terça-feira, 4 de março de 2014
saudade é o upgrade do desejo...
Era aniversário dele, e
estávamos chegando de Inverness. Eu tinha escolhido um roteiro sobre trilhos, atravessando
fronteiras e fusos horários, conectando as paisagens deslumbrantes ao nosso
desejo. Ambos nos faziam perder o fôlego. Havia tempo que queríamos estar
ali, não necessariamente em Inverness ou no trem, mas em qualquer lugar onde
fossemos só nós dois.
Assim que pôde ele fez como
sempre fazia, só que mais livremente. Malicioso atravessou a cabine
com os olhos e foi logo tirando a camisa. Era quase como se me tocasse. Sem nem pensar tirei a
camisa também. Na gente os espaços se encaixavam com naturalidade... era tanta
vontade, tanta fome que qualquer gesto solto causava uma infinidade de
palpitações. Sem mise-em-scéne, sem nada, éramos sempre reféns ofegantes de nós
mesmos.
A superfície gelada me fez perceber a urgência dos nossos corpos, senti
o peso dele me fazendo grudar na janela, me fazendo tremer de vontade. O mundo passava
lá fora, o vagão, as pessoas, a Escócia, a neve, os vales, as florestas, a cidade
antiga, as ovelhas, mas nada, nada importava mais.
Éramos só bocas, beijos,
pele, nuca, sexo. Éramos pleno verão.
O trem parou. A viagem chegou
ao fim.
E algumas vezes parecia ser só isso.
Então eu pensava em
fugir.
Mas
desistia sempre.
De desistir.
Porque ficava
travada na garganta a palavra saudade.
Solange Maia
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Solange, você sabe lidar muito bem com as palavras... Gosto de sua escrita. Parabéns!
ResponderExcluirSolange, é sempre um prazer chegar ao seu blog e se deparar com textos tão bons quanto esse! Menina que texto maravilhoso!!!
ResponderExcluirUiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii adoroooooooooooooo estes teus textos
ResponderExcluirSaudade que lembra as sensações da "quarta-feira de cinzas"... Provocativo seu texto!
ResponderExcluirAbraço,
Araceli
Venha nos visitar também:
www.pedradosertao.blogspot.com.br
http://www.youtube.com/watch?v=Vhz_dm7ZErE
ResponderExcluirAbrazo !!!
Desistir de desistir. Ser pleno verão com a Escócia por testemunha. Quanta poesia...
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