quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

cansaços são passageiros...

Ela estava muito, muito cansada.
Cansada até das coisas que não acontecem. Mas tinha uma vida que pedia socorro para seguir em frente.
E não podia parar, embora desejasse muito poder mergulhar os pés em água florida, e torcer para que esse frescor subisse pelo corpo e pousasse em seu coração que precisava tanto sorrir. Ela precisava de um milagre.
Mas achava que nem acreditava mais neles.
Os milagres sobrenaturais e etéreos tinham ficado tão distantes...

De tão cansada fechou os olhos.
E, de repente, lá estava ela, a mãe solteira, criando seu filho no abandono do pai. E também as mães que são sozinhas mesmo na presença de seus companheiros. Criam seus filhos sabendo que a maternidade perfaz muito mais do que terem seus nomes num registro de nascimento. Sabem que a maternidade pressupõe acolhimento e desdenha absolutamente de documentos. Nem lembram o quanto vivem cansadas. E não percebem, mas enquanto esperam por um milagre, o fazem.

Então era isso, ela pensou, os milagres aconteciam na ação da sua busca.
Aconteciam no caminho.

Viu também o homem pobre e faminto, que tinha a solidão desenhada no olhar, mas quando diante de um naco de pão, sem nem titubear, alimentava com ternura primeiro o seu cão. Ele era outro milagre.
E o Nobel com quase 60 títulos, modesto diante do auditório lotado, falando baixo porque pessoas seguras sabem que não precisam dar autoridade aos seus ensinamentos. Ele compreende até mesmo quem o nega: todas as suas veredas são de paz. Seu despojamento era outro milagre.

Então talvez fosse por isso o seu cansaço, para que ela pudesse reconhecer as importâncias.
Para que voltasse a acreditar.
Para que descobrisse que cansaços são passageiros.
Mas o amor não é.
O amor é o próprio milagre.


Solange Maia

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