sábado, 28 de fevereiro de 2009

Alma do Carnaval

Há quem não goste do Carnaval.
São gastos demais, bumbuns demais, bebida demais, todo ano sempre a mesma coisa.

Mas li uma vez que a beleza está nos olhos de quem vê.

E, olhando bem, o Carnaval é muito mais do que os 80 minutos na Avenida.
O Carnaval é cada lantejoula colada, cada pluma encaixada, cada passo, nota e “paradinha” da bateria.
Carnaval é o homem suado, invisível debaixo de um carro alegórico, empurrando-o orgulhoso, fazendo-se rei.
Carnaval é o cansaço posto de lado por cada um que após longa jornada de trabalho, enfrentou fila o ano inteiro, pegou ônibus, mas esteve lá, trabalhando no barracão, promovendo entre outras coisas saraus, aulas de teatro, dança, oficinas de marcenaria, de estética... fazendo ebulir novos talentos.

Carnaval é o da Avenida, dos Blocos e dos becos.
É a bateria ritmada e o cara batucando numa caixinha de fósforos.
É para quem quiser, é disponível, perene, um estado de graça que pode durar o ano inteiro.

Há quem não goste do Carnaval.
Mas eu, eu enxergo-o com os olhos da menina do morro, que naquele instante mágico, converte sua cruz em estandarte.
Carnaval é a glória, a superação.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quero pertencer...

Algumas vezes fui embora.
Fui embora sem ter ido.
Era o meu coração que já não estava mais lá.

Sabe quando a gente abandona uma relação, uma crença, um emprego... quando joga a toalha, mas mesmo assim o corpo ainda continua lá ?

Pois é... geralmente nessas horas me encarregava de encontrar desculpas onde não havia, soluções fadadas a não acontecerem.
E acreditava em minhas invenções para poder continuar acreditando em mim.

Já não quero mais partir.
Quero ficar.
Hoje quero pertencer, quero a permanência, quero rotina.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Elas provocam...


Sempre fui alva, quase pálida ousaria dizer.
Mas não vim ao mundo assim, desprovida de cor.
Vim salpicada de sardas, como se elas fossem meu tempero, meu sal.

Há quem não goste, quem tente tirá-las. Eu não.
Sardas são minha mesura e minha ousadia.
São pedacinhos de cor, atrevidos, que fizeram verão em meu corpo.
Chegam a ser constelações, via lácteas pintadas no meu firmamento.

Sardas são pingos de luz, pequenos topázios cravados na pele.
São meu pedaço tropical, minha morenice.
Sardas se multiplicam sob o sol, provocam... querem ser contadas.
E há quem tenha forte inclinação por elas...

Então aqui vai meu conselho :
Mulher sardenta e cavalo passarinheiro: alerta companheiro !

domingo, 22 de fevereiro de 2009

FUSÃO...

Era dezembro filha. Você tinha acabado de nascer.
E a despeito de cobrir-te de beijos eu queria senti-te ainda mais.
Tirei delicadamente sua roupinha e deitei-a sobre mim.
No colo sagrado de mãe.
Percebi seu coraçãozinho acelerar e tive medo que o meu, descompassado e feliz, te assustasse.
Senti imediatamente o seu calor, e sei que sentiu o meu, pois se aconchegou e em poucos minutos estava dormindo.
Ficamos ali.
Imóveis.
Íntimas.
Nuas.
Um momento mágico, único, que jamais esquecerei.

Depois de alguns minutos estávamos suando.
Senti uma gota escorrer até a cama.
Era minha e era sua.
A nossa gota.
Uma gota do nosso calor, do nosso amor.
A primeira coisa que produzimos juntas.

Certamente um lindo começo...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez...

Falando sério
É bem melhor você parar com essas coisas
De olhar prá mim com olhos de promessas
Depois sorrir como quem nada quer

Você não sabe
Mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez
E tenho medo de fazer planos
De tentar e sofrer outra vez

Falando sério
Eu não queria ter você por um programa
E apenas ser mais um na sua cama
Por uma noite apenas e nada mais

Falando sério
Entre nós dois tinha que haver mais sentimento
Não quero seu amor por um momento
E ter a vida inteira prá me arrepender.

ADORO ESSA VERSÃO...
Mauricio Maniere - Falando Sério


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Estou HIPPIE

Be sure to wear some flowers in your hair
(Certifique-se de estar usando algumas flores no cabelo)

E quero logo imensos girassóis.
Girassóis que gritem ao mundo esse meu cansaço velado.
Que me permitam um não estou nem aí a cada manhã.
Quero flores na cabeça e nos pensamentos.
Vou rasgar meus terninhos e desmarcar os compromissos.
Estou hippie.

Cansei dessa elegância de vitrine, que promove um só modelo de beleza, que pára na superfície, não aceita o tempo, a gravidade, e nem as diferenças.
Cansei desses valores sociais sem legitimidade alguma.

Não sou parte de um establishment único.
Quero paz, amor, e meus imensos girassóis.


