segunda-feira, 29 de junho de 2009

Oleira de mim...

Estudo feito por mim no Atelier de Israel Kislansky
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Reconheço-me naqueles sulcos.
E nas marcas deixadas por minhas mãos.
Têm um tanto de pensamentos meus cristalizados naquele barro, porque quando com ele nas mãos, conto histórias que não sei dizer...
Por que enquanto transformo o barro, de alguma maneira transformo também a mim.
Modifico meus gestos e minhas crenças, moldo minhas certezas e mais ainda minhas dúvidas.

Mais do que formas quero deixar o meu caminhar.
Imagino e sinto.
Ponho as mãos, fecho os olhos, e transformo.
Ali, no barro, posso tudo.

À margem da lógica, minhas mãos ritmadas seguem moldando meus segredos.
Vendo minhas esculturas, vê-me inteira.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Só por você.

Eu era uma meninota.
Tinha pouco mais de 8 anos quando decidi que daria um presente inesquecível para o meu pai.

Enquanto argumentava internamente se seria melhor uma dobradura ou um desenho colorido, tive um insight :
Papai tinha um ritual.
Todas as noites, depois de jantar, sentava-se para assistir um filme enquanto comia sementinhas de abóbora. Descascava uma a uma, nos dentes, fazendo aquele estalinho gostoso, para só depois comer aquelas coisinhas salgadas.
Era um prazer só dele.
E eu quis melhorar a idéia.
Resolvi então, que eu descascaria suas sementinhas.
Ele não teria mais esse "trabalho".
Imaginem só... cada sementinha pronta, ou seja, sem casca, ficava metade lambida e metade quebrada, mas eu nem ligava, colocava-as numa caixinha de fósforos, e ficava toda orgulhosa.
Depois de enchê-la, embrulhei bem bonitinho, dei um enorme laço ao redor, e lá estava : o presente do papai !

No fim das contas quem ganhou fui eu, que trago impresso na memória aqueles lindos olhos verdes, líquidos, sorrindo prá mim quando viu o que era o presente.

E, lindamente, continuamos descascando, um para o outro, as coisas salgadas dessa vida, não é pai ?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bonito isso...

Ganhei um presente.
Um livro.
Mas quem ganha um livro, ganha mais que um presente, ganha uma lição, um recado, uma parcela de vida que te é emprestada. E o que a gente faz com esse tipo de presente é o que determina quem realmente somos.

Victor, o personagem principal do livro, também ganhou mais que um presente, ele ganhou uma oportunidade de recomeçar, e o que ele fez com seu presente é o que determinou a bela história.

Pouco antes da metade do livro algumas linhas saltaram à minha frente : “Quando uma lágrima tropeça em lábios que sorriem, eu desmorono, porque vejo alguém que quer ser feliz, sem ser.“ O livro já me valeu por estas palavras que achei tão minhas, tão suas, tão de todo mundo...

E porque no fim das contas o que importa é que a gente deseja, a gente se esforça, a gente sonha, a gente sua... e nessa busca pela felicidade, quando percebemos, já o somos, e aconteceu assim, no meio desse nosso caminhar.
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Aqui vocês podem degustar alguns trechos da obra...

sábado, 20 de junho de 2009

Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso...

Eu, Márcia e Simone
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Lembro da gente matando aula na Praça da Faculdade, fazendo planos para os próximos 100 anos...
Parecia ontem, mas passaram-se quase 25 anos.

Deliciosamente lá estávamos nós. As três. Cada qual com sua vida, a despeito delas terem, ou não, saído como imaginávamos. Cada qual com seu homem, cada qual com seus filhos, cada filho com um pouco de nós estampado nos traços e nos modos... mas tínhamos a mesma “meninice” nos olhos, as mesmas risadas sonoras, e a mesma sede de vida.
Continuo sendo a mais irreverente, uma contestadora mais “low profile”, confesso, mas ainda assim, de longe a mais ousada.

Quando olho prá elas vejo tudo que eu poderia ter sido, mas continuo cantando internamente uma musiquinha da época :

“A vida que me ensinaram como uma vida normal
Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal...
Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso
Mas isso é menos do que tudo,
É menos do que eu preciso...”

Não adianta... tenho uma ventania na alma e uma inquietude no peito.

