terça-feira, 31 de julho de 2012

eu não existo...

Na sala ao lado o casal dança.
Tocam-se em poucos lugares, talvez só as mãos, embora pareça que cada célula deles está ligada.
A escola de dança não existe. Eu não existo. E não existe mais nada ao redor que não eles mesmos.
A pele deliciosamente sincronizada. Nenhum gesto é isolado.

A beleza do instante era, em grande parte,
pelo que não se podia ver.
Havia um jogo acrobático de sedução, um erotismo pulsante.
Nessas horas a palavra não chega, ela é muda.


(fotografia clicada via celular, hoje, às 20h00, na Academia de Dança da Bebela)

domingo, 29 de julho de 2012

de quem salva o mundo...


Tá.
O mundo anda duro, cheio de violência, corrupção, decepções.
Mas às vezes... às vezes têm gente que o salva.

O menino desce do morro prá florir.
Embora ele só calce um pé de chinelo, e,
a despeito da pobreza iminente, e das prováveis privações,
em algum lugar dentro dele é primavera.
E tanta, que naquela hora ele é feito só de hibiscos.

Diante de quem sabe falar de amor me comovo sempre.
Sempre.
.
.
(fotografia clicada por Bia, minha irmã do meio, que soube ‘salvar’ 
meu olhar naquela tarde... - Rio de Janeiro)
.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

das princesas pós-modernas...


A menina acordou se sentindo no meio de um conto de fadas, que se não fosse tão ‘pós-moderno’, teria sido escrito pelos irmãos Grimm, que se não ocorresse num país tropical, teria ocorrido às margens do lago Constance, na fronteira entre a Alemanha e a Suíça, que se não tivesse o Vale do Paraíba no meio, teria a Floresta Negra, que se não tivesse começado com as palavras desconstruídas de Manoel de Barros, teria começado com o famoso Era Uma Vez...

É que de vez em quando alguma coisa (inter)rompe a rotina...
desconfio que seja a verdade, e não a fantasia.

A vida mostra que histórias são histórias, lá longe ou aqui perto, e, que o que as torna 'encantadas', não são as fadas, 
são as possibilidades.

É assim que, sem nem esperar, essas coisas acontecem.
.

sábado, 21 de julho de 2012

não quero fazer amor...

Hoje eu não quero fazer amor.
Sinto-me estupidamente insegura,
só porque lembrei que tudo é temporário.
Quero apenas dormir com as tuas roupas.
Quero essa intimidade, que mesmo reduzida de significância (por ser um gesto tão comum), é tão grande.
Hoje nada pode ser mais afetuoso.
Acho que assim deixava descansar o coração desse bem querer tão transbordante, até que ele cansasse.
E dormisse.

Solange Maia

quarta-feira, 18 de julho de 2012

da sorte de quem sabe amar...

Estou revendo a minha vida.
Ando assim... querendo por perto só pessoas inteiras,
trocar teorias por atitudes.
Promessas já não me ganham mais.
Cansei de chegar atrasada ao momento seguinte.
Agora quero a sorte de quem sabe amar.

crossing fingers... !
.
.

sábado, 14 de julho de 2012

segredo...

Não sei se as pessoas viam o que eu via.
Mas ele era um homem para escutar, e para acolher.
Além daquele mistério ácido e do olhar enviesado, tinha alguma coisa bonita que o permeava, uma doçura embaixo da pele.
Os outros não sei, mas eu sabia me encontrar com ele.

E, nas horas oníricas que eram nossas, não havia posse,
nem regras, nem nome.
Alguma coisa nele era minha. De mais ninguém.
Talvez fossem as palavras, que como chaves iam nos abrindo, que como chaves iam nos guardando.
Não sei. Só sei que esse segredo me punha um sorriso vasto no rosto.
Porque o que os outros sabiam, era a história dele,
todo o resto, era só meu.
.

domingo, 8 de julho de 2012

fazer bobagens...

Onze da noite, três graus.
Beijava tua boca e me atirava prá dentro de você sem te poupar de nada. Assim, como se estivéssemos na primeira cadeira de uma montanha russa...

A gente nem se conhece direito e eu nem sou desses impulsos, mas talvez seja o silêncio amadeirado do chalé, ou o frio da paisagem. Talvez não. Talvez seja minha respiração que faz desenhos de fumaça no ar gelado, e que me faz pensar num monte de bobagens que podíamos fazer juntos...

Meia noite, dois graus.
E já nem sei o que vim fazer nessa ilha que me parece cada vez mais deserta agora que você existe...

.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

era outra coisa...

E, finalmente, percebi que o que eu sempre pensei que fosse o meu grande amor, talvez não fosse...
O que eu supostamente sentia, talvez tenha sido só um misto de saudade, de nostalgia, orgulho ferido, e, sobretudo de muita teimosia.
Acho agora que nem existe amor mal resolvido, existe só essa frustraçãozinha tola de quem subverte a realidade, transformando uma velha historia num filme bonito.

Foi assim que de repente nem havia mais nada para falar.
Passou.
Virou passado.


.

terça-feira, 3 de julho de 2012

dos jogos sem regras...

Olho bem nos olhos dele e começo a falar.
Um discurso cansado, cheio de proparoxítonas.
Falo que não quero mais aquele jogo sem regras, onde só os corpos conversam.
Cansei de ser a Capitu dos olhos cheios de ressaca.
Franzo o cenho.
Não quero mais.
Mas ele se parece com todas as figuras de contos de fada que li na minha vida.
E me perco.
Minhas palavras não dialogam mais com minhas vontades.
O olhar dele sobre o meu era uma boca entreaberta.
O discurso podia até ser forte, mas a carne não.
A carne era fraca.


Dom Casmurro (Machado de Assis) é um tratado sobre o olhar. Capitu é emblemática, e Bentinho, olhando prá ela, descreve seu próprio olhar...
.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

vou indo...

Tem aquela música do Eagles, 'Hotel California', que me leva sempre de volta ao amor. E ouço dirigindo, o cabelo solto, a janela aberta... indo prá qualquer lugar.
São dias que eu acordo com o botão da culpa virado pro lado off.
Dias em que eu penso nas coisas absurdamente tolas que faço, e rio.
Dias de coragem bonita, de vontade imensa de ser feliz.
Aumento o volume e a canção vai desenhando uma história nova dentro de mim.
Canto bem alto.
Velocidade : 120 por hora.
Coração : 140 por minuto.
.