terça-feira, 6 de março de 2018

na casa dos anjos...


Os medos são traidores.
E eu queria tanto sair daquele exílio.
Estendi os braços em silêncio, minhas mãos pedindo ajuda, como quase nunca faço. Fui criada para ser forte, dessas mulheres que estão sempre na linha de frente, que resolvem sozinhas os seus problemas, e que nunca incomodam ninguém.
Mas tenho percebido que essa maneira solitária de lidar com a dor, muitas vezes atrapalha mais do que ajuda.
Não controlo tudo. Tantas coisas que estavam completamente fora dos meus planos aconteceram a despeito de mim.

Ele estendeu as mãos de volta, segurando firme nas minhas.
Sussurrou em meus ouvidos que não se chega ao destino sem enfrentar toda a travessia. Olhou firme e docemente em meus olhos e continuou: - E, filha, não alimente o medo. Nunca. Senti como se um fio de energia percorresse o meu corpo.
Aquele era um lugar sagrado onde eu aprendera a acolher as palavras com muito respeito, sabia que me eram entregues como ferramentas, e que deveriam ser usadas para a manutenção da minha paz e do meu bem-estar.

Naquele lugar mora um mistério, é onde o invisível trabalha, onde o milagre fica escondidinho no profano de propósito, só para que possamos exercitar nosso olhar e nossas intuições. Ali aprendemos que o sagrado permeia a vida da gente o tempo todo, e que existe apenas um caminho: o do coração. O sagrado estará sempre lá, onde o nosso coração estiver.

Ainda segurando minhas mãos, outro par de palavras me foi entregue: abandone o orgulho e aprenda a pedir. E para isso não há atalhos. Peça com fé. É com a fé que o medo, esse terrível instrumento de dominação, se transforma em ferramenta de libertação. O medo fica com medo de quem não tem medo. Essa é a cura. É assim que nascem asas.

Somente depois desse ensinamento ele olhou para mim, beijou a palma das minhas mãos e foi embora.
Também fui, mas, incrivelmente, deixei para trás boa parte das mágoas do meu passado diáfano, deixei também a preocupação imensa com o futuro flutuante e vaporoso, que ainda nem aconteceu. Agora uma sensação de estar mais presente para o que está no presente tem tomado conta de mim.
Me despedi de muitas vulnerabilidades ali, naquela casa de anjos...
E saí grata mais uma vez. Desta, por poder olhar para o medo com menos medo!
E por me permitir pedir... Salve!


 Solange Maia 
(em gratidão ao PS e ao TR)

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