sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

amanhã é segunda-feira e quero ser um pouquinho melhor...

Ontem a noite minha irmã caçula me mandou uma fotografia dela tomando vinho e comendo queijo derretido.
Sozinha.
Perguntei se estava tudo bem, afinal estamos atravessando um momento muito difícil.
Ela respondeu:
- Não quero ser engolida por esta fase. Não quero dar o braço para a tristeza. Pretendo viver a vida da melhor maneira que eu puder.
Engoli seco e fiquei silenciosa.

Sou totalmente passional, em mim todas as células do corpo encolhem diante da dor. Às vezes demoro muito a sarar.
Mas ela estava absolutamente certa.
Sei que nossa mente investe 70% do seu tempo reproduzindo memórias, voltando a passados e criando cenários de “momentos perfeitos” que geram expectativas muito, muito perigosas. Tento driblar isso o tempo todo, afinal, sei também que a gente pode, e deve, “administrar” esses pensamentos.
Sei que as alegrias moram nas ‘pequenices’, e que a felicidade não pode ser uma meta.
Ela é caminho.
E está disponível o tempo todo.

Essa semana foi dura, muito dura, mas as alegrias estavam lá: conheci a ascensorista mais doce do mundo cuidando do elevador lotado do hospital, dormi todas as noites com as pernas entrelaçadas às do meu amor, passei horas com minha irmã do meio, que está doente, inventando um jeito de levar alegrias a uma sala de quimioterapia, estive perto de amigos muito queridos, fui a uma festa surpresa, senti o cheiro de uma bebê linda, vi uma dor desaparecer em 10 minutos, comi panquequinhas chinesas duas horas depois de achar que o mundo estava acabando, tomei chuva, muita chuva, e fiquei deliciosamente encharcada, li mensagens tão amorosas por aqui, achei graça ao constatar que minha filha já usa todos os meus sapatos, achei meu pai lindo de cabelo cortado, sorri ao ver minha mãe bordando com minha irmã camisetas de cura, meu amor fez um jantar pra mim, ganhamos cupcakes e pastel de feira, sentei na guia de uma rua arborizada e chorei no colo da minha irmã...
Conto então, as minhas bênçãos.
E percebo que tem horas que a gente precisa relaxar, 
precisa se desligar um pouco.

Amanhã é segunda-feira e quero ser um pouquinho melhor.

Solange Maia
(escrito em abril.2017)
fotografia "Eu e Bia" - minha irmã do meio

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