Salve, salve a contracultura.
Vou vestir uma túnica colorida, soltar os cabelos e ficar descalça.
Vou entrar num furgão florido e sair por aí...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Meninos também choram

Fui criada numa família essencialmente feminina.
Meninos sempre foram um grande (e interessante) mistério.
Soutiens, batons, panelinhas e romances sempre fizeram parte de mim.
Sofrer por amor então...
Mas sofrer mesmo, ao estilo “mexicano”, com direito a lágrimas e a lencinhos.

Já senti incalculáveis solidões diante dos homens.
Tentei decifrá-los e percebê-los, quase que inutilmente.
Bastava um pouco mais de sentimentos e lá estavam eles : altivos, perenes, mansos e tranqüilos diante de nossas febres.
Sua serenidade e aparente equilíbrio me fizeram crer que nossas paixões são a eles, quase transparentes.

Por isso estranhei tanto quando ele entrou em casa tristonho.
Cabisbaixo até... com o rosto vermelho e o semblante tenso.
Sentou num canto. Chamou-me e desatou a chorar.
Chorar de verdade, como nunca achei que homens fossem capazes.
Tinha levado um fora da primeira namorada.

Chorou sofrido, lavando a alma... a dele, e a minha.
Aquele choro foi a redenção, o alívio...
Foi a revelação tão precisada e necessária... a que fez dos homens sujeitos muito mais reais.
Senti por ele, e muito, mas confesso que parte do meu coração sorriu : aliviado.
Obrigada querido... por me fazer saber que os meninos também choram !

domingo, 15 de fevereiro de 2009

No meu altar...

No meu altar pessoal tem um feixe. Feito de pequenos gravetos amarrados por um barbante... um presente de meus pais, para me lembrar da força que tem uma família.

No meu altar pessoal estão os 4 elementos e as 4 estações.
Tem o silêncio e a luz.
Estão lá também lembranças de momentos especiais da minha vida.
Quando nele, sinto tudo se ajustar... ouço a voz do mundo, e oro.
Equilibro-me e aceito.
Nele agradeço pelo que sou e pelo que evito.
Pelo que transbordo, e pelo que pondero.
Pelo que ouço, e pelo que calo.
Pelo que guardo, e pelo que entrego.

No meu altar o que menos importa é religião ou filosofia... nele me encontro comigo, e com o que chamo de Deus.
Diante dele, pelo menos uma vez por dia, me ajoelho e agradeço...

Hoje

Nós, que não somos senhoras do amanhã,
gozamos HOJE todo o prazer possível.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Degustar o Amor...

Era uma tarde comum, estava atrasada, mas precisei parar naquele escritório e esperar por um documento.
Aproveitei para sentar um pouco.
Logo fui tomada por uma deliciosa sensação de aconchego. Soube depois que não era pela sala tranqüila nem pelo inverno que se anunciava. A sensação vinha de um perfume que enchia o ar.
Uma mistura improvável, canela talvez... e gengibre. Um aroma denso, térmico.

Ouvi uma voz :
- Aceita um Tchai ?
- Ãh ?
- Tchai... um chá indiano. É condimentado e com leite.

Pareceu-me estranho... mas o ar impregnado por um estoque incomum de odores me impeliu a experimentar.
A xícara quente, turquesa, aqueceu minhas mãos e os olhos. Aproximei-a da boca, inspirei profundamente curtindo aquele pequeno instante que antecede o gole. Só depois a sensação do líquido aveludado me permitiu confirmar a mágica daquela infusão de sabores que era perceptível tanto ao paladar quanto à alma. Havia perfume, frutas, condimentos, um gosto amadeirado, forte, e uma familiar sensação de quero mais.
Tomar um Tchai é degustar o amor.
Receita de TCHAI
02 xícaras de chá preto .......... 01 xícara de leite em pó
02 xícaras de água .......... 01 xícara de açúcar (pode ser mascavo)
½ xícara de lascas de gengibre fresco .......... ½ xícara de canela em pau
01 colher (chá) pimenta Jamaica .......... 4 sementes de Cardamomo

Modo de fazer :
Derreta o açúcar até ficar cor de caramelo. Acrescente as xícaras de água aos poucos, em seguida o leite em pó. Mexa bem. Acrescente o gengibre, a pimenta e a canela. Deixe ferver por 20 minutos. Desligue. Adicione o chá preto e os cardamomos. Deixe em infusão por 10 minutos e por fim coe. É só servir !

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Rolam as Pedras...

Sempre gostei de seixos... de seixos rolados.
Primeiro porque esteticamente são belos.
Segundo porque nunca estão sós.
Mas o que gosto mesmo é que encaixam-se sem se fundir, mantém sua individualidade apesar do conjunto.

E prefiro os seixos naturais, que assim como nós, tiveram seus ângulos atenuados pelo tempo, foram polidos pela vida, e fizeram do que seria um castigo, um passeio.

Seixos que o tempo faz diminuir em tamanho, e aumentar em adaptabilidade. Seixos que o tempo faz acomodar, encaixar, harmonizar.

