quinta-feira, 29 de julho de 2010

eu não acredito

não acredito em amores perfeitos, em verdades absolutas, em beleza de passarela, nudez sem entrega, mulheres muito tímidas, em flores que não murcham, lençóis imaculados, em gente sem pecado, dinheiro fácil, e em qualquer coisa que dure para sempre...


gosto mesmo é da dialética :

tudo se desenvolve pela oposição dos contrários !

domingo, 25 de julho de 2010

porque sei ser feliz...

(fragmento de mosaico feito por mim...)
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Você me perguntou se ainda faço mosaicos.

Disse que não.

Menti.

Faço-os mesmo quando não percebo.

Porque sou assim, de juntar pedaços, de nascer de novo.

Porque sei dar nova forma as minhas dores, sei o que fazer com a tristeza.

E, quem sabe um dia eu entenda porque sou feita de tantos renascimentos.

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Enquanto isso, vou descobrindo cores e formas no que estava entalado na garganta.

Vou juntando o que parecia improvável, criando vida.

É quando recolho minhas mágoas.

Quando começo a sorrir.

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Porque sei ser feliz,

e se as vezes tenho uma casa de cacos dentro de mim,

lembro que nunca nada é para sempre !

quinta-feira, 22 de julho de 2010

desse "não estar"...

Um final de tarde e uma noite inteira.

É o que precisei para decidir que, se tudo deve ter um começo, um meio e um fim, então é chegada a hora de virar a página, de encerrar um ciclo. Começo então a te querer bem menos, a te desassociar desse amor bonito, a te enxergar, agora, já mais desfocado, assim, como alguém na paisagem.

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Porque desse querer bonito, há de se rever medidas.

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É como plantar ao contrário,

e ver ir encolhendo a flor e as folhas,

até que virem broto, e nem mesmo ele deixe de se retrair e voltar à terra, virar semente, e ali ficar.

Ao bel prazer do tempo, dos revezes e do destino...

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E, se é assim que vou cuidar desse amor,

com esse “não estar” e um desdém elegante,

quem sabe agora eu não aprenda que o gostar é assim, muitas vezes começa sem querer, quase como uma metáfora...

sábado, 17 de julho de 2010

desejo vadio...

Em dias frios não sei te querer como devia.
Porque se desassocio o amor do desejo só sei te pensar junto a mim,
com um desejo vadio, sem frestas nem vãos,
de poros bem rentes, desses de corpos que se precisam,
que atraem-se despudoradamente, risonhos.
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Em dias frios caibo nesses cenários insólitos, até rudes,
onde mal se esconde a tensão sexual que habita o ar.
E são nas horas de luzes escassas e de mãos insolentes,
que sei que nascem os desejos, só do contemplar,
quando na pele há um leve torpor,
uma embriaguez...
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Porque em dias frios todo olhar guarda uma cilada...
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Não quero remeter ao filme, SÓ à cena.
Porque já nem sei pensar em outra, que hoje traduza tão bem os meus quereres, com esses sépias, a volúpia, o que antecede, o toque... o desejo coagulado, denso... um misto de amor, sensualidade, romance, desejo.
aff...


quinta-feira, 15 de julho de 2010

do meio termo que há entre a pipa e o chão...

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Há quem ache que me alimento dos sonhos...

Mas é porque sou virada para dentro,

sou feita de um amontoado de silêncios,

sou a flor da pele,

e não temo deixar escorrer o amor que vai em mim...

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Só quem me sabe,

vê que alimento-me de um tanto de verdades,

do dia a dia, da realidade, do que me cerca,

afinal, é o que me levanta, o que me conduz.

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O problema é que às vezes transbordo,

então pareço ser só sentimental.

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Era eu do outro lado da linha... 3 dias atrás... na praia.

Porque como a pipa que flutua no ar, tenho metade de mim voando no azul,

mas a outra metade tenho bem fincada na terra...

