domingo, 28 de fevereiro de 2010

de que lado estou ?

E você, que conhece de mim apenas uma pequena parte.

Um instante. E outro.

Certo de que ando pelo caminho azul, dos sonhos, dos desvarios.

É que às vezes choro de fora para dentro, e ninguém vê.

Mas nunca fui de deixar desejos na gaveta.


Já que trago o coração fora do peito, sempre à frente, tive que inventar um jeito de sobreviver, porque a vida aqui fora tem contas, contratos, prazos, filhos.

E não há ninguém que faça isso por mim.

Então penso : amanhã te amo.


Mas o amanhã é tão hoje dentro de mim que já nem sei mais viver.


Talvez eu realmente não acredite mais em nós.

Mas talvez eu ainda faça você dormir deslizando minha mão em suas costas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

quero o sapo !

Ando sufocada das coisas de ontem, tão repetidas.

Preciso urgentemente de algo novo, de outras coragens, outras paisagens.


Quero um amor construído na terra, com todos os ocres e os sulcos, bem dia a dia, bem de verdade.

Cansei de amores lunares, feito de promessas e etéreos em seus alicerces.

Quero prosa, café cheiroso, e verdades chocantes - não me importo desde que sejam palpáveis.

Cansei de versos, de almas gêmeas, cochichos e mentirinhas.


Quero um novo olhar, uma surpresa, um caminho desconhecido.

Não quero mais me esforçar para manter histórias bonitas, de desculpas inventadas e quase esquecimentos.

Quero o sal, cansei do doce.

Quero o sapo, cansei do príncipe !


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Porque são poucas as pessoas de olhos d’ouro...

porque a gente acredita no amor...
prá você Genz, e prá minha doce Lú...
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Há na gente uma legião de histórias, um amontoado de dores, e um tanto de sonhos.
Algumas santas, outras não sei. São tantas.
Mas só o que vale é esse amor rasgado, que venta, esquenta, desorganiza, e que, desobrigado de rótulos (e mesmo que avesso), é o que varre o inverno dos nossos olhos líquidos.

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Sei do revés dessa história e não vale mais esse nó na garganta.

Porque são muitas as nossas dúvidas,

Mas maiores ainda são as nossas certezas.


E se a vida me fez aprender o perdão, só posso desejar então,

que todo olhar, seja um beijo,

e que todo beijo, seja um casamento.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

meu pai...

papai - 1966.
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Ensinou-me a viver com um açucareiro nas mãos, a ter pequenas coragens guardadas no bolso da camisa (sempre perto do peito), a jogar fora os limites, a desaprender as hesitações, e a ter riso fácil.
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Gosto de olhá-lo de longe, assim, para que em minhas retinas esteja sempre, como um talismã.

Gosto ainda mais quando segura minhas mãos, e ele o faz sempre, mesmo sem precisar tocá-las.

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Segura um mundo inteiro nos ombros, eu sei, mas a despeito disso vai caminhando sereno, cheio de bondade e de sonhos.

Com meu pai, qualquer pequeno instante vale uma vida.

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Ah... como eu queria saber dizer o amor que sinto por ele,

mas as palavras são muito pequenas para isso.

Muito pequenas...

minha mãe...

mamãe - 1966
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Há sim muitas maneiras de se falar de amor.

Mas prefiro o amor que falamos sem precisar das palavras, o que fala com os olhos, com as reticências, com os afetos.

Gosto desse falar silencioso, da tranqüilidade que dispensa discursos, desse amor construído no tempo, de alicerces profundos e ternuras mágicas.

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A mim, falar de amor, sem falar, é assim como uma tarde quente vendo velhas fotografias impregnadas dessa imensidão.

É onde a felicidade se acha.

São os amores que me fazem acreditar em eternidade.

O combustível, a combustão.

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Amores assim são os que me servem.

Queria tanto que coubesse aqui o que senti hoje a tarde...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A tentativa mais vã.

E nós, mais uma vez quebramos as regras.

O coração a bater na boca, desconhecendo qualquer prudência.

Fizemos amor depois de tudo terminado,

como se para recuperar o que já havíamos perdido.


Mas perdemos ainda mais : perdemo-nos um ao outro.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Jogar a toalha

Não.

Não estou sendo covarde.

Sinto mesmo que é hora de desistir, de tomar outra estrada, trilhar novos caminhos.

Seus olhos não são mais olhos, são um punhal, um segredo, uma falta.

E essa renúncia, mesmo sem parecer, tem exigido de mim muita bravura.


Desligamentos lentos e amores desbotados são vis. Prefiro as sentenças de palavras breves.

E algo novo. Só para variar.

Porque se hoje me acontece essa vontade de partir, é para poupar esse tanto de vida que tem se esvaído de nós.


E perder vida dói demais em mim,

mesmo quando parece ser só de raspão.


sábado, 13 de fevereiro de 2010

qualquer tempo

Com você sinto cada pequena coisa des-me-di-da-men-te.

Apenas um leve sopro,

e incendeio.

Um roçar de pernas,

e tudo em mim arrepia.

Um sorriso de canto,

e desarrumo tudo mais uma vez...


Só de pensar que você pode vir,
já me falta o ar...


É... qualquer tempo que pudéssemos parar, já valeria !

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

então tá !

Perguntei-lhe o nome, o que fazia e onde morava, na primeira vez que nos vimos.

Ele, de mim nada quis saber, nunca, além de meus olhos.


No princípio tateávamo-nos sem saber exatamente o que dizer.

Mas logo deixamos as palavras fluírem nos levando onde bem entendessem.

E foram caminhos secretos, de desejos e provocações.

E foram palavras indiscretas, carícias e confissões.


Ele gostava das palavras, mas queria (e sabia) jogar com elas.

Fiquei apreensiva, as palavras sempre souberam mais do que eu.

Então calei, e preferi também só os seus olhos.


Entreguei-me a ele mais uma vez.

Mas amanhã não quero mais.

Amanhã acabo com isso.

As sete.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

o quê a gente arrisca

Algumas mulheres têm a dor do mundo.

Tem o gosto da ausência, da invisibilidade, da indiferença.

Tudo nelas dói.

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E há algo nelas que dói em mim também.

Um grito que reconheço, uma vulnerabilidade familiar.

Porque, com o corpo cansado e a pele exposta, estão abandonadas.

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Talvez bastasse um olhar mais demorado pousando sobre elas. Talvez um pequeno gesto...

E então, quem sabe, esse abismo que existe entre a tristeza e a alegria finalmente se estreitasse.

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Porque há nelas algo maior do que a dor: a vontade da vida.

E é por isso que tenho sempre a impressão de que derreteriam em lágrimas se fossem tocadas.

Que arriscariam tudo por um longo afago.

Até a alegria que não tem.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

o tempo

Deitada ali ao teu lado, nua, achei que estava livre do jugo do tempo.
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Fui tola.

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O sexo dá mesmo essa impressão falsa de eternidade.