Seixos são mais que pedras.
São poesia mineral.
E cabem perfeitamente na concha das minhas mãos...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

RITUAL

Deixo o banho por último.
Chego em casa, tiro os sapatos, ponho uma música prá tocar, preparo uma comida, ajeito as coisas, e só depois vou tomar banho.

É sempre o mesmo ritual.
Ligo a água, quente, apago as luzes, acendo uma vela.
Fumaça, calor, silêncio, corpo, aromas, paz.
Sento no chão com o pensamento livre, flutuando... algumas reflexões, planos, ou nada.
Não importa.

Encho o peito com a maior quantidade de ar possível, prendo por um instante, e expiro....
Pronto ! Sinto-me renovada. Equilibrei-me novamente.
E que venha o amanhã !

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Coleção

Já colecionei selos, papéis de carta e caixinhas de fósforos... Mas há algum tempo venho colecionando palavras.
Amo-as. Guardo-as em pedaços de papel juntadas numa caixa embaixo da cama.
As que coleciono tocam minha alma.
As tenho comigo, mas não guardo-as só para mim. Leio e releio... falo-as para ouvi-las.
São palavras térmicas, que tem textura, que comovem, que brilham.

Tirei algumas de minha caixa :
Manifesto
Enluarada
Pérgula
Fenda
Ocre
Sagrado
Flutuar
Indizível
Concha...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Silêncio

Comprei essa boneca pela frase do avental...
é lá do Rio Grande do Sul, do Atelier Tia Moça

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Espelho

Talvez eu seja isto… o espelho dos teus sonhos.
Ao me olhar você vê o pedaço seu que você gosta...
Reflito seu lado doce, seu lado que ainda sonha, que ainda deseja, que ainda quer...
Talvez neste espelho você veja o que ainda pulsa, o que ainda acredita...

Então... me ter por perto significa se ter por perto...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Crisálida

Minha irmã escreveu bonito(*).
Com a “boniteza” que só as pessoas que já sofreram têm.
Foram dias difíceis sim...

Percebo-te tal qual lagarta num pé de laranjeira, que de tanto desgostar teceu seu casulo.
E, crisálida que está, sabe que seu destino é virar borboleta, é sair da pupa, é evoluir.
O fim da lagarta é o início da borboleta.
Mas a metamorfose é dolorosa e dá medo...
Há de se fazer grandes esforços. Há de se romper a casca.

Porque a gente cresce mana, e crescer é enxergar a morte da lagarta não como o fim de uma história. Crescer é perceber o casulo como a porta de entrada para o por vir.


(*) ELA POSTOU UM COMENTÁRIO NO "169 Route - Minneapolis", de 28.12.2008
"Como se fosse ontem... frio gelado no rosto, cidade do silêncio, subúrbio, paz com solidão, momento interessante, aconchego da família... sentimento sem preço. Minneapolis parte de uma vida que ficou para trás, começo sem fim, ou fim com um novo começo. Lição dura da vida... te amo , Lú

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Acordei querendo tudo

Hoje acordei querendo tudo.
Cansei de ser refém do futuro.
Quero viver o agora, não displicentemente, mas que minhas responsabilidades dêem uma folga e me deixem enxergar as outras cores desta vida.
Que haja um descortinar... e que eu me desacostume de tanta coisa comum.
Quero rir mais, bem mais. Quero fugir no meio da tarde para tomar um café demorado, pisar no mato descalça, fazer um discurso vendo o mundo de cima de um caixote, encontrar velhos amigos e novos lugares, quero dançar...
Quero tudo... até mesmo as atribulações, porque nelas calcifico minha fé, e faço de mim perseverante mais uma vez.

E que hoje seja um divisor de águas, porque não quero mais ser previsível, mas, sobretudo porque o que quero é uma vitória interna, e esta, intangível como é, é uma vitória definitiva.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

É esse fogo que os torna iguais...

Acredito que deva existir algum tipo de código que identifica os amantes da vida, talvez um pequeno sinal, um gesto, um jeito de respirar... sei lá.
O que sei é que ali, a despeito de toda uma multidão, e quando seus olhos se cruzam, mesmo que só por um segundo, eles se sabem.

Sim... há algo em seus olhos, como fosse um pequeno incêndio, que teima, teima, e não se apaga nunca.
É esse fogo que os torna iguais.

Para os amantes da vida há também dias tristonhos, há a inquietude, algumas decepções, o medo... mas mesmo em dias assim a prioridade, decretada e absoluta, é para a vida, e por assim ser, ela se faz tão maior que esses outros sentimentos todos...

Por que amantes da vida, quando acordam pela manhã, já estão completamente entregues.

Quero para você...

Quero que conheça o valor das pessoas, e que saiba que elas são sempre muito melhores do que as coisas que têm.
Quero que dê valor tanto para os grandes feitos quanto para os pequenos gestos.
Quero que não economize nem afeto nem humanidade, e que experimente a liberdade todas as manhãs.
Quero que acredite em sonhos e em realizações.
Quero que enxergue o próximo, sempre, e que seja generosa, mas, sobretudo minha filha, quero que continue assim, de braços para o alto, feliz, FELIZ...