Era um dia cinzento de vento fininho. Gotículas geladas se desprendiam do mar e umedeciam toda a orla. Goa, de cócoras, olhava-a profundamente nos olhos: - Pega impulso e vai. Mais do que pedalar o importante é a atitude, seja firme e corajosa. Estou aqui, não tenha medo, você vai conseguir. E a menininha saiu pedalando. Sorrindo e olhando para frente. Como se fosse fácil. A fé é tão linda e tão misteriosa. Foi assim que Indira, em apenas 2 minutos, aprendeu a andar de bicicleta. . O tempo correu e a neta nem havia se dado conta. Goa devia ter perto de 80 anos. Só o que ela sabia era que os últimos dias tinham tido um ritmo estranho, tudo parecia mais desconectado e mais lento. Mudaram as urgências. Não existiam respostas para tantas perguntas. E mesmo que isso não fosse nenhuma novidade para eles, ainda assim ela estava assustada. Indira pensava em como acontecimentos inesperados colocavam as pessoas diante de imensas janelas pelas quais podiam ver, mais uma vez, as paisagens de todos os lugares em que já haviam estado. Estavam lá todas as crianças que já tinham sido, os quintais de suas infâncias, o velho pavão, o cheiro de gengibre, a cítara, as histórias, os encontros, os encantos, os almoços de domingo, os vazios, os portões, todos lá, enfileirados. Todos. Assim como a bicicleta na praia de Morjim. . Sentada ao lado dele, olhando profundamente em seus olhos, Indira disse: - Pega impulso, Goa. Mais do que tentar o importante é a atitude, seja firme e corajoso. Estou aqui, não tenha medo, você vai conseguir. Mas, bem lá no fundinho, sabia que com gente grande as armadilhas podiam ser maiores. Então fechou os olhos e rezou baixinho para que ele também pedalasse. Em 2 minutos. . Solange Maia
Era um dia cinzento de vento fininho. Gotículas geladas se desprendiam do mar e umedeciam toda a orla. Ele, de cócoras, olhando-a profundamente nos olhos: - Pega impulso e vai. Mais do que pedalar o importante é a atitude, seja firme e corajosa. Estou aqui, não tenha medo, você vai conseguir. E ela saiu pedalando. Sorrindo e olhando para frente. Como se fosse fácil. A fé é tão linda e tão misteriosa. Foi assim que Bebela, em apenas 2 minutos, aprendeu a andar de bicicleta.
O tempo correu e nem sei bem se eu vi. Só o que sei é que os últimos dias têm tido um ritmo estranho, tudo parece mais desconectado e mais lento. Mudaram as urgências. Não existem respostas para tantas perguntas. E mesmo que isso não seja nenhuma novidade para nós, ainda assim me assusto. E penso em como acontecimentos inesperados nos põem diante de imensas janelas pelas quais podemos ver, mais uma vez, as paisagens de todos os lugares em que já estivemos. Estão lá todas as crianças que já fomos, os quintais da nossa infância, o velho cachorro, os cheiros, as músicas, as histórias, os encontros, os encantos, os almoços de domingo, os vazios, os portões, todos lá, enfileirados, todos. Assim como a bicicleta na praia.
Sentada ali, ao lado dele, olhando profundamente em seus olhos, eu disse: - Pega impulso, pai. Mais do que tentar o importante é a atitude, seja firme e corajoso. Estou aqui, não tenha medo, você vai conseguir. Mas, bem lá no fundinho, sei que com gente grande as armadilhas podem ser maiores. Então fecho os olhos e rezo baixinho para que ele também pedale. Em 2 minutos.
Nos idos dos anos 70 morei numa cidadezinha rural, de ruas tortas, de terra batida e casinhas de madeira com seus enormes quintais. Eu tinha pouco mais de cinco anos, e é uma das minhas lembranças mais antigas.
Lembro do piano da escola, dos enormes besouros, do poço no fundo de casa, da Igrejinha, do capeletti in brodo, do frio pungente e dos eucaliptos gigantes.
Com eles papai fazia celulose. E eu fazia poesia. Sem nem saber.
É que ficava flutuando o olhar sobre aquelas toras de madeira castanha por horas sem fim. Desta maneira tocava com os olhos o que para mim era a felicidade : um tanto de verde, de vento, e o perfume que dava significado ao ar.
Hoje, a despeito de ser (estar) urbana e cosmopolita, vejo eucaliptos daqui da janela de casa, de onde escrevo. E, de alguma forma, estão sempre em meus caminhos. Cuido para que não sejam só memórias... Ontem, quando comecei a escrever o blog, eram uma pergunta. Hoje são só deslumbramento...
das coisas que adoro...
Adoro gente sincera e inteligente, letras de música, libélulas e joaninhas. Amo minha filha, meus pais, família. Adoro a noite, o céu e o vento, filhotes de bicho, escrever, ler, falar de amor, gérberas, beijo na boca, inverno, edredon, risadas fora de hora, chá de erva doce, damasco, luzinhas de Natal o ano inteiro, manteiga sem sal, lilás, fadas, cheiro de chuva, meu quarto, dormir, bilhetinhos, Natal e aniversário. Adoro Chico, Clarice, Carpinejar, telefonemas inesperados, ser mulher, e mais um tanto de coisas... não necessariamente nessa mesma ordem...
Não tolero a falsidade velada que há por aí, e prefiro loucura à insipidez comportamental. Sou intuitiva e generosa, e só sei beijar com o corpo todo...
Mas em mim, o que gosto mesmo é que sei amar só por amar, desinteressadamente.
Tudo aqui é verdade. Pelo menos é a minha verdade.
É minha maneira ritmada de perceber a vida.
Quero ver “através”, quero desconstruir o óbvio,
Quero celebrar a vida.
E depois... depois quero sentir os eucaliptos.
"Caminho meio gente, meio fada. Pé no além, outro na estrada."
Tenho um coração que aperta, e a única maneira de fazê-lo sossegar é permitir que as palavras lhe escorram... deixando-o assim, um pouco mais afrouxado...
Se quiser conhecer outro lado do Eucaliptos Na Janela, clique em cima da fotografia, e entre no Blog que fiz para minha pequena (numa despretensiosa tentativa de eternizar os doces momentos que vivemos juntas). É Bebela em Conta-Gotas...
E,como o “para sempre” se assusta fácil, tenho fotografado para nada perder...
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