segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E não teve festa...

Hoje meu coração devia estar em festa.
Devia ter laços e flores por toda a casa.
E a Calcanhoto tocando alto na sala.
Amanhã cedo ia começar hoje a noite, e o sol ia nascer na pele da gente. Quente.

Mas não houve festa, nem flores, nem sol.
Só um resto de inverno e um verso :
“o que você demora
.é o que o tempo leva”

Por que como na canção, eu só tinha meia hora pra mudar a sua vida.
Mas eu precisava mais...

sábado, 29 de agosto de 2009

Era isso que eu queria dizer...

As melhores coisas da vida, não são "coisas".
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Engraçado quando chega o tempo em que muitas coisas que nossos pais diziam começam a fazer sentido.

Já deu tempo de ter feito belas viagens, de ter visitado restaurantes incríveis, de ter um carro bem bacana, de usar isto ou aquilo.
Já deu tempo de querer ficar sozinha num cantinho, de ter perdido algumas coisas, de ter sentido dor e solidão, de ter um ou outro sonho roubado.

A maturidade vem trazendo essa desassociação entre as coisas e as alegrias.

Por que ficar quarentona me fez perceber que um longo abraço em silêncio é tesouro que se deve preservar, que pai e mãe são ouro de mina (como já cantou Djavan), que beijo sincero tem valor intangível, que cheiro de filho é a melhor coisa para se fazer dormir, que amigo de infância é comidinha prá alma, que conseguir olhar nos olhos é garantia de auto-respeito, que almoço em família é ter o celeiro cheio, que fazer o que se gosta é manancial inesgotável.

É, a gente comete alguns erros, mas uma hora acaba percebendo que as melhores coisas da vida, não são "coisas".

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Profundo Encantamento

Poucas coisas me fascinam tanto como o ser humano.
Há oceanos incríveis, o pôr-do-sol, gérberas, o céu turquesa, um cavalo baio... mas ainda assim fico com as pessoas.
Gosto de observá-las, de senti-las, de percebê-las.

É certo que nem sempre o que vejo me encanta, mas vez ou outra o que presencio vale por tudo que não vi.
Isto acaba de acontecer.
Que sorte a minha e a de quem viu...

Não encontrei essa “delícia” no You Tube, então segue o “link”.
Cliquem em cima e curtam este presente da vida.
Estou em estado de graça...

Nessas horas me dá um orgulho incrível de ser gente !!!


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Eles chamam-se Edson Pereira e José Scholosse - Dupla Tempo

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Carinho Particular

Lembro quando era menina e a gente trocava bilhetinhos na escola.
Além das frases bonitas desenhávamos coraçõezinhos, estrelas e flores.
Depois foram as agendas, e as anotações nos rodapés.
Na faculdade escrevia sobre o meu amor em folhas arrancadas do caderno...

Aquelas palavras não eram diferentes das de agora.
Eram os mesmos sentimentos coagulados que escorriam de mim.
Mas eram escritas, não digitadas.
E o virtual pressupõe sempre certa palidez.
Cada letra e cada curva tinham minha identidade, minhas reticências, meu cheiro.
Em cada folha a força da empunhadura, as inclinações e os espaços revelavam as entrelinhas e os segredos.

Tinha mais de mim lá.
Como um encanto que só fosse meu.

Como um carinho particular.

sábado, 22 de agosto de 2009

Não sabem sorrir

De vez em quando uma neblina fosca cerra meu encanto pelos homens.
Triste perceber o que o poder (?) tem feito a alguns deles.

Esta semana acompanhei um cliente ao escritório de um advogado.
Conforme costumo descrever, subimos num elevador prateado para encontrá-lo, sentamos numa mesa de reunião com mais 20 lugares, e tomamos um café acre servido por um garçom de luvas.
É claro que em seguida surgiu, com toda arrogância do mundo em seus olhos, o poderoso da vez.
Não devia ter mais de 30 anos, e crescia a cada demonstração de fragilidade do meu cliente.

