Não houve música, nem tampouco todas as
velas que espalhei pela casa. Nem lençóis de linho, vinho, ou banho demorado. Não
houve cenário. Não. Não coube.
Fomos nossa própria canção. O rastro de
fogo e luz iluminando toda a casa. Fomos a cama, o colo, a manta, o ventre, o
vento e a água...
Fomos os passos cegos nos levando a
qualquer chão, as roupas abandonadas no caminho, a boca vermelha de tanto
beijar, as mãos percorrendo tudo, tudo, tudo. Fomos cada canto um do outro, a atmosfera, a ventania, os ângulos girando e nos deixando tontos, tontos, tontos.
E, num instante, não havia nem quarto, nem
cama, nem nada. Só nós dois.
A luz acesa nos presenteando com cada mínimo
gesto de prazer desenhado no rosto do outro, na boca, nos olhos, na pele. Nenhum sorriso foi desperdiçado.
Nada. Nada. Nada.
Fomos essa noite mágica onde tudo queríamos enxergar, onde tudo queríamos sentir, onde tudo queríamos dar. Fomos as minhas pernas descansando sobre a curva
das tuas costas, e, finalmente, fomos o que guardamos na gaveta do
criado mudo e chamamos de ‘próxima vez’...
Minha mão em concha ainda guarda o teu
cheiro.
E assim, completamente entorpecida por
essa intimidade tão bonita, já não quero mais escrever.
Não quero mais fazer poesia.
Depois de ontem, só o que quero é fazer amor.
Solange Maia