terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dona Perfeitinha...

O verdadeiro amor não se conhece por aquilo que exige,
mas por aquilo que oferece.
-Jacinto Benavente-

A menina era limpinha. Muito limpinha.
O cabelo sempre esticadinho, as meias brancas, os pés cheirosos. Os dentes escovados, as mãos lavadas.
Estudava sem reclamar, sempre boas notas, e não falava palavrão. Sempre de bom humor, pronta para agradar a quem fosse. A menina era perfeitinha. Muito perfeitinha.
Só não sei se era feliz.

A outra menina era do avesso.
O cabelo desgrenhado era moldura para um rosto vivo. Muito vivo. Roupinha básica, colares grandes, alegrias soltas.
Se pudesse vivia sem roupa, enfeitada só pelas fitinhas do Bonfim, que adorava. Andava descalça e o troféu da sua liberdade eram os pés estarem sempre pretos. Muito pretos.
Não havia no mundo riso mais lindo.
E mais honesto.

Lembro que Marcelo Gleiser, o físico, disse uma vez que não fossem nossas imperfeições ainda seríamos bactérias. Disse ainda que o Universo era feito de assimetrias e de desequilíbrios, e que era exatamente isso que nos tornava fantásticos.
Então, Dona Perfeitinha, me desculpe, mas deixo um imenso ‘salve’ para tudo o que nos tira dessa tão limitante linha de produção !
Salve !

Solange Maia

3 comentários:

  1. Um salve a imperfeição, aos pés sujos de quem dançou, sambou e girou pelo mundo a fora de pés descalços e coração aberto.

    ;)

    Sacudindo Palavras

    ResponderExcluir
  2. Faço parte do time dos pés pretos!!

    bjosss...

    ResponderExcluir
  3. Desde algun lugar me recuerda la canción " Vai Passar " de Chico Buarque...Y esa amiga de la foto ....me trae recuerdos de ternura, simpleza y lindura !!!!. Abrazos !!!!

    ResponderExcluir