Mesmo assim ainda continuávamos ali, como se nada tivesse acontecido no último quarto de século.
E quando paramos de rir, mais uma vez fizemos planos para os próximos 100 anos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Carta prá irmã caçula...

Lú,

Ninguém sabe renascer como você.
Porque ninguém sabe desses sonhos que o mundo põe e tira da vida da gente como você.

Sempre tive vontade de te pegar no colo, sempre tive vontade de te salvar, como se te salvando eu tivesse salvando em mim também a porção de sonhos que não consegui fazer valer.
Mas o Universo, mágico que é, fez o trabalho por nós.
Ele colocou essa resiliência em nossas almas, e essa capacidade bonita que temos de nos reconstruir a cada queda, e ainda esses olhos que são como sementes de feijão num algodão encharcado de água...
É... esses olhos que brotam...
Que germinam, que são latentes...

E se há o que em você excede, é essa luz e fé, que te fazem agora "redescobrir o gosto e o sabor da festa"...
Assim como cantou tão lindamente a Elis...
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Te amo.
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(A primeira postagem do seu BLOG me emocionou muito Lú...)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Outra Cor do Desejo

Tem alguns lugares na casa da gente que são mais nossos que os outros.
Meu quarto é assim.
Tem uma cama grande, a maior que encontrei. Um espelho com moldura de madeira, na mesma proporção, na parede bem atrás dela. Há uns dois ou três anos coloquei um lindo fio azul de luzinhas de Natal preso nesta moldura. Iam ficar ali só no final do ano, mas inesperadamente formaram um lindo céu de estrelas que cintilam só para que eu possa dormir, e ali estão elas, ainda hoje.

É bonito esse azul que levo para a cama comigo.
Ele me enche dum punhado de sonhos leves, e enquanto quase durmo é isso que vejo... esse acender e apagar cadenciado, que me faz pensar num fim de noite bom, daqueles em que nossos corpos nus ficam significantemente mais sensíveis, e por isso todas as coisas vão passando sem que a gente se importe.
A vida vai passando.
O tempo vai passando.
Só o que não passa é o azul que pulsa.
Mais nada.

É nesse quarto que sonho contigo.
Dormindo.
E depois acordada.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pleine Lune

Existem alguns lugares que são para mim, como deviam ser os castelos encantados da minha infância, com seus tesouros e surpresas.
A Mariage Frères é um deles.

Tudo lá dentro é ocre, até mesmo os atendentes. O telhado de vidro proporciona uma luz acolhedora, na medida exata. As paredes são forradas por potes repletos dos mais diversos tipos de chás, de onde saem perfumes e sabores de todos os cantos do mundo. Seus nomes são uma delicadeza a parte... Esprit de Noël, Fleur de Bouddha, Latin Lover, Brume De Rose, Thé Du Dragon, Prince Igor, Russian Star, Silver Needles... e tem o Sweetheart, um coração feito com folhas de chá branco que, quando submerso, se abre em uma flor.

Comigo trouxe o Pleine Lune e seu frescor extraído das frutas e da baunilha.
Aqueço a água, coloco-a na xícara já com o chá, e deixo em infusão por alguns minutos.
Um perfume único no ar. Sorvo-o absorta em meus pensamentos.
Perfeito.

Não.
Pleine Lune só será perfeito no dia em que tomá-lo com você.

sábado, 13 de junho de 2009

Quem sabe sejamos UM por alguns momentos...

Onde excedo, você falta.
Onde sou asas, você é o chão.
Onde sou sombra, você é a luz.
Onde sinto, você pensa.
Onde sou afeto, você é razão.
Mas, surpreendentemente, somos duas estradas que levam a um mesmo lugar.
Nossas almas convergem, e por alguns momentos fundem-se numa só.

É.
Talvez sejamos isso, os dois lados de um sonho só.
Com essa mesma sede de viver uma história linda, e esse mesmo desejo de caminhar de mãos dadas até o fim dos dias.
Impossível ignorar isto.
Somos íntimos e vulneráveis.
Cada qual ao seu modo, é claro, mas absolutamente vulneráveis.

É esse tal amor, que faz menino o mais equilibrado dos homens.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sentir é sinuoso...

