Dói sim. Afinal, equilibrava-me entre febres e frios. Algumas coisas não podem ser mudadas. Nunca. Dói sim. É natural. Mas impressionava-me com a duração daquela dor.
Não eram choros sem proporção, músicas tristes e remedinhos para dormir. Era um instante. Desses de fechar os olhos e fazer um pequeno balanço. Prá muita gente pode ser besteira, mas é que sou feita de alegrias. E na dor, eu não sei... Não sei ficar. .
Se a felicidade é mesmo feita de pequenos instantes, alinhavados uns aos outros, como dissemos, e se é matéria rara, então ando com sorte, porque dia desses, a despeito da cidade lotada, do trânsito, das buzinas, da fumaça, dos motoboys enlouquecidos, e do relógio, pude viver um desses instantes. Ali, em meio ao caos da cidade grande, com tuas mãos em meu colo e Fernanda Porto cantando “Sentado a Beira do Caminho”, vivi uma dessas alegrias simples, que não precisam de rebuscamentos, declarações ou flores. Bastaram seus olhos, que alternavam entre abertos e fechados, como se assim pudessem administrar melhor o que era sonho e o que era realidade. Porque o bem querer é bonito assim, quando não precisa de legenda, quando a gente sabe que mesmo podendo durar só aquele instante, vale. Vale pela paz do momento, e porque multiplica em mim a fé nos pequenos tesouros.
Têm dias que acordo achando que fomos mesmo feitos um para o outro, que daríamos conta desse nosso amor, e que ainda teríamos todo o tempo do mundo para sermos felizes. Acho tudo isso, embora saiba que há esse enorme vale entre nós, que seria preciso outro tempo, outro cenário, outras condições para que tudo acontecesse. Noutros dias acordo achando que o melhor mesmo seria te esquecer, e faço tudo para me distrair e fingir que não existes. Mesmo assim não te esqueço. Talvez porque seja impossível esquecê-lo, ou, principalmente, porque não desejas que eu o faça, assim como eu também não. Então, enquanto não sei o que fazer, continuo a rotina dos dias. Resta-me apenas imaginar quem anda passeando por tua solidão...
O pensamento em suspensão... e eu cansada de fazer tantas perguntas e de imaginar mil possíveis respostas. Estava tudo ali, mas eu me enganava completamente. Não era preciso tanta explicação ! A vida lá fora flertando descaradamente comigo, e eu ocupada com tantos pensamentos. Às vezes é preciso relaxar, diminuir o ritmo, parar de querer controlar tudo ao redor. Deixar rolar. Descansar os sentimentos. Errar também é bonito. Afinal, o momento de certeza absoluta nunca chega. .
Foi minha primeira noite com elas. Tão simples, ali, dentro da bolsa. Sem um chaveiro charmoso ou qualquer outra coisa que as diferenciasse de tantas outras que já tive. Mas eram as chaves mais importantes da minha vida. E, engraçado, já segurei chaves importantes : as do primeiro armário na escola, do primeiro carro, do primeiro apartamento próprio, do cofre...
Mas são estas as que mudam a minha vida. Para sempre.
Amanhã bem cedo vou, com elas, abrir a porta da minha nova casa. Ainda vazia, sem um móvel sequer, mas paradoxalmente a casa mais habitada que já tive. Lá vão morar minhas verdades e meus sonhos. Todos. Minha doce Bebela, e eu. .
Você entrava no quarto que já foi nosso, e sentava na cama para me ver dormir. Seus olhos sabiam que eu não estava lá. Até mesmo aquele vazio era necessário.
Eu fingia dormir só para não ter que falar nada. O que mais poderia ser dito ? Porque naqueles instantes meus olhos não eram mais os mesmos.
Fomos solidões que nunca se viram. E naquelas noites você já me parecia um estranho.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose. E eu fazia poesia. Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos. Cuido para que não sejam só memórias... Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta. Hoje são só deslumbramento...
das coisas que adoro...
Adoro gente sincera e inteligente, letras de música, libélulas e joaninhas. Amo minha filha, meus pais, família. Adoro a noite, o céu e o vento, filhotes de bicho, escrever, ler, falar de amor, gérberas, beijo na boca, inverno, edredon, risadas fora de hora, chá de erva doce, damasco, luzinhas de Natal o ano inteiro, manteiga sem sal, lilás, fadas, cheiro de chuva, meu quarto, dormir, bilhetinhos, Natal e aniversário. Adoro Chico, Clarice, Carpinejar, telefonemas inesperados, ser mulher, e mais um tanto de coisas... não necessariamente nessa mesma ordem...
Não tolero a falsidade velada que há por aí, e prefiro loucura à insipidez comportamental. Sou intuitiva e generosa, e só sei beijar com o corpo todo...
Mas em mim, o que gosto mesmo é que sei amar só por amar, desinteressadamente.
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
"Caminho meio gente, meio fada. Pé no além, outro na estrada."
Tenho um coração que aperta, e a única maneira de fazê-lo sossegar é permitir que as palavras lhe escorram... deixando-o assim, um pouco mais afrouxado...
Se quiser conhecer outro lado do Eucaliptos Na Janela, clique em cima da fotografia, e entre no Blog que fiz para minha pequena (numa despretensiosa tentativa de eternizar os doces momentos que vivemos juntas). É Bebela em Conta-Gotas...
E,como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...
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