sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

soberana e atrevida...

A imagem pode conter: noite
Como se ela, por si só, não bastasse.
A morte, soberana e atrevida, traz à tona outras solidões.
Não dói só pela perda, pela irremediável finitude ou pela secura.
Dói pelo afago que não demos. Não somente em quem partiu. Por todos os afagos afogados na correria dos dias. Dói por escancarar nossas faltas, por dar à luz às sombras. Por parir nossas ausências.
.
Nessas horas nossas almas se perdem, e pedem, silenciosas, por qualquer conexão. Pedem por alguém que nos lembre de quem somos. Pedem por mais tempo, pedem outra chance, pedem perdão.
Pedem, mas nem sei se são ouvidas. O que foi, foi.
.
Acho que é porque quando uma vida cessa, cessam as chances. Sentimos pressa. E vazio. E saudade. E medo.
E tudo isso nos remete um pouco a quem se foi e um pouco a nós mesmos. A quem somos. A quem fomos.
.
E já foi.
É quando percebemos que o discurso devia ter virado gesto, o abraço precisava ter sido dado, a música precisa ter se tornado dança, a visita ter sido realizada, o telefonema feito, o amor confessado.
Não dá para deixar para depois.
A morte, soberana e atrevida, traz à tona uma única certeza.
Não existe depois.
Não. Não existe.
.
Solange Maia

Nenhum comentário:

Postar um comentário