quarta-feira, 25 de maio de 2016
na outra margem...
Ela finalmente fechou
os olhos.
E isso representava
tanto.
Permitiu-se.
Entregou-se àquela pequena euforia sem reservas.
Descobriu
que a entrega precisava de sentido, de significado.
Só assim
ficava vazia de medos.
Ia sendo
conduzida pela água, o cabelo longo, disperso, deslizando enquanto desenhava
espirais que pareciam redemoinhos minúsculos enfeitando a superfície.
Ele sabia que ela
estava cansada de ser devorada pela tristeza e que precisava de um bom motivo
para voltar a acreditar, então, sem saber o que fazer, cantou no ouvido dela. Não
uma música inteira. Escolheu só as palavras pontuadas de afeição.
Ensinou-a a existir
dentro dos gestos.
Aos poucos ela foi
cedendo, os corpos amolecidos foram sendo atravessados por gemidos, sussurros e
palavras sem bordas.
Em um par de minutos
ela já queria ser perfume na pele dele.
E não estar
mais alheia aos afetos.
Ele soube
riscar um circulo na água em torno do corpo dela, e guardá-los ali.
Apresentou-a ao
bom silêncio.
E ela finalmente
fechou os olhos.
Ela ainda tinha sim, medo da quietude da água e de seus abismos, mas percebeu
que na outra margem
o amor podia
ser possível.
Solange Maia
(fotografia de Henri Cartier Bresson - ITALY - 1933)
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Lindo! Absolutamente Lindo! Bjs
ResponderExcluirLindamente belo
ResponderExcluirEstou sempre por aqui querida Sol! Vc escreve bem demais! Bjs
ResponderExcluirNa outra margem,
ResponderExcluiro amor está a espera,
de quem quer amar!
Beijo