quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
então o amor esfria?
Hoje, lá perto de casa, um casal chamou minha atenção. Ele
caminhava muitos passos na frente dela. Havia um vale imenso entre os dois,
qualquer um podia ver. Essa indiferença me entristeceu. Onde foi que isto
aconteceu? Ela tão bonita e ele tão interessante. Em que parte da relação eles
pararam de se desejar? Porque ainda iam juntos ao mercado? E juntos na vida?
Lá dentro, nos cruzamos mais uma vez, ele perguntando se
deviam levar pêssegos ou ameixas, ela erguendo os ombros sem mover os olhos,
como quem diz, sem precisar de palavras, que pouco importava.
Já não havia paladar, nem vontade de experimentar, não diferenciavam
mais os sabores. Um pêssego ou uma ameixa, tanto fazia, já não lembravam mais
do gosto de um, ou do outro, não havia mais mimos ou dengos, não se descascava
a fruta, enfeitava o prato ou aquecia o leite.
Tudo morno.
Mas em algum tempo haviam sido apaixonados, sentiram
ternuras e arrepios, escreveram bilhetes, acariciaram-se, dormiram de
conchinha, contemplaram paisagens no bom silêncio, riram deles mesmos,
encontraram alegrias nas coisas singelas, esperaram o outro para jantar,
tomaram vinho, fizeram planos, passaram perfume, levaram toalha seca na saída
do banho, separaram o travesseiro mais macio para uma noite de sono especial,
levaram café na cama e escreveram recadinhos no espelho do banheiro.
Beijaram-se demoradamente, posso apostar.
Então como viraram aquilo que eu estava vendo?
Não havia mais nem admiração, nem amizade. O sentimento
havia mudado, era evidente. Acreditavam não ter mais idade para febres ou
paixões. Talvez tenham crescido em direções diferentes, talvez tenham
negligenciado a relação, se acomodado na certeza de que as coisas eram assim
para todo mundo e que, o que valeria a partir de agora, era saber que tinham
alguém. E pronto.
Como assim?
A vida pode ser tão melhor...
E o amor precisa (e merece) ser cuidado, estimulado, desejado.
É atemporal. É delicioso.
E dá trabalho! Dá muito trabalho.
Porque morre no descuido, na preguiça, na maldita certeza do
amanhã e, sobretudo, na indiferença branda que muita gente gosta de confundir
com ‘efeitos do tempo’.
Não acredito nisso.
Dê àquele casal novos parceiros... e duvido que ele andasse
tão à frente dela, ou que ela nem respondesse mais às perguntas dele.
O amor é uma das melhores coisas do mundo, mas não aceita
indiferença.
Nela, morre.
Morre.
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Bela reflexão
ResponderExcluirVc surpreende sempre, Sol
ResponderExcluirBjs.Sol
Aprendi que só o amor não basta para manter uma relação , as vezes o amor acaba e o casamento continua, as vezes o casamento acaba e o amor continua , como você disse é preciso trabalho duro para ficar com a terceira via , de qualquer maneira desde as borboletas no estômago até o nó na garganta o amor ainda vale a pena . Parabéns pelo lindo livro , beijo Paulo.
ResponderExcluirEste 2017, " Seguindo num tren azul "....Abrazo. Enrique
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