sexta-feira, 29 de junho de 2012

sozinha na cama...


Sozinha na cama desenho o amanhã com um amor sereno, estável, terno.
Mas só por dois minutos, depois desenho mais.
É que nessas horas sou dos meus desejos, que não me poupam nem de mim.
Desenho então um amor de verdades escancaradas, de palavras que são unhadas perdendo-se nas minhas costas, dos desejos líquidos mais obscenos do mundo. 
Quero o instante submerso do mergulho, o silêncio da água.
E que o meu amor mantenha o olhar úmido sobre mim...
que se encante com o meu beijo,
com o meu desejo...
.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

meu primeiro haicai...

pouco importa
que jogo vamos jogar
amar é brincar


Rubem Alves diz que HAICAIS são miniaturas de peso insuportável...
E, no fundo, falar de amor, nunca é uma fala inédita,
mas como tenho tido com quem brincar, então faço graça,
viro síntese, e me curvo diante do bem querer.
Palavras são mesmo dispensáveis.
.

domingo, 24 de junho de 2012

casei...


A gente casou num beijo.
Assim, sem ninguém ver.
Vinho, romãs e cama.
O vestido, no chão.
Uma flor no cabelo.
Um cheiro de pimenta, a nossa música, estrada de terra, o ar, o mar...
Nossos corpos : as únicas testemunhas.
A única prova.

sábado, 23 de junho de 2012

Entra agulha. Sai agulha.


Ela senta na poltrona perto da janela e perde o olhar na paisagem.
Um olhar morno e sossegado, feito de cansaço e conformismo.
Na falta de alguma coisa que a tire daquele estado, pega seu bordado, e liga a televisão.
Entra agulha. Sai agulha.
Na tela um filme romântico, mas só o que ela faz é bordar de vermelho o amor que nunca viveu...
.

terça-feira, 19 de junho de 2012

não seguro essa ideia de "no futuro"...

Acho que não sou como a maioria das pessoas, que imaginam o futuro construindo um cenário com casa, jardim, cachorro, mobília, companhia, festas, e um tanto desses sentimentos plenos e planos. Sim, porque nesse tipo de construção não há curvas, problemas, desencontros ou desencantos.
Eu não.
Eu envelheci muito. A primeira vez foi aos 17 anos. A última aos 44. E nesse intervalo outro tanto de vezes. Tenho muita idade, desse tipo que a maioria não vê.
Aprendi a viver o hoje.
Adoro o momento presente, toda sua inteireza e sua complexidade.

Prá mim o futuro é só um tempo verbal, uma abstração, uma ideia metafísica. Um rótulo. 
E, sinto muito, mas rótulos são para geleias !
.

domingo, 17 de junho de 2012

no quintal da minha vida...

Foi no quintal que aconteceu.  
Ao acaso... como acho que devem ser as coisas bonitas.
E agora penso no colorido das roupas estendidas no varal, tudo tão simples.
Penso no vento quente, que empurrou o sol pra dentro da gente, na maneira inesperada e doce como você surgiu, na música que, brincando, prometeu cantar pra mim, na duração dos nossos intervalos, e de tudo ficando deliciosamente desarrumado.
Parecia manhã de sábado.
Quando vi já era domingo.
Engraçado ninguém ter notado... é que o sol estava maior, a aldeia agora tinha um rio, e o céu permanecia misteriosamente azul mesmo em dias cinzas.
Ou era eu, que estava ali, me apaixonando delicadamente ?

(para clicar em cima, ouvir, e apaixonar-se....)



sexta-feira, 15 de junho de 2012

disso que não tem nome...


O homem dormindo no trem, fala comigo.
A mulher estendendo roupa no varal, fala comigo.
E também o menino que puxa a carrocinha carregada de papelão, e a mulher excessivamente maquiada, saindo do elevador. O cachorro abandonado pelo dono, na chuva, a criança vendo o balão que lhe escapou das mãos, e a menina tímida, afastada do grupo, no intervalo da escola, falam comigo. O velho procurando moedas nos bolsos, e o filho esperando o pai que ele sabe que não vem...
A muleta colorida, enfeitada com laços, fala comigo.

Sou feita disto.
Dessas coisas que me comovem.
Há tanto que as palavras não sabem traduzir, que às vezes acho que sou feita é desses silêncios tão absolutos, e tão cheios de significados...


(fotografia clicada ao acaso, no restaurante Fogo de Chão... 
dessas lindezas que tive a sorte de não deixar de registrar)

domingo, 10 de junho de 2012

cobertas e descobertas...


Seu braço passa debaixo da minha nuca, no vão exato da curva do meu pescoço.
E é nesse instante em que o seu corpo se aninha, afetuosamente, ao meu, quando já não há mais fronteiras, 
é exatamente aí, que te pertenço.
Não há pudores e nem pecados.
Não há temores e nem passados.

Com você gosto das cobertas, e das descobertas.
Nosso abraço é um laço, no espaço, um descompasso...  
E tem protegido meu sono, que agora surge devagarzinho.
É ninho... é ninho...
.
.
(imagem da Andante Associação Artística)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

porque gostar dá medo...


Os olhos de um, tímidos, pediam os olhos do outro.
As mãos escondidas agarravam qualquer coisa que pudesse firmar o tremor leve, mas evidente. Era uma vontade inconfessada de ser aceito, de que desse certo. Vontade de pedir que o outro ficasse, e que a despeito de todas as improbabilidades e incertezas do futuro, e mesmo não havendo garantia de nada, mesmo assim que o outro ficasse.
Mas nenhum dos dois conseguia quebrar o silêncio.
O tempo ia passando sem ser sentido, só o que eles conseguiam sentir era medo.
Talvez o principal nunca fosse dito.
Era um risco.
E o silêncio.
De repente, uma voz atropela os minutos :
- Eu tento. Se você me der a mão.
.

domingo, 3 de junho de 2012

do que eles não sabiam...

 

menina já nem era tão menina, e devia saber dessas coisas, mas não.
Foi ele quem contou da flor pequenininha que morava dentro da flor maior, que na verdade não era flor, era folha.
Ela foi ao jardim, só para conferir.
Enquanto ia, pensava no tanto de coisas que não sabia.
E essa era a graça.
Por que será que suas fraquezas eram o que ela tinha de mais forte ?

O menino, que também já nem era tão menino, devia saber que o não saber era uma chave.
Dessas que abrem as histórias de desvelar.
Por que ele, que dizia que não sabia dar nós, 
já estava dando.
.
(BOUGAINVILLE - a flor dentro da "flor" 
fotografia clicada debaixo da minha janela...)
.