domingo, 30 de maio de 2010

broken wings

Porque de vez em quando você acha que está caminhando sozinha,

e não se dá conta de que na verdade nunca esteve só.

É que às vezes se desaprende a vida.

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Porque de vez em quando você procura explicações demais,

e perde tempo demais, e deixa a vida escorrer por entre os dedos.

É que às vezes se pensa que dá prá viver o hoje depois de amanhã.

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E é tão perigoso, porque é assim que se vira presa num passado frio, numa redoma sórdida, numa armadilha vil.

E de repente não se sabe mais sorrir.

Não existe mais porvir.

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E logo você, que sempre teve asas,

e quase já não voa mais...

E logo você, que tinha os olhos tão lindos,

e os sonhos tão grandes.

Logo você...

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Que tal virar a página ?

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"...So take these broken wings
And learn to fly again, learn to live free..."

sexta-feira, 28 de maio de 2010

inexistência

Insisto em manter minha mente branca.

Livre dos pensamentos teus.

Mas só de pensar em não te pensar, já penso.

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E olhe que tenho levado a vida, com encanto até.

Mas há este lugar desabitado em mim, onde guardo tua voz.

Fujo dele, porque quando lá, o mundo fica ainda maior, e eu fico ainda menor.

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E olhe que tenho tido sonhos, feito planos até.

Mas quando deito, e a cama fica assim, tão abandonada, tão vazia, é que me esforço ainda mais.

É quando tento driblar as dores que mal disfarço, e evitar a ausência que está em mim.

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É quando inexisto.

E não quero mais falar nisso.

No fundo, não sei preencher tua ausência.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Arre... estou farta de semideuses !

(porque as vezes meus olhos ficam assim...)
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E a gente vive mesmo nesse mundo que acha graça em mascarar a vida.
E ando tão cansada disso tudo.

Se tenho 43, são 43 mesmo.

Se quando sorrio surgem vincos em minha face, são vincos mesmo.

E quando líquidos, meus olhos estão mesmo cheios de emoção.

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Sei de minha impermanência.

Sei de minhas marcas.

E gosto disso. Gente prá mim tem que ter cicatriz, tem que se cansar, tem que ter alguma “feiúra”.

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Porque somos feitos dessa finitude.

E é isso que deixa tudo mais bonito.

É isso que faz o hoje valer ainda mais.

Faz o momento, o instante, o segundo, serem a moeda mais valiosa do mundo.

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Então : eu quero gente.

Gente que pode ter ruga, ter idade, ter barriga...

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Porque gente assim me atrai pela autenticidade.

Me conquista pela prosa, pelo swing.

Me ganha pela verdade.

E estes sim, a mim são perenes.

A mim são duradouros.

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"Pinta-me como sou.

Se omitires as cicatrizes e as rugas,

não te pagarei um xelim!"

Oliver Cromwell (em observação a Peter Lely, que pintava seu retrato)

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Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Fernando Pessoa

domingo, 23 de maio de 2010

ERA mais do que UMA CASA MUITO ENGRAÇADA...

Dizem, que originalmente Vinícius de Morais fez assim :
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era uma casa,
muito engraçada,
não tinha teto,
não tinha nada...

ninguém podia fazer pipi,
porque pinico não tinha ali,
mas era feita
com pororó,
era a casa de Vilaró."

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porque daquelas encostas à beira-mar, onde o poeta morou, surgia devagarzinho uma construção branca, sem nenhuma linha reta. Antes uma casinha simples de madeira e lata, que foi crescendo, interagindo com as rochas, e sendo coberta por cimento e cal. Nasceu CASAPUEBLO, uma “escultura para morar”, como dizia Vilaró, seu amigo, que tem ali, até hoje, seu lar e seu atelier.

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E foi onde um casal de amigos morou.

Moraram ali, e no mundo.

E eles ganharam demais.

Noites. Sucesso. Companhia. Bebidas. Sexo. Sonhos.

E eles perderam demais.

Dias. Fracassos. Solidão. Secas. Traição. Desilusões.

É que de vez em quando a vida deixa cicatrizes profundas.

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E nessas horas a mágica é cobrir a “lata” com “cimento e cal”, e fazer como eles bem sabem, uma casa, que mais do que uma casa muito engraçada, seja uma casa de dentro, que fique alojada entre a montanha e o mar, protegida das coisas tantas desse nosso mundo.

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Porque sei que às vezes a vida é dura demais, mas sei que vocês sabem, melhor do que ninguém, contabilizar os ganhos, afinal, a vida é feita de pororó... que nem a casa de Vilaró...

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

e essa busca...