Tenho aprendido a sentir a vida.
E sentir é muito mais do que ver.
Aliás, sentir é não ver.
Sentir é cego, é quando se sabe ali, o que ali não está.
Ver é quase sempre reto.
Sentir é sinuoso.
Sentir é desvendar.
É escrever pouco, para que as palavras não furtem sua genuinidade.
Sentir é como ter uma imensa onda dourada dentro do peito, revirando tudo, e mesmo assim deixando tudo exatamente onde devia estar.
Fotografia de Clark Little - Hawaii

domingo, 7 de junho de 2009

Gente que não é de “plástico”.

Todos os anos, há muito tempo, vou à Festa Junina de uma Igreja. Tenho minha fé, é claro, mas nenhuma religião especificamente, vou à Festa da Igreja simplesmente porque gosto.

Neste ano enxerguei a Festa com outros olhos.
Prestei atenção a quem faz a Festa acontecer.
São sempre as mesmas famílias, comuns, sorridentes, voluntárias, atrás daquelas “barraquinhas” vendendo pinhão, cachorro quente, arroz doce, e quentão. Vi alguns daqueles adolescentes que servem as pessoas, ainda pequeninos.

Bacana isso.
Gente feliz.
De verdade.
Altos, baixos, morenos, sardentos, com ou sem barriguinha, cabelos um tanto despenteados, suando (apesar do frio de fazer fumacinha quando respiramos), nada de maquiagem, avental amarrado meio desajeitado, uns gritos divertidos, e uma alegria quase tola no ar.

É... porque no fim das contas a gente nunca vê nas ruas aquelas famílias iguais as das revistas, sempre impecáveis, bem vestidos, corpos atléticos, cabelos sem um fio fora do lugar, e enormes sorrisos plásticos.

Gosto mesmo é de ver gente de verdade.
Gosto dessa simplicidade fora de moda, desses olhos doces, desse “desarranjo” cotidiano.
Gosto dessa realidade que é igual a minha e a sua.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Grandes "pequenos presentes"

Nunca resisto a pequenas oportunidades de fazer um “carinho” em quem gosto, e de vez em quando o faço através de “pequenos presentes”, que chamo de pedacinhos de afeto materializados...
São coisas que me fazem lembrar quem eu amo assim que as vejo.

Gosto da verdade que desses “pequenos presentes”. Talvez sejam até melhores do que os “grandes”.
Sim, porque são singelos, geralmente surgem quando menos se espera, e sempre nascem de sentimentos verdadeiros.

Afinal, um “pequeno presente” nunca pode ser comprado em cima da hora, nem por obrigação, nem como favor para uma terceira pessoa, muito menos dado em datas comemorativas.
Devem acontecer ao acaso, sem serem programados, como uma surpresa boa que acontece sem ser esperada.

São aquelas coisinhas à toa, que no meio da tarde aquecem nosso coração e nos fazem lembrar quem se gosta... e nesse exato instante, não são mais os “pequenos presentes” que estão ali, e sim os olhos sorridentes de quem nos ama.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Lemon Grass para encher o coração...

Sempre fui muito ligada a cheiros.
Gosto do que eles representam, do que provocam em meus sentidos, das emoções que suscitam.

Uma vez, durante uma viagem gostosa, fui convidada a conhecer uma casa de chás. Era um lugar de cores ocres e foscas, com um lindo piso de madeira, quente, apesar do tenro inverno, e com um “fog” que deixava o ar suave e misterioso. Assim que entrei senti um perfume de mato, levemente doce, um cheiro de aconchego, de conforto, desses que faz a gente se sentir amado. Sentamos junto a uma grande lareira, em poltronas que circulavam uma mesinha baixa central, um abajur num canto dourava o ar, e a boa prosa foi logo acompanhada por sequilinhos de canela e biscoitos de gengibre.
As mãos aquecendo-se nas xícaras de chá.
Uma delícia.
Mas era o cheiro que compunha a mágica daquele lugar, era ele que imprimia em minha cabeça uma memória para nunca mais ser esquecida.

Fomos embora entusiasmados e não me lembrei de perguntar que cheiro era aquele.
Tempos depois, entrei numa livraria perto do meu escritório e lá estava ele.
Lemon Grass, descobri.

Ou Capim Limão.

Hoje, toda vez que me sinto um pouco sozinha, que preciso renovar as forças, que desejo não perder os sonhos de vista... acendo uma vela sob o aromatizador e pingo algumas gotas de Lemon Grass.
Fecho os olhos.

Inspiro demoradamente... e encho de novo o coração.