Usou todos os jargões, brocardos e aforismos recém decorados.
Perguntou e respondeu. Riu alto. Inquisidor.
Mas não sorriu. Não sabe sorrir.
Nem cruzou o olhar com ninguém.

Pobre homem de alma seca. Tão menino.
E já de uma força tão frágil.
De uma riqueza tão vã.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mar Castanho

minha filha - meu mar castanho - agosto de 2009
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Esse é o mar da minha infância.
Foi nessa praia que descobri, mesmo sem entender direito como, que esse mar inteiro cabia dentro do meu peito.
Foi nesse lugar que percebi que a alma da gente é feita desse mesmo tom de azul do qual é feito o céu.
Foi pisando nessa água gelada com o vento a desorganizar os cabelos que entendi finalmente a liberdade.

Essa paz que sinto quando fecho meus olhos antes de dormir é a melhor maneira de descrever o mar da minha infância.
Acho que é por isso que de vez em quando preciso voltar.
Preciso do barulho cadenciado desse meu mar castanho.
Preciso encher o peito desse ar.

Por que parece que quando saio de lá ganho mais um tanto de vida prá gastar...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Entre Lençóis

Gosto que me toques.
Mas tenho que sentir sua mão pesando sobre o meu corpo.
Preciso de verdades inteiras, de gestos certos.

Fragilidade eu guardo para quando acordo numa manhã cinzenta.
Com você quero todos os pecados sussurrados ao pé do ouvido.
Quero esgotar os gestos, quero o ópio.

Gosto da nossa alegria iminente, desse éter que solidifica a cada novo revés.
Gosto quando você me vigia, e espia entre lençóis meu quase sorriso.
São as pernas entrelaçadas e esse zelo que ocupa quase tudo, que embaçam as janelas e queimam a pele da gente.

É... gosto que me toques.
E que depois reste somente a desordem da cama.

domingo, 16 de agosto de 2009

Dessas Mulheres

minha avó paterna . . . . . . . . . . . . . minha avó materna

Bonito pensar que foi dessas mulheres que eu vim.
Dos filhos que elas geraram, do encontro que eles tiveram, da alquimia desse amor.
De uma herdei os olhos pensantes, da outra a alma de ventania.
Das duas minha urgência em ser feliz.

Mulheres fortes, cada qual ao seu modo.
Com estoque de existência e sonhos.
Uma aqui, outra lá.
Mas o certo é que habitam em mim, as duas.

Delas trago esse viver que é quase súplica.
Essa vulnerabilidade por tudo que é metade.
Essa rendição.


Delas aprendi a querer a vida por inteiro.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Alma Líquida

Tenho preenchido tua ausência com viagens, livros, música alta e água.
Muita água.
Tomo água como se pudesse assim preencher esse vazio que ocupa quase tudo dentro de mim.
Como se regar meu coração me ajudasse a entender o avesso dessa história.
Como se pudesse perceber do quê essa ausência é cheia.
E entender então, que esse vazio de agora é o que restou da nossa comunhão.

A despeito de toda essa água tenho tido sede.
E molho ainda mais minha alma, como se úmida estando eu finalmente pudesse entender que essa ausência me cabe e me serve.
Estou líquida, mas amadurecida.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bebela em Conta-Gotas

Depois que a gente tem filho parece que vê o tempo passar de uma maneira diferente.
É claro que antes o tempo passava, mas tenho a impressão que era bem mais devagar.
Mas agora não.
Agora tudo mudou.

Minha filha tem 4 anos e meio, e ontem mesmo ela segurava meu dedo com força com sua minúscula mãozinha, fazendo sonzinhos que queriam dizer alguma coisa... hoje corre pela casa, me dizendo desafiantes “nãos”, inventando frases, e cantando Vanessa da Mata... o que é isto ?

Agora o passar do tempo me emociona.
Na verdade quase tudo me emociona.
Sei que um pouco é pelo meu jeito sensível de ser, mas acho também que é porque ninguém passa indiferente pela maternidade.

Ver o filho crescer é uma experiência única, uma lição repetida, uma chance de reaprender o que ficou esquecido lá na infância. Como uma recuperação na escola, só que dessa vez recupera-se um pouco dos sonhos, da doçura, da pureza.
Criança acredita, e faz acreditar.
Criança sonha, e faz sonhar.

O tempo também faz com que reconheçamos no filho nosso próprio olhar, ou nossa maneira de chamar as pessoas, de dar as mãos com os dedos entrelaçados... é lindo, e, de repente você olha pro lado e já não vê mais aquelas dobrinhas nas pernas do seu bebê. Você vira especialista em massa de modelar. Rende-se aos desenhos de monstrinhos que moram no quintal, troca um bom livro por giz de cera, repete a mesma historinha noites seguidas, e já não dá mais pra escrever até altas horas sem preocupação alguma.

Ser mãe, mulher, trabalhar e cuidar de casa, é viver sempre com uma pequena culpa, com medo de estar criando o filho nos intervalos, de estar esquecendo alguma coisa.

E por causa disso criei o “BEBELA EM CONTA-GOTAS
Uma despretensiosa e poética tentativa de eternizar as gracinhas ditas ou feitas por minha filha.Não quero perdê-las. São os momentos que justificam esse tempo que voa...

domingo, 9 de agosto de 2009

Onde tudo é amor...

Andei pensando no que mais poderia escrever que já não tivesse escrito prá você pai...
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Pensei em como é bom esse nosso jeito de falar sempre do nosso amor, de não precisarmos de uma data para conseguir “destravar” nossos sentimentos...
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É... aprendi com você que amor a gente deve falar a toda hora, que sentimentos bons são para serem colocados para fora sempre, se não através de palavras, então através de gestos, de atitudes, assim como quando a gente vai jantar na sua casa e você põe a mesa com tanto carinho, ou como quando a gente precisa falar um palavrão para extravasar e você está ali, pronto para falar uma coisa bem cabeluda e transformar a raiva ou a tristeza num motivo para rirmos demais, ou como quando você vai à farmácia e sempre traz um remedinho ou qualquer outra coisinha prá mostrar o quanto cuida de nós, ou quando escolhe a trilha sonora perfeita para os momentos deliciosos que passamos juntos, ou ainda quando você pisa no acelerador do buggy só para a gente perceber o quanto estamos vivas, só para a gente acreditar o quanto a vida ainda é bela !!!
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Você e suas incansáveis reuniões sobre afeto... e esse seu espírito (lindo) apaziguador e elegante que sempre nos ensinou a delicadeza, você que ensina coragem tendo, que enxerga toda pedra como pódio, que ri e chora com a mesma leveza, você e suas lições que nunca foram só discursos, mas sim demonstrações de como você próprio conduz a vida.
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Pai, com você todos os dias tem sido Natal, todos os encontros são únicos, tudo é absorvido, tudo é processado, tudo é térmico, tudo é soma...
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É pai... você é o lugar da minha vida onde tudo é amor.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Di.vi.dir

Acho que ninguém definiu melhor saudades e solidão do que Henfil numa carta que escreveu para sua mãe em 1979, que dizia mais ou menos assim :

“Mãe, não suporto mais a saudade sufocante do meu irmão Betinho. Minha vida segue sem sentido e sem alegrias. O grito de gol fica preso no peito porque me sinto sozinho no Maracanã mais lotado. Perdoa, mãe, mas biscoito de farinha só é gostoso se mastigado olhando nos olhos do irmão que sente na mesma hora a mesma delícia...”

Além de saudades e solidão, essas linhas falam muito ao meu coração sobre DIVIDIR e sobre o amor...
E eu, alegria de verdade, só sinto se posso dividir...

domingo, 2 de agosto de 2009

ACERCA DA CERCA

Quero essa casinha.
De tamanho certo para minhas alegrias.
Cabem meus sonhos e planos.
Com cheiro de lavanda pela manhã,
de café com bolo de fubá à tarde, e da tua pele prá gente (não) dormir.
Música suave, mas que saia pela janela.
Tiro a cerca.
Ou deixo para que não escape nunca o meu amor ?