E entre a pipa e o chão há tanto tempo...

há tanto fio...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

o que poderia ter sido, não conta !

Difícil aceitar a idéia de estar sem você.

Hoje e amanhã.

Sonho ainda com o dia em que estaremos frente a frente,

nem que uma última vez,

nem que para só compreender que realmente nos perdemos.

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Porque ainda hoje não sei lidar com a falta do seu olhar.

E parece estranho que eu ainda acredite que poderia ter sido lindo,

e que isso ainda dure em mim.

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Acho que gosto desta retórica : fantasiar como seria o hoje se tivéssemos escolhido outros caminhos.

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Mas, o que poderia ter sido, não conta.

Ninguém aceita essa moeda.

Nem eu.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

a vertigem do querer

Mas quando não tenho teu rosto para fitar,
preciso encontrar um modo de estar só,
porque assim posso cerrar meus olhos e silenciar.
É meu modo de guardar em mim tua presença.
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Não sou de correr da saudade,
mas nesses dias que te tenho longe,
trago um vão na alma, uma vertigem,
um desassossego no querer.
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E nem lembrar de todos os nossos sonhos,
de todas as nossas promessas,
de tudo que há por vir... me faz aquietar.
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É, nosso amor parece tão suave,
que ninguém sabe a força que tem...

terça-feira, 6 de julho de 2010

isolar é ferramente dos covardes...

Acho que, justamente porque nunca fiz parte de nenhum padrão, sempre tive grande empatia pelos que vivem à margem (?), pelos “desencaixados”, pelos “diferentes”. Rendo-me frequentemente ao gosto agridoce dos flagelados, dos que tendem ao abandono, dos excluídos. Porque é desse desconforto que vi nascer tanta solidariedade, compaixão e coragem.

E gosto disso.

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E, se nosso mundo é capaz duma violência silenciosa, que tantas vezes vem disfarçada de brincadeira, mas que machuca, segrega, e põe a parte... temos que saber que padronizar pode até parecer adequado, mas logo vai gerar um grande desconforto.

Porque isolar é ferramenta dos covardes.

É subtrair, sempre.

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E bonito nessa vida é saber acolher o pedaço da gente que não pode ser integrado, que não cabe em nenhum lugar comum.

Bonito mesmo é saber que é justamente nas diferenças que somos tão iguais.

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Porque, sinto muito, mas minha melhor metade é esta mesmo, a desencaixada.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

da liberdade que não me cabe...

Tenho medo dos dias em que estou solta.

De quando posso ser o que bem entender,

De quando gozo, desprendida, de todos os meus revezes....

porque em dias assim nem mesmo o que digo já me pertence.

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Logo eu, que vivo essa urgência pela liberdade,

que preciso desse ar inteiro que me rodeia,

que tenho tanto que me estender, logo eu...

E pensar que quando tenho disso tudo,

já nem sei bem o que fazer.

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Porque quanto mais livre estou, mais sinto que queria ser aprisionada. É quando precisava ter minha vida numa estufa tépida que me guardasse destes meus fortes ventos...

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É...

Nessas horas precisava tanto ter as raízes fincadas numa história qualquer.

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Imagem : OBRA Esfera (em vidro soprado, fios de cobre e penas de papagaio)

de Adriana Banfi

quinta-feira, 1 de julho de 2010

e se a alma é quente...

Mesmo nos dias mornos trago por dentro uma chama votiva.

É o que me equilibra nessa vida : a permanência dessa minha alma quente, que atravessa o limite de quem sou, e ainda hoje me causa espanto.

É o que me põe em constante erupção.

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Porque de vez em quando preciso sentir meu sangue ebulir, preciso acreditar nas minhas coragens, e rodar confiante, batendo os pés no chão de madeira seca só para fazer lembrar do que pulsa lá dentro.

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Preciso estar feminina, à flor da pele, flamejante.

Pronta.

É minha herança.

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Tenho mesmo uma predestinação a arder.

Afinal, meu ofício é ser mulher...