Existe uma praia na Califórnia, chamada Glass Beach. Por cima da areia ela tem um tapete de pedrinhas de vidro multicoloridas que brilham sob a luz do sol. O lugar é lindo. Mas, mais do que isso, aquela praia é um convite à reflexão. Durante anos os moradores da região jogaram lixo doméstico naquele lugar, sobretudo garrafas de vidro. Faltava-lhes consciência, é claro, e as autoridades proibiram que se jogasse qualquer vidro no local. Glass Beach tornou-se área de proteção ambiental, deslumbrante, e, embora hoje seja proibido recolher os pedaços de vidro que lá estão, tem gente que ainda o faz. Ironicamente, em uma região onde se tornou proibido jogar pedaços de vidro, agora é proibido retirá-los. Mas não é sobre isso que escrevo. É sobre o mar.
O mar e seu infinito mistério. O mar e suas ondas que foram quebrando, sem pressa, cada uma das garrafas abandonadas em suas profundezas. Que foram lapidando aquele lixo. Cada caco, com o passar do tempo, foi se transformando numa pequena obra, lisa e esférica. Até que os lindos pedaços de garrafa descartados no mar se misturassem à areia da praia formando um dos mais fantásticos caleidoscópios de luz, um presente da ação do tempo. Um mosaico de cores para o nosso deleite. A natureza simplificando, solucionando um “erro” sem se focar nele.
Aquela praia, que fez do lixo seu tesouro, me ensina tanto sobre a vida. É que de vez em quando a gente precisa deixar a luta de lado e entender que a dor que nos emudece é a mesma que nos amacia logo adiante. E, se o mundo segue nessa espiral ascendente sem fim, devíamos aprender com ele. Devíamos confiar no tempo, acolher sem medo o que “os moradores da região” jogam em nosso mar, e ter fé. Ninguém faz esferas de luz tão bem quanto pessoas feridas. Alguns chamam isso de pedagogia divina. Eu chamo de renascimento, resiliência.
Porque aprender é sempre um presente, mesmo que, vez ou outra, nosso mestre seja a dor.
Gosto de escrever a noite quando as palavras são só vultos e não podem ser maiores que os gestos. Foram tantas conversas boas, tantas histórias, tanta partilha, mas ando numa fase que é o não dito que alcança minha alma, que conversa comigo: o macarrão quente perfumando a mesa, o arroz tão branco, posto nas duas extremidades, comunicando que a todos serve, a casa coloridinha de ternura, os olhares, as pausas, as risadas e todas aquelas temperaturas... Falamos da vida, das nossas experiências, de como as coisas nos tocam. Fomos das profundezas ao riso em segundos, voltamos ao fundo e à superfície outras tantas vezes. A velocidade interna e a externa, por vezes, entrava em descompasso e a gente se desequilibrava, mas não caia. Naquela tarde tudo era amparado pelos afetos, pelo colo vindo em forma de riso, por outras conversas que se sobrepunham e por um acolhimento que se precisa tanto, mas que, de tão escasso, a gente se esquece.
Com eles acontece de não nos protegermos. De nada. A gente fica tão legítimo que as emoções não permanecem retidas em nenhum filtro da razão ou da lógica. Tudo flui: leve, engraçado, honesto, humano. Aprendo, acolho e guardo. E a semana vai me devolvendo, devagarzinho, cada coisa aprendida, com novas cores e novos sentires. Em câmera lenta recebo esse presente silencioso que vai me tornando um ser humano melhor. Agradeço.
Penso que tardes assim deviam ser embrulhadas em laços de fita e oferecidas de presente a tanta gente que anda perdendo a esperança nas pessoas, deviam virar música num coral de crianças que sensibiliza adultos com tanta facilidade, deviam fazer parte de biografias de gente que a gente admira e que consegue ser feliz nas simplicidades. Tardes assim vão nos devolvendo a fé. A vida pode ser dolorida em muitas circunstâncias, eu sei, mas nego-me, veementemente, a viver com o coração amortecido. Aprendi ontem que o universo sempre diz sim. Seja qual for o nosso pensamento. Nada nos é negado, e, por isso mesmo, devemos estar atentos ao nosso desejar. Mais um motivo para querer repetir dias assim. São eles que salvam o mundo. É o amor que sempre, sempre, sempre potencializa a vida.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose. E eu fazia poesia. Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos. Cuido para que não sejam só memórias... Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta. Hoje são só deslumbramento...
das coisas que adoro...
Adoro gente sincera e inteligente, letras de música, libélulas e joaninhas. Amo minha filha, meus pais, família. Adoro a noite, o céu e o vento, filhotes de bicho, escrever, ler, falar de amor, gérberas, beijo na boca, inverno, edredon, risadas fora de hora, chá de erva doce, damasco, luzinhas de Natal o ano inteiro, manteiga sem sal, lilás, fadas, cheiro de chuva, meu quarto, dormir, bilhetinhos, Natal e aniversário. Adoro Chico, Clarice, Carpinejar, telefonemas inesperados, ser mulher, e mais um tanto de coisas... não necessariamente nessa mesma ordem...
Não tolero a falsidade velada que há por aí, e prefiro loucura à insipidez comportamental. Sou intuitiva e generosa, e só sei beijar com o corpo todo...
Mas em mim, o que gosto mesmo é que sei amar só por amar, desinteressadamente.
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
"Caminho meio gente, meio fada. Pé no além, outro na estrada."
Tenho um coração que aperta, e a única maneira de fazê-lo sossegar é permitir que as palavras lhe escorram... deixando-o assim, um pouco mais afrouxado...
Se quiser conhecer outro lado do Eucaliptos Na Janela, clique em cima da fotografia, e entre no Blog que fiz para minha pequena (numa despretensiosa tentativa de eternizar os doces momentos que vivemos juntas). É Bebela em Conta-Gotas...
E,como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...
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