
gosto mesmo é da dialética :
tudo se desenvolve pela oposição dos contrários !
gosto mesmo é da dialética :
tudo se desenvolve pela oposição dos contrários !
Disse que não.
Menti.
Faço-os mesmo quando não percebo.
Porque sou assim, de juntar pedaços, de nascer de novo.
Porque sei dar nova forma as minhas dores, sei o que fazer com a tristeza.
E, quem sabe um dia eu entenda porque sou feita de tantos renascimentos.
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Enquanto isso, vou descobrindo cores e formas no que estava entalado na garganta.
Vou juntando o que parecia improvável, criando vida.
É quando recolho minhas mágoas.
Quando começo a sorrir.
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Porque sei ser feliz,
e se as vezes tenho uma casa de cacos dentro de mim,
lembro que nunca nada é para sempre !
Um final de tarde e uma noite inteira.
É o que precisei para decidir que, se tudo deve ter um começo, um meio e um fim, então é chegada a hora de virar a página, de encerrar um ciclo. Começo então a te querer bem menos, a te desassociar desse amor bonito, a te enxergar, agora, já mais desfocado, assim, como alguém na paisagem.
Porque desse querer bonito, há de se rever medidas.
É como plantar ao contrário,
e ver ir encolhendo a flor e as folhas,
até que virem broto, e nem mesmo ele deixe de se retrair e voltar à terra, virar semente, e ali ficar.
Ao bel prazer do tempo, dos revezes e do destino...
E, se é assim que vou cuidar desse amor,
com esse “não estar” e um desdém elegante,
quem sabe agora eu não aprenda que o gostar é assim, muitas vezes começa sem querer, quase como uma metáfora...
Há quem ache que me alimento dos sonhos...
Mas é porque sou virada para dentro,
sou feita de um amontoado de silêncios,
sou a flor da pele,
e não temo deixar escorrer o amor que vai em mim...
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Só quem me sabe,
vê que alimento-me de um tanto de verdades,
do dia a dia, da realidade, do que me cerca,
afinal, é o que me levanta, o que me conduz.
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O problema é que às vezes transbordo,
então pareço ser só sentimental.
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Era eu do outro lado da linha... 3 dias atrás... na praia.
Porque como a pipa que flutua no ar, tenho metade de mim voando no azul,
mas a outra metade tenho bem fincada na terra...
E entre a pipa e o chão há tanto tempo...
há tanto fio...
Difícil aceitar a idéia de estar sem você.
Hoje e amanhã.
Sonho ainda com o dia em que estaremos frente a frente,
nem que uma última vez,
nem que para só compreender que realmente nos perdemos.
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Porque ainda hoje não sei lidar com a falta do seu olhar.
E parece estranho que eu ainda acredite que poderia ter sido lindo,
e que isso ainda dure em mim.
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Acho que gosto desta retórica : fantasiar como seria o hoje se tivéssemos escolhido outros caminhos.
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Mas, o que poderia ter sido, não conta.
Ninguém aceita essa moeda.
Nem eu.
Acho que, justamente porque nunca fiz parte de nenhum padrão, sempre tive grande empatia pelos que vivem à margem (?), pelos “desencaixados”, pelos “diferentes”. Rendo-me frequentemente ao gosto agridoce dos flagelados, dos que tendem ao abandono, dos excluídos. Porque é desse desconforto que vi nascer tanta solidariedade, compaixão e coragem.
E gosto disso.
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E, se nosso mundo é capaz duma violência silenciosa, que tantas vezes vem disfarçada de brincadeira, mas que machuca, segrega, e põe a parte... temos que saber que padronizar pode até parecer adequado, mas logo vai gerar um grande desconforto.
Porque isolar é ferramenta dos covardes.
É subtrair, sempre.
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E bonito nessa vida é saber acolher o pedaço da gente que não pode ser integrado, que não cabe em nenhum lugar comum.
Bonito mesmo é saber que é justamente nas diferenças que somos tão iguais.
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Porque, sinto muito, mas minha melhor metade é esta mesmo, a desencaixada.
Tenho medo dos dias em que estou solta.
De quando posso ser o que bem entender,
De quando gozo, desprendida, de todos os meus revezes....
porque em dias assim nem mesmo o que digo já me pertence.
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Logo eu, que vivo essa urgência pela liberdade,
que preciso desse ar inteiro que me rodeia,
que tenho tanto que me estender, logo eu...
E pensar que quando tenho disso tudo,
já nem sei bem o que fazer.
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Porque quanto mais livre estou, mais sinto que queria ser aprisionada. É quando precisava ter minha vida numa estufa tépida que me guardasse destes meus fortes ventos...
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É...
Nessas horas precisava tanto ter as raízes fincadas numa história qualquer.
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Imagem : OBRA Esfera (em vidro soprado, fios de cobre e penas de papagaio)
de Adriana Banfi
É o que me equilibra nessa vida : a permanência dessa minha alma quente, que atravessa o limite de quem sou, e ainda hoje me causa espanto.
É o que me põe em constante erupção.
Porque de vez em quando preciso sentir meu sangue ebulir, preciso acreditar nas minhas coragens, e rodar confiante, batendo os pés no chão de madeira seca só para fazer lembrar do que pulsa lá dentro.
Preciso estar feminina, à flor da pele, flamejante.
Pronta.
É minha herança.
Tenho mesmo uma predestinação a arder.
Afinal, meu ofício é ser mulher...
Já fui sim menina-caipira.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose.
E eu fazia poesia.
Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos.
Cuido para que não sejam só memórias...
Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta.
Hoje são só deslumbramento...
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.”
- A.Cícero -
E, como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...