Sou Solange, mas por meu pai teria sido Mara. Filha mais velha, de uma família quase só de mulheres. Sou de abril, de uma quarta-feira, do entardecer. Sou de amores intermináveis, de afetos, sou colo, sou fogo. Sou dos ventos, sinuosa, generosa. Sou das saudades, dos sussurros. Sou massagens e carinhos. Sou gérberas. Sou sépias e ocres. Sou do frio, dos amassos, e dos edredons. Sou de velas, de sombras, meia luz e mãos. Sou perfeccionista, caprichosa e organizada. Sou dos olhos líquidos e do coração de manteiga. Sou de sentimentos silenciosos, de papo bom e alma entregue. Sou fotografia. Sou romance e filminhos água com açúcar. Sou discursos. Orgulhosa e geniosa, sou do bem. Sou Damien Rice em The Blowers Daughter, irreverente, flower power, tatuagem. Sou franja, esmalte, e nada de batom. Sou do conforto, da cama grande, do banho quente. Sou mordidas, sou lambidas. Sou do amor. Sou de cheiros, de lavandas e de vanillas. Sou Jungle, do Kenzo. Sou dos beijos apaixonados. Sou damasco, noz moscada e cream cheese. Sou macadâmia, Nespresso, e biscoito Passatempo. Sou notebook e boa música. Sou Brasil. Sou noite. Sou móbiles, esculturas e livros de arte. Sou Rodin, Gaudi e Frida Kahlo. Sou gárgulas. Sou sossego, sou sonhos, sou esperança. Sou boa ouvinte, sou trabalho. Sou pés descalços, cabelos lisos, coração. Sou dengo, sou prosa. Sou família, sou mãe. Sou fé.

E sou busca...

Sou sempre busca...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Guardião do Silêncio

Todo amor de verdade guarda um silêncio.

Nele não são precisos alardes e nem ruídos.

Não cabem rumores e nem juízes.

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Pertence à suas entregas e cumplicidades.

É. Sem que seja preciso qualquer propagação.

E cresce ali, em suas reservas, em seus segredos.

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Esconde um sossego bom, como um parêntese, que guarda a palavra mais bonita. É suficiente a quem o sabe, porque amor de verdade reserva aos seus o encantamento.

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E sabe calar. Para se guardar.

O amor, quando sentido na alma, é sim silencioso.

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Shhhiu...

domingo, 9 de maio de 2010

minha riqueza

Bebela num entardecer... semana passada - clicada por mim
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Antes de você nascer, filha, meu mundo andava tão cartesiano.

Minhas dores, que não foram poucas, me fizeram aceitar apenas o que era certo e irrefutável.

Cheguei a pensar que meu coração não aguentaria.

Não havia mais entrelinhas, nem encantamentos, nem inocência. Tudo tão endurecido, tão sedimentado.

Mas Deus, seja qual for a forma que o defina, me deu mais uma chance. Afinal, não se pode fugir da dor fugindo da vida...

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Então, de repente : você. Bem ali. Em minhas mãos.

Vida. Vida. Vida.

Se não tivesse te chamado Bebela, te chamaria Vida, porque é assim que és prá mim : Vida.

E tudo começou a se ajeitar mais uma vez.

Comecei a acreditar de novo, a aceitar, a agradecer, a compreender...

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Você filha, também foi minha mãe.

Nasci de novo por você...

E para você me fiz inteira, me fiz amor, me fiz calor.

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Porque esse nosso amor vem de muito longe...

Vem de muito tempo...

Vem de nossas almas... porque elas sempre se amaram...

Sempre.

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Beijo carinhoso à todas as Mães do mundo... e à minha, que é incrivelmente especial.

sábado, 8 de maio de 2010

moradia incerta

Dia desses fui à Feira de Flores do Ceasa.

Já tinha estado ali, mas de um jeito diferente.

Não me atinha a ver as flores.

Pelo menos não a vê-las como fiz desta vez...

Vivia com pressa.

Não podia perder tempo, queria ser feliz.

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Mal sabia que se olhasse bem, acharia ali, entre aqueles verdes, nas brechas, nas mãos calejadas, nas sementes ocres, entre as pétalas, no trabalho cuidadoso do oleiro, um tanto de felicidade escondida !!!

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Porque felicidade é assim, tem moradia incerta, como os nômades, que têm que partir, porque grande parte de sua alegria é ser livre, mas quando voltam vêm sempre carregados de outras felicidades que no caminho foram descobertas.




imagens clicadas por mim

segunda-feira, 3 de maio de 2010

ciclos

De repente tudo mudou.

Assim : vupt !

Acordei diferente.

Sem aquele velho ranço, sem pensar em renúncias, sem as velhas fantasias.

Acordei alegre. E livre.

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E pensar no tempo que empreendi em busca de outras paisagens,

e no enorme esforço que sempre me afastou ainda mais de mim mesma.

Porque tudo estava ali, bem rente aos meus olhos, bem perto do coração.

Porque só quando a gente descansa a alma, acontece.

E tudo que está ao nosso redor começa a se encaixar.

Até mesmo os vácuos e os limites fizeram sentido.

Eram caminhos.

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E todo caminho tende a uma chegada.

E toda chegada tende a um final.

E todo final tende a um começo.

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a um novo começo...

sábado, 1 de maio de 2010

sabedoria

final de semana, meus pais num restaurante gostoso, eu no telefone, oi..., tudo bem, onde estão... meia hora depois estou lá. entro e os vejo próximos a uma janela. gostoso ver os pais da gente, é sempre um calorzinho no coração. beijo e abraço carinhoso e vejo umas letras rabiscadas a giz de cera, num desses papéis que distraem as crianças : “all we need is love”, a letra é dele, conheço bem, mas, o que é isso pai ?

- é tudo que a gente precisa, filha.

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tem maneira mais bonita de falar de amor ?