domingo, 29 de abril de 2012

fêmea faminta

Dirijo pela tarde cinzenta com uma urgência secreta.
Entro num café. Peço um expresso duplo e um maço de cigarros.
Eu não fumo.
Pouco importa, preciso de alguma referência adulta.
É que, desde que mudei minha vida, tenho sido muito mais mãe do que mulher. Tenho estado tantas vezes dentro da vida dela, e fora da minha, que já nem sei se lembro de alguma coisa imprópria e gostosa, dessas indecenciazinhas que me lembrem da idade que tenho.
Não me encaixo no papel de fêmea faminta, não é isso, mas sou dos versos ariscos, das palavras voluptuosas, lascivas, sou da inquietação que sobe como serpente pelas minhas pernas, lânguida, invadindo cada poro, cada vão, afinal, preciso ser olhada como mulher.
Brinco com o isqueiro em minhas mãos.
Ando tão sensorial, tão complicada...
Ajeito o casaco meio fora de moda e lembro que uma coisa é fato: minhas roupas combinam muito mais no chão.
Pronto.
Acendi o fogo.
.

4 comentários:

  1. nossa, esse veio de dentro. ameiii.

    bjosss...

    ResponderExcluir
  2. rsrsrs eu venho ler seus textos na certeza de que vou ler coisa boa...e hoje terminei com um sorriso...coisa boa ler este post..

    Parabéns Solange, como sempre, parabéns por escrever textos tão profundos, tão reais, tão intensos, tão verdadeiros...e, principalmente, porque seis textos, embora saiam de vc, eles parecem te deixar..ganhar outra vida, falar outros desejos, a minha opinião é que eles se confudem em leitores atentos e desavizados, em rumores perdidos, gritos sufocados, valores forçados, desejos cambiados....ah seus textos...eles tomam forma de humanidade....

    Beijos com admiração

    Nana
    Afetos e Ofertas

    ResponderExcluir
  3. Ah Sol,

    você escreve, ou melhor, você descreve a maioria das mulheres. Descreve e escreve com todo o sentimento que alguém pode ter e que anseia ter.
    Você traz palavras verdadeiras e sentimentos encantadores.

    Beijos

    ResponderExcluir