sexta-feira, 29 de outubro de 2010

do outro lado da mesa...

- Porque hoje eu tenho muito medo de viver essa história - ele disse baixinho, com receio das próprias palavras.

Mas ao olhá-la ali, sentada a sua frente, sabia que o medo não era esse, o medo era o de não viver aquela história... a história da sua vida.

Ele sabia.

Porque sonhava com ela passeando no seu futuro, cuidando dos seus dias, impedindo-o de partir dele mesmo.

Nela tudo eram respostas.

Ele sabia.

E sofria por estar dentro de outra história.

Talvez por isso fosse tão difícil entender por que sua vontade tinha sido sempre o sorriso dela, por que seu mundo girava, girava, girava, e sempre acabava nela.

Porque tinha a deixado partir ?

.

Mas do outro lado da mesa ela flutua, tentando equilibrar os pensamentos, sem medo algum. O tempo não existe.

Ela tinha certeza da imensidão daquele amor.

.

Then the rainstorm came over me

And I felt my spirit break

I had lost all of my belief, you see

And realize my mistake

But time through a prayer to me

And all around me became still

I need love, love's divine

Please forgive me now I see that I've been blind

Give me love, love is what I need to help me know my name

Through the rainstorm came, century

And I felt my spirit fly

I had found all of my reality

I realize what it takes

'Cause I need love, love’s divine

Please forgive me now I see that I’ve been blind

Give me love, love is what I need to help me know my name

Oh I, don't bet [don’t bet], don’t break [don’t break]

Show me how to live a promise me you won’t forsake

‘Cause love can help me know my name

Well I try to say there's nothing wrong

But inside I felt me lying all and all

But the message here was planned to see

Believe me…


terça-feira, 26 de outubro de 2010

como saber o que é certo ?

A menina sentada sozinha, no banco daquela ruela torta, transborda numa tristeza delicada, feminina, solitária. Ela não entende porque os adultos desaprendem o amor, porque permanecem em histórias que não acreditam mais, e inventam distâncias que não existem, nem porque têm medo de revelar o querer, de repetir o revelado, de guardar o repetido.

Há também o sentimento de que suas alegrias andam muito pensadas, e talvez por isso pareçam sempre tão menores. Ela sente um frio, mas continua ali, sem querer se levantar, sem ânimo para ver do que a vida é mesmo feita. Porque têm coisas que parece que só ela acredita...

Porque o amor deveria ser urgente, as pessoas deveriam ignorar os medos intangíveis, e saber viver os instantes.

A menina ainda acredita no amor.

Mas, como saber o que é certo ?

domingo, 24 de outubro de 2010

achei o caminho !

Porque será que o mundo parou ? Era dia de semana, tarde de sol, plena de gente, de trânsito, de sons. Mas, de repente, mais ninguém. Só nós dois. Fecharam o mundo, desligaram o tempo. Falei e ouvi tanta coisa, já nem lembro, mas o que me tocou foram os silêncios sagrados, a comunhão dos desejos, a palavra escapada sem censura, e logo recolhida de novo prá dentro da boca, e a boca enchendo-se desse medo de revelar, e ficando linda assim, cheia desse amor que nem precisa ser dito.

E achei aquela alegria tão plena de adjetivos lindos, que esqueci da fragilidade do mundo. Nem bem pensei e ele voltou a rodar. Ligaram o tempo. Mas, como a vida tem certas delicadezas, fui embora com a certeza de que finalmente encontrei o caminho de casa.


(vistas assim, as flores também são caminhos de casa... registrei !)

dias gigantes...

Tem dias que valem mais do que anos.

Dias de verdades doídas, mas tão necessárias.

Dias de encontros, embora ainda cheios de reservas.

Onde as urgências acontecem, as distâncias diminuem e os sonhos aumentam.

.

Dias que a gente fala prá poder ouvir.

.

É quando a gente descobre que aquela velha chama, quase já sem vida, volta a acender com um simples sopro.

Quando a gente sabe, que entre o que fomos e o que podemos ser, a gente lateja.

E que é nesse intervalo que a gente se acerta.

São dias adultos.

.

Porque sempre perto de desacreditar, um milagre acontece.

E agora só quero dias assim, gigantes.

.

É que sou feita de fé,

sou feita de amor.

sábado, 23 de outubro de 2010

Segura essa Dani...

