Hoje no céu tem uma lua linda, enorme e amarelada.
Acho que uns quinze anos se passaram, e desta vez são só 254 milhas, mas a mesma pessoa estava lá, ao mesmo tempo, e fizemos exatamente a mesma coisa !
terça-feira, 23 de abril de 2013
das palavras que não têm medo de fracassar...
Sonhava com o dia em que o amor lhe sairia pela boca usando palavras
que não tem medo de fracassar.
E com a liberdade absurda que isso a faria sentir.
Sabia de uma ternura que viria junto com essa franqueza inesperada
e desconcertante, e que só isso seria capaz de redimir todas as pequenas
covardias cometidas porque ela nunca tinha atravessado a fresta estreita das hesitações.
Precisava de uma coragem grande,
e dele só um pequeno sorriso, mas daqueles que não desperdiçam
nada.
Era na miudeza que ela queria ser feliz.
domingo, 21 de abril de 2013
ela teve medo...
O moço na frente dela estava triste. Ela queria ter perguntado
o que tinha acontecido, e dizer a ele que essas coisas passam, e que não sabia
explicar exatamente como, mas tinha certeza que dias melhores viriam. Sentiu
por ele um bem querer robusto, embora delicado. Queria ter lhe estendido às
mãos, mostrar que não estava sozinho, e também ter contado da vida dela. Queria
o ter acolhido, ter cozinhado pra ele, feito daquela noite um refúgio íntimo e
confortável...
Mas não fez nada disso.
Teve 'medo'.
É que diante dele sentia uma fragilidade de vidro.
Uma transparência absurda.
Eram tão parecidos que nunca sabia ao certo se aquela era a história dele, ou a dela.
terça-feira, 16 de abril de 2013
desligo a razão...
Entrego-me ao meu
desejo de maneira orgânica e celular.
São horas em que
não sei o que a minha cabeça pensa. Desligo a razão. Esqueço as alegorias
que complicam tanto o bem querer. Sou primitiva,
sou só tato e olfato.
Sou permissiva, viro apetite, viro banquete.
Abandono qualquer
gesto que
possa sacrificar a naturalidade do instante.
Não penso.
Não penso.
Viro só essa vontade
honesta e esse desejo sólido.
Viro verdade.
Talvez exista,
mas não conheço forma
mais generosa de amar.
sábado, 13 de abril de 2013
do dia em que ganhei Júpiter...
É isso mesmo.
Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, agora é meu. Minha filha me deu.
Tínhamos acabado de
almoçar quando ela colocou sobre a mesa um pacote colorido. Olhou-me com aquele
olhar que nunca mente, e, como sempre faz, esperou um movimento, minúsculo que
fosse, de preferência no canto do meu sorriso, para que sentisse legitimado o
seu gesto.
– Abre mamãe, é o
teu presente.
Dentro do pacote
colorido tinha um saquinho de seda e uma bolinha de ping-pong. A bolinha foi um
recurso que criamos pra facilitar os estudos lá da escola... Sorri quando a vi, sorri ainda mais quando li que nela estava escrito Júpiter. Eu sabia que você sabia que ele era o planeta 'grandão', o maior de todos...
Entendi o recado.
Ela me deu a MEDIDA
do seu amor.
Assim, sem precisar
de mais explicações.
Porque,
intuitivamente, ela já sabe que tudo que é honesto, é conciso.
Guardei Júpiter naquele
lugar misterioso dentro da gente, onde moram os ‘faz de conta’, onde não conseguimos
(e nem queremos) definir o que é exatamente real, e o que não é.
Tá ali, pertinho da Fada
dos Dentes e do Papai Noel.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
envelhecer é pra quem merece...
Desaprendi o tempo.
Existem anos que a gente nem sente,
noites que duram eternidades, centésimos de segundo que significam uma vida
inteira.
Tudo é movediço. Não existem
verdades absolutas, pessoas absolutas, tempo absoluto.
Viver é desafiar esse relógio
inventado pra encurtar a duração das coisas...
Afinal, envelhecer não é
ruim. Envelhecer é colher, é entender que nunca vamos caber inteiros dentro da
gente, que oportunidades não devem ser perdidas, nem experiências, e nem
afetos, é perceber que todas as vezes que chamarmos sinceramente pelo amor, ele
virá. Envelhecer é aprender que muitas coisas nessa vida já vêm prontas e
lindas, e que não é preciso enfeitá-las. Algumas pessoas são um bom exemplo
disso. Envelhecer é descobrir que nossa casa de verdade, é dentro de alguns
abraços.
Sempre achei que envelhecer é
para quem merece.
Para quem tem fé.
Afinal, o Universo é generoso
e estende a infância até encontrar quem a deseje, e faz isso dia após dia... ignorando
completamente o tempo.
Porque se a gente souber envelhecer, tempo não existe !
Amanhã faço 46 anos. E sou
menina, menina...
sexta-feira, 5 de abril de 2013
sim, eu sou...
Sou
Solange, mas por meu pai teria sido Mara. Filha mais velha, de uma família
quase só de mulheres. Sou de abril, de uma quarta-feira, do entardecer. Sou dos
ventos, sou sinuosa, generosa. Sou gérberas. Sou dos amores intermináveis, dos
afetos, sou colo, sou fogo. Sou saudade, sou sussurro. Sou dos olhos líquidos e
do coração de manteiga. Sou dos discursos entusiasmados ou dos longos
silêncios. Sou mãos, beijos, massagens e carinhos. Sou fotografia, sépias e
ocres. Sou do frio, dos amassos e dos edredons. Sou de velas, de sombras, da
meia luz. Orgulhosa e geniosa. Sou dos sentimentos profundos, de conversa
fácil, de alma entregue. Sou romances e filminhos água com açúcar. Sou Damien
Rice em The Blowers Daughter, sou flower power, sou tatuagem. Irreverente,
curiosa, sou toda olhar. Esmalte vermelho, e nada de batom. Sou mordidas, sou
lambidas. Sou do amor. Sou cama grande, sou Kama Sutra. Banho quente e água
corrente. Sou conforto. Sou de cheiros, de lavandas e baunilhas. Sou Jungle, do
Kenzo. Sou damasco, noz moscada e cream cheese. Sou macadâmia, café quente, e
biscoito recheado. Sou sossego, sou sonhos, sou esperança. Sou Brasil. Sou
noite. Sou móbiles, esculturas e livros de arte. Sou Rodin, Gaudi e Frida
Kahlo. Sou gárgulas. Boa ouvinte, sei ser música, sei ser prosa. Sou trabalho.
Sou pés descalços, sou pés no chão. Sou família, sou mãe. Sou fé.
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