domingo, 16 de março de 2014
o pedaço certo de mim...
Primeiro fui eu.
Agora era ele que namorava os
meus pés.
Resolveu tirar o esmalte. Segurou
um a um os meus dedos e envolveu-os com o algodão molhado sem desviar os olhos
de mim. A tinta vermelha dissolvida manchava a cama formando flores e salamandras. Nem
a toalha úmida e quente nos fez perder a conexão do olhar. Vendo que eu o via segurou
firme minhas pernas e com a boca foi desenhando desejos em mim.
Os pés, tão sensíveis a
pequenos toques, foram reagindo a tudo, à língua que deslizava por eles, e entre
cada dedo, onde ninguém tocava, à respiração que fazia cócegas na pele fininha
da curva, do arco, e ao beijo que molhava tudo.
Depois
foram as pernas, o joelho, as coxas. A virilha, o umbigo, a cintura. E ele sentou
na minha frente abrindo levemente a boca, fazia isso quando misturava no
sorriso o tesão do instante. Ri. Ele era sempre tão impossível de resistir. Misturava
alegria em tudo que fazia.
Acho que é por isso que pra
ele quero dar sempre o pedaço certo de mim.
Solange Maia
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