quinta-feira, 14 de julho de 2016
o mistério era um buraco que a sugava...
Haverá sempre o inesperado.
Viver é um pouco isso.
Pisar num chão que nem sempre está lá.
A madrugada quente pintava de vermelho o
rosto da gente naquele quintal.
Um falatório gostoso, o céu muito escuro e o
cheiro do cuscuz tornavam aquela atmosfera ainda mais aconchegante.
Olhando profundamente nos olhos dela, e
tornando o momento tão mais sério, ele afirma: - Não sei se você sabe, mas você
já conhecia Maria. De outra existência.
Ela
sabia.
Sabia
sem saber explicar.
Maria
tinha aqueles olhos que ela não esqueceria.
Talvez
tivessem vivido mil vidas antes desta. Talvez tenham se encontrado em cada uma
delas.
E
isso podia significar tanta coisa que a madrugada quente tomou outro rumo. A
partir daí, ela pensou em despedidas, em morte, em possíveis encontros, na
ativação de portais invisíveis, e em outros mistérios que ainda não conhecia.
Mas que intuía.
Talvez um ‘adeus’ fosse sempre um ‘até
breve’. Achava mesmo que tudo tinha origem no mesmo infinito.
Atordoada,
longe daquele instante, pensava em como mesmo tinha ido parar ali.
Esses
arcanos do destino sempre a intrigaram, eram buracos negros onde ela mergulhava
em busca de respostas que nunca vinham. Queria saber. Queria entender se
existiam, ou não, coincidências. Eram muitas coisas entrelaçadas que, sem
mágica, teriam uma chance ínfima de acontecer. Sabia que eram encontros
importantes, e ela desejava tanto saber os porquês.
O
mistério era um buraco que a sugava desde menina.
Domingou
e ela ainda longe dali.
Voltou
aos olhos dele e, imediatamente, ao velho quintal.
A
fé devia ser isso, e pensou nas palavras que ele sempre repetia: uma aceitação,
um mergulho.
Um
mergulho no escuro.
Talvez
ela até entendesse parte do milagre, mas, definitivamente, só parte dele.
Nesses
mistérios, a única segurança está na dúvida.
Solange Maia
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