quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Maria da rua...

Maria fazia uma coisa com as mãos.
Segurava nas dele com firmeza, criando um elo, um vínculo, sem qualquer hesitação.
E permanecia nele até que o tempo sumisse.
A dor não. A dor, ela sabia, ainda estava lá.

O lugar era pequeno, muito pequeno, no rodapé sálvia, alfazema, alecrim e manjericão. Folhas quentes perfumando o ambiente.
Eram para proteção.
Algumas velas, ventania só lá fora.
Ali dentro tudo era densidade e calor.

Maria ecumênica, que veste branco e tem sempre os pés descalços. Maria generosa, que faz canjica e que abre as portas de sua casa.
Maria que é mãe, que é abrigo, que é densa.
Maria que é doce, que é abraço e que é coragem.
Maria das dores e das solidões.
Maria da rua.
Maria que eu nunca vi, mas sei que é boa.
Maria de fé, do cais e do caos.

Quietude. Até que, de repente, um arfar rompe o silêncio seguido por um choro doído.
Era Maria, ampla, levando embora aquela dor.
Era sempre assim. E dava sempre certo.
Ela fazia alguma coisa com as mãos.

Ave, Maria. Salve tua graça.
E rogai por nós.

Solange Maia
08/12/2015

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