quinta-feira, 31 de maio de 2018

esferas de luz...

Existe uma praia na Califórnia, chamada Glass Beach.
Por cima da areia ela tem um tapete de pedrinhas de vidro multicoloridas que brilham sob a luz do sol. O lugar é lindo. Mas, mais do que isso, aquela praia é um convite à reflexão.
Durante anos os moradores da região jogaram lixo doméstico naquele lugar, sobretudo garrafas de vidro. Faltava-lhes consciência, é claro, e as autoridades proibiram que se jogasse qualquer vidro no local. Glass Beach tornou-se área de proteção ambiental, deslumbrante, e, embora hoje seja proibido recolher os pedaços de vidro que lá estão, tem gente que ainda o faz. Ironicamente, em uma região onde se tornou proibido jogar pedaços de vidro, agora é proibido retirá-los.
Mas não é sobre isso que escrevo. É sobre o mar.

O mar e seu infinito mistério. O mar e suas ondas que foram quebrando, sem pressa, cada uma das garrafas abandonadas em suas profundezas. Que foram lapidando aquele lixo. Cada caco, com o passar do tempo, foi se transformando numa pequena obra, lisa e esférica. Até que os lindos pedaços de garrafa descartados no mar se misturassem à areia da praia formando um dos mais fantásticos caleidoscópios de luz, um presente da ação do tempo. Um mosaico de cores para o nosso deleite. A natureza simplificando, solucionando um “erro” sem se focar nele.

Aquela praia, que fez do lixo seu tesouro, me ensina tanto sobre a vida. É que de vez em quando a gente precisa deixar a luta de lado e entender que a dor que nos emudece é a mesma que nos amacia logo adiante. E, se o mundo segue nessa espiral ascendente sem fim, devíamos aprender com ele. Devíamos confiar no tempo, acolher sem medo o que “os moradores da região” jogam em nosso mar, e ter fé. Ninguém faz esferas de luz tão bem quanto pessoas feridas. Alguns chamam isso de pedagogia divina. Eu chamo de renascimento, resiliência.

Porque aprender é sempre um presente, mesmo que, vez ou outra, nosso mestre seja a dor.

Solange Maia

terça-feira, 8 de maio de 2018

do que potencializa a vida...

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Gosto de escrever a noite quando as palavras são só vultos e não podem ser maiores que os gestos.
Foram tantas conversas boas, tantas histórias, tanta partilha, mas ando numa fase que é o não dito que alcança minha alma, que conversa comigo: o macarrão quente perfumando a mesa, o arroz tão branco, posto nas duas extremidades, comunicando que a todos serve, a casa coloridinha de ternura, os olhares, as pausas, as risadas e todas aquelas temperaturas...
Falamos da vida, das nossas experiências, de como as coisas nos tocam. Fomos das profundezas ao riso em segundos, voltamos ao fundo e à superfície outras tantas vezes.
A velocidade interna e a externa, por vezes, entrava em descompasso e a gente se desequilibrava, mas não caia. Naquela tarde tudo era amparado pelos afetos, pelo colo vindo em forma de riso, por outras conversas que se sobrepunham e por um acolhimento que se precisa tanto, mas que, de tão escasso, a gente se esquece.

Com eles acontece de não nos protegermos. De nada. A gente fica tão legítimo que as emoções não permanecem retidas em nenhum filtro da razão ou da lógica. Tudo flui: leve, engraçado, honesto, humano.
Aprendo, acolho e guardo.
E a semana vai me devolvendo, devagarzinho, cada coisa aprendida, com novas cores e novos sentires. Em câmera lenta recebo esse presente silencioso que vai me tornando um ser humano melhor. Agradeço.

Penso que tardes assim deviam ser embrulhadas em laços de fita e oferecidas de presente a tanta gente que anda perdendo a esperança nas pessoas, deviam virar música num coral de crianças que sensibiliza adultos com tanta facilidade, deviam fazer parte de biografias de gente que a gente admira e que consegue ser feliz nas simplicidades. Tardes assim vão nos devolvendo a fé.
A vida pode ser dolorida em muitas circunstâncias, eu sei, mas nego-me, veementemente, a viver com o coração amortecido.
Aprendi ontem que o universo sempre diz sim. Seja qual for o nosso pensamento. Nada nos é negado, e, por isso mesmo, devemos estar atentos ao nosso desejar.
Mais um motivo para querer repetir dias assim.
São eles que salvam o mundo.
É o amor que sempre, sempre, sempre potencializa a vida.