Hoje eu não deveria escrever.

Hoje as palavras não me fariam falta.

.

Porque de tanto olhar para aquela que fui, de tanto buscar minhas coragens esquecidas, fiquei maior que meu medo.

.

Hoje eu tive água, e não sede.

Tive olhos, e não lembranças.

Hoje tive uma tarde de realidades, e não de fantasias.

Um dia sem promessas (promessas são amarras),

mas também sem dúvidas.

.

Dei as medidas, o recado, a cara.

E por me desabrigar, encontrei abrigo.

E agora ?

Como durmo com um barulho desses ?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

de uma utopia possível...

Na tarde simples, com o olhar perdido na janela e sua voz ao telefone, senti pela primeira vez na vida, que não estava sozinha. Não naquela história. Éramos (os dois) reféns do amor.

.

E por mais que eu tenha parecido sempre tão diáfana, como a luz da lua, o tempo todo você me soube ali. A vida toda. Porque desde a primeira vez em que nos beijamos na boca, descobrimos que o mundo era imenso, mas que nosso desejo era maior.

.

E agora, tudo o que precisamos, é de uma tarde que suporte nossa história.

Ou não.

Porque os caminhos foram tortos, mas essa tarde não pode ser.

.

É... acho que minha única utopia possível é o amor...

. .

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lambida

Preciso dos teus lábios colados nos meus para que eu finalmente
seja quem sou.

Sem escudos ou invenções. Sem mais personagens desencaixados.

É que só sei contar minha vida, se bem rente a você.

.

Cansei de tentar entender tua ausência.

Cansei até das minhas palavras.

Quero um silêncio bom, a despeito do tanto que há para ser dito.

Porque sei de você, e sabes de mim.

Cada vírgula, cada reticência...

.

A verdade é que preciso da tua lambida.

E da eternidade dos teus olhos.

.

Porque de vez em quando tenho a impressão de que se me afasto um instante, você me esquece.

domingo, 17 de outubro de 2010

tremo de desejo...

(*)
.

Sei que gosta de como trato a nudez,

que em meu caso nunca é só a nudez.

Tem sempre um além a ser visto.

A pele é óbvia.

É exposta, é permitida, é tocada.

Mas a nudez não. Não a minha.

Tenho que ser percebida em minha transparência.

.

Cada vez que me vê há uma nova fenda, que leva a outra,

e a um vão, uma ruptura, uma descontinuidade.

Se relaxar os sentidos, verá um espelho, um vazio, um contorno.

.

Minha nudez só é real, se for a de dentro.

Sim, trago todas as minhas narrativas amorosas no corpo,

mas só gozo na alma.

.

É ela que treme de desejo.

.
(*) - Fotografia de Helmut Newton
fotógrafo de erotismo sofisticado, controverso, romântico, lindo... lindo...

sábado, 16 de outubro de 2010

Tuas mulheres...

Difícil imaginar que cada uma delas te teve,

e que habitaram sua vida por tanto tempo.

Cada qual com sua importância.

.

As de gosto doce, de palavras delicadas, de afetos quentes.

Cabeça, pernas, olhos...

As vezes incomoda e quase dói, mas passa.

Acho então que vivo em harmonia com tuas mulheres.

.
.

Sei de você o tanto que elas não viram.

Porque temos nossos labirintos

e cochichos...

E tenho a medida justa dos teus sonhos.

É no intangível que te faço rir !

E só eu sei te fazer voltar.

.

Então tá de ótimo tamanho !

.
.
.
.

"Essa noite sonhei que era tua... Agora não sei se sou uma mulher que sonhou ser tua ou se sou tua sonhando ser só uma mulher!".

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

uma falta.

Era uma contadora de histórias.

E as crianças apinhadas ao seu redor. O ar denso de risos e cores.

Uma alegria.

E uma falta.

Uma falta que ela me mostrou brincando, numa dessas fôrmas de fazer vela, esférica, que virada ao contrário, e colocada próxima ao peito, precedeu sua pergunta :

- O que é isso ?

- Um coração - disse um garoto.

- Um ovo - disse mais um.

- Sim - disse ela - mas também pode ser o côncavo e convexo, e, só metade dela pode ser uma falta, um vazio.

.

Uma falta, exatamente como a minha. E um silêncio (não lá, mas em mim).

Também tenho essa falta...

É o que descobri hoje.

Não que a tenho, isso eu já sabia, mas que todos têm.

.

Você também.

E é por isso que me presenteia com essas lindas canções.

Para que acreditemos que falta compartilhada não é tão falta.

(KIARA TERRA - sem dúvida uma dessas riquezas que a vida nos empresta... ela conta história em que todos cabem, e conta um tanto de todos nós...)

domingo, 10 de outubro de 2010

lembro disso...

Mas minha cabeça só lembra as coisas boas.

Só aquilo que desfrutamos.

Dos nossos corpos se conhecendo, da cama de solteiro no chão, do que você escrevia prá mim, de quando dançávamos no quarto afastando os móveis, das estradas que pegamos, da força de tudo aquilo.

E agradeço ser assim, porque desse jeito o passado fica lindo, e, se de repente eu cruzar com você de novo, vou poder correr pros teus braços e agradecer aquele tanto de amor vivido.

.

Mas tivemos nossos desenganos.

E noites que duraram séculos.

Não importa.

De qualquer forma teria te amado.

sábado, 9 de outubro de 2010

não consegui, mais uma vez...

Quando você me escreve dizendo que o maior presente que eu poderia te dar é te receber, mais uma vez me desorganiza.

E constato (fragilmente) que não consegui te esquecer.

Era só uma falsa impressão.

.

Não consegui.

Assim como não consigo fazer bolos, visitar alguns velhos amigos, ler Umberto Eco, ou arrumar a primeira gaveta do closet.

Deve ser porque não se abandona nunca alguns amores,

ou porque você ainda habita os meus pensamentos mais secretos.

.

Mesmo assim insisto em te dizer que me entender, nesse momento, é me dar asas...

É como o velho chavão : deixar partir, para poder voltar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

acordei assim...


Hoje acordei com os cabelos desgrenhados e a pele bronzeada.

Tá.

Sou branca como a neve, e sequei e escovei os cabelos antes de sair.

Mas, se não existisse espelho, eu podia jurar que estava assim... despenteada e dourada.

É que acordei displicente.

Com saudade das tardes de verão na praia.

Da música alta, do sol quente, da alegria gratuita.

A casa da gente vivia cheia.

O calor aproximava as pessoas...

.

Hoje eu não merecia aquela pilha de contratos, advogados, telefonemas, indisposições, gente que fala demais...

.

Hoje eu queria uma canga hippie, uma esteira de palha

e mãos entrelaçadas às minhas.

Um silêncio bom e pés descalços.

E, não dispensaria os cabelos desgrenhados.

sábado, 2 de outubro de 2010

queria cozinhar prá você...

Tem aquela música ‘Al Otro Lado Del Río’, que ouço tendo vontade do teu sorriso.

E têm os dias assim, de sol fraco, quando tudo que eu queria era cozinhar prá você.

Mas nem sei como fazer.

Queria uma alquimia que fizesse perfumar tua boca,

com creme fresco, cerejas, um vinho bom, uma massa delicada.

mas pensando em ti, me distraio,

e limpo as mãos de pimenta no vestido,

e de longe sentes o cheiro do tempero em minhas pernas,

e só porque pensei em cozinhar,

só porque queria surpreender os teus sentidos,

só por isso, agucei o teu querer.

.

E enquanto já nem cozinho, sinto tuas mãos em mim.

Firmes. Não vejo mais nada.

Só o vestido jogado no chão.




sexta-feira, 1 de outubro de 2010

um "não pensar"...


- Experimente só sentir - disse ela - assim, sem racionalizar, sem tentar investigar o porquê de cada sentimento...

.

E lá foi ela, duvidando que fosse capaz.

.

Enquanto tentava entender esse “desentender”, levantou os olhos e os viu ali, “amontoados”, como em todo final de domingo, cada qual no seu mundo, absorvidos por um filme qualquer, um telefonema, figuras que deviam se encaixar num tabuleiro... tudo tão simples, tão suave. Suspirou, e sentiu um cheiro de baunilha doce. Uma tranquilidade.

.

E antes que pudesse começar a pensar : sorriu.

.

Então era isso : um instante, uma alegria à toa.

Um sentir descompromissado.

.

uau...