quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

tudo que ela queria era o pai deste desenho...

Não foi o cinza do dia. Nem a garoa na vidraça.
Foi a conversa no meio da tarde que exigiu da menina muita coragem. Coragem interna, dessas que a gente precisa ter com a gente mesmo.
Porque era sempre a mesma coisa na hora de falar do pai: ficava em silêncio. Não conseguia.
Um silêncio que guardava uma dor antiga, sabíamos. 
E não era só pelo vazio físico, nem por aquela imensa ausência emocional, mas porque as pessoas desistem do que dói. E ela ficava aflita com isso.
Teve uma hora em que o distanciamento que era tão secretamente temido passou a ser desejado.
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Lembro-me de uma frase do Marcos Bulhões que dizia que “às vezes matamos o amor, mas em legítima defesa”. 
Pois é. 
Ela jamais desistiu do amor, era feita de afetos e de doçura. Desistiu foi de mantê-lo onde não era cuidado.
Fez bem.
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A figura do pai ausente acabou sendo a coisa mais presente que ele deixou.
Mas uma coisa é certa: ninguém escapa de olhar para trás e ver as escolhas que fez.
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A menina queria sim ter tido o pai deste desenho, mas tinha um tesouro ainda maior: olhava pra trás e podia sorrir ao ver as escolhas que fez.
Podia dormir em paz.
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Solange Maia
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(ilustração de Snezhana Soosh)

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

amanhã é segunda-feira e quero ser um pouquinho melhor...

Ontem a noite minha irmã caçula me mandou uma fotografia dela tomando vinho e comendo queijo derretido.
Sozinha.
Perguntei se estava tudo bem, afinal estamos atravessando um momento muito difícil.
Ela respondeu:
- Não quero ser engolida por esta fase. Não quero dar o braço para a tristeza. Pretendo viver a vida da melhor maneira que eu puder.
Engoli seco e fiquei silenciosa.

Sou totalmente passional, em mim todas as células do corpo encolhem diante da dor. Às vezes demoro muito a sarar.
Mas ela estava absolutamente certa.
Sei que nossa mente investe 70% do seu tempo reproduzindo memórias, voltando a passados e criando cenários de “momentos perfeitos” que geram expectativas muito, muito perigosas. Tento driblar isso o tempo todo, afinal, sei também que a gente pode, e deve, “administrar” esses pensamentos.
Sei que as alegrias moram nas ‘pequenices’, e que a felicidade não pode ser uma meta.
Ela é caminho.
E está disponível o tempo todo.

Essa semana foi dura, muito dura, mas as alegrias estavam lá: conheci a ascensorista mais doce do mundo cuidando do elevador lotado do hospital, dormi todas as noites com as pernas entrelaçadas às do meu amor, passei horas com minha irmã do meio, que está doente, inventando um jeito de levar alegrias a uma sala de quimioterapia, estive perto de amigos muito queridos, fui a uma festa surpresa, senti o cheiro de uma bebê linda, vi uma dor desaparecer em 10 minutos, comi panquequinhas chinesas duas horas depois de achar que o mundo estava acabando, tomei chuva, muita chuva, e fiquei deliciosamente encharcada, li mensagens tão amorosas por aqui, achei graça ao constatar que minha filha já usa todos os meus sapatos, achei meu pai lindo de cabelo cortado, sorri ao ver minha mãe bordando com minha irmã camisetas de cura, meu amor fez um jantar pra mim, ganhamos cupcakes e pastel de feira, sentei na guia de uma rua arborizada e chorei no colo da minha irmã...
Conto então, as minhas bênçãos.
E percebo que tem horas que a gente precisa relaxar, 
precisa se desligar um pouco.

Amanhã é segunda-feira e quero ser um pouquinho melhor.

Solange Maia
(escrito em abril.2017)
fotografia "Eu e Bia" - minha irmã do meio

quando todos podemos ser Julia...

Julia já nem sai mais de casa.
Tão machucada, prefere ficar só.
Escondida da vida pensa estar se protegendo dos sofrimentos, mas não. Só o que faz é substituir uma dor por outra.
O peito dói. A solidão devora o tempo. Não há folga.
Já sem energia e muito cansada para buscar soluções novas.

De vez em quando chega a acreditar que não merece algo melhor.
Aceita e se resigna.
E cada vez se fecha mais.

Tem dias em que ela volta às coisas que já viveu e sente uma saudade imensa.
Julia quer de volta a sua vida. Seu sorriso solto, a vontade de namorar, os passeios pela orla, os filminhos do fim de semana, jantar com amigos...
Ela se deu conta de como são grandes as coisas pequenas!

Solange Maia

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Julia que tantas vezes fui eu.
Julia que pode ser João. Que pode ser você.

DEPRESSÃO não é tristeza, ‘fase ruim’ ou mi-mi-mi, e não são só os adultos que passam por isso. Esta é uma dor cada vez mais comum, que deve ser tratada por profissionais.

Como uma das idealizadoras do lindo projeto “Nossos Doutores”, te estendo as mãos e te convido a encontrar ajuda.
Vem comigo! Fale-me o seu CEP e vou apresentar um profissional que vai te atender em seu consultório, pertinho de você e por um preço que cabe no seu bolso.
As dores emocionais são invisíveis, mas só a gente sabe o quanto ferem!

Encontre você mesmo: www.nossosdoutores.com.br

Seu PSICÓLOGO, médico, dentista, fonoaudiólogo, nutricionista e fisioterapeuta em + de 90 bairros de SÃO PAULO (e, em breve